Sydney Sweeney é o principal (mas não o único) motivo para ver 'Imaculada'
Um bom filme de terror é uma espécie de rito de passagem em Hollywood. Antes de "Friends", Jennifer Aniston começou sua carreira no trash "O Duende". Patricia Arquette tem um Oscar no currículo, mas já encarou Freddy Krueger no terceiro "A Hora do Pesadelo". "Advogado do Diabo" colocou Charlize Theron no mapa. E nem preciso mencionar Jamie Lee Curtis...
Agora é a vez de Sydney Sweeney. "Imaculada" pode não ser sua estreia no gênero, mas certamente é a primeira vez que ela tem controle total em um projeto escolhido a dedo. Seu primeiro teste para o papel foi em 2014, mas o filmes não saiu da gaveta. Com o sucesso da série "Euphoria", e já à frente de sua própria produtora, Sydney adquiriu os direitos do roteiro e reservou para si o papel de protagonista.
A produção modesta, rodada com econômicos US$ 9 milhões, ganhou status de lançamento classe A ao estampar o nome da atriz no cartaz. Diferente da maioria dos filmes de terror religiosos que parecem aportar nos cinemas a cada semana, "Imaculada" até sugere um caminho familiar, mas logo se revela uma empreitada muito mais alucinada, em que os sustos lentamente dão espaço à incredulidade e ao absurdo. Ponto para o filme!
Sydney é a noviça Cecília, convertida ao cristianismo quando, ainda criança, se afoga num lago congelado, "morre" por sete minutos e se convence que Deus a trouxe de volta por algum propósito divino. Esse chamado a leva a um convento no interior da Itália, em que jovens freiras cuidas de irmãs enfermas, já no fim da vida. Como em 10 entre 10 clausuras religiosas do cinema, logo fica claro que as coisas não são exatamente o que parecem.
As dúvidas de Cecília se transformam em desespero quando, após ter pesadelos recorrentes com figuras sinistras, ela descobre estar grávida, mesmo sem nunca ter sido tocada por um homem antes. Alardeada como uma nova Virgem Maria, a jovem desperta tanto devoção quanto fúria em suas irmãs de hábito. À medida que sua barriga cresce, o sentimento de estar entregue a forças malignas aumenta exponencialmente.
É mais ou menos nesse ponto que "Imaculada" faz uma curva imprudente na estrada do terror religioso e despeja outros gêneros em sua mistura. Tem espaço para cientistas malucos, artefatos que fariam Indiana Jones se morder de inveja, laboratórios ocultos e um plano tão original quanto completamente alucinado. Em meio ao caos, e com o diretor Michael Mohan sofrendo para impedir que a trama se esfarele, é Sydney Sweeney quem mantém a casa em pé.
"Imaculada" segue, claro, a cartilha do cinema de terror moderno. Mohan, que dirigiu a atriz anteriormente em "The Voyeurs" e foi escolhido a dedo por ela para esse filme, trabalha com sombras e espaços, com silêncios sepulcrais e sustos repentinos. Nada, contudo, soa gratuito - boa parte graças à dedicação de sua chefe.
Sydney equilibra doçura e uma certa ingenuidade, e gradualmente escala sua personagem para desespero e puro instinto de sobrevivência. Tal qual Mia Farrow em "O Bebê de Rosemary", ela reflete em suas expressões a urgência de quem percebe sua contagem regressiva chegando ao fim. A transição física e emocional, que culmina num clímax não indicado para os fracos de estômago, é testamento ao talento da atriz.
O cinema de terror segue como um dos investimento com a melhor relação custo-benefício para manter o barco da indústria flutuando. Mas não basta amontoar meia dúzia de sustos fáceis e correr para o abraço: é preciso injetar personalidade para que um filme se destaque entre a manada. Para que ele possa ser um farol. Se "Imaculada" cumpre essa função, o mérito integral é de Sydney Sweeney. E, sim, dá até para perdoar "Madame Teia".
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