Roberto Sadovski

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Opinião

'Assassino Por Acaso': Glen Powell é o astro que Hollywood precisa!

"Quero ser você." Tom Cruise esperava que Glen Powell pedisse algum conselho quando perguntou a seu colega no elenco de "Top Gun Maverick" o que ele planejava para seu futuro em Hollywood. Em vez disso, o astro ouviu uma resposta sincera e, em troca, revelou alguns segredos de sua própria trajetória, provavelmente a mais bem sucedida do cinema moderno.

Glen Powell, por sua vez, prestou atenção. "Assassino Por Acaso" é mais um passo, bem planejado e executado, para que ele possa de fato pleitear seu espaço no Olimpo hollywoodiano. É um filme saboroso, simpático, em que os tons mais sombrios do texto são equilibrados com sua presença solar, que confere à produção leveza, senso de humor e, principalmente, humanidade.

Talvez seja isso que o cinemão precise com certa urgência: um ator com carisma, talento e star quality inegáveis para liderar uma nova geração que possa renovar o ambiente. Vivemos um hiato em que a indústria se tornou dependente de marcas, mas é impossível nutrir uma agenda cinematográfica saudável tão e somente com super-heróis. Histórias originais, por outro lado, precisam de um farol para instigar o público, e é aí que a figura do astro de cinema ainda se faz necessária.

"Assassino Por Acaso" é uma ótima vitrine para Powell brilhar. Dirigido por Richard Linklater, com quem ele trabalhara em "Jovens, Loucos e Mais Rebeldes", o filme traz uma mistura de thriller e comédia que acentua todos os predicados do ator. O melhor paralelo que consigo traçar é com "Irresistível Paixão", em que Steven Soderbergh reinventou George Clooney e Jennifer Lopez como par romântico improvável em uma fita policial.

Glen Powell em 'Assassino Por Acaso'
Glen Powell em 'Assassino Por Acaso' Imagem: Diamond

Aqui, Powell faz dupla com a igualmente espetacular Adria Arjona. Ele é Gary, professor universitário que engorda o orçamento com um trabalho peculiar para a polícia: ele finge ser um assassino de aluguel e ajuda a prender as pessoas que eventualmente o contratam. Para fazer seu trabalho de forma mais eficiente, Gary cria uma dúzia de "personagens" diferentes, assassinos sob medida para cada "cliente".

A coisa sai dos trilhos quando ele conhece Madison (Adria Arjona, claro), que busca escapulir de um casamento tóxico. Ao aconselhar a moça a desistir de apagar o cônjuge canalha, Gary termina se envolvendo - mesmo que, para ela, ele seja de fato um assassino de aluguel. Um assassinato bem real, contudo, complica ainda mais a situação da dupla. O filme, então, passeia com habilidade por diferentes tons, sempre com Powell à frente sem perder o prumo.

Além de ser o protagonista, Glen Powell também assina "Assassino Por Acaso" como co-roteirista e produtor. Ao contrário de atores que Hollywood fracassou em emplacar como astro - olá, Jai Courtney! -, ele tratou de tomar as rédeas de sua carreira e tem escolhido seus trabalhos a dedo. Prova que os conselhos do sensei Cruise surtiram efeito.

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A temperatura sobe em 'Assassino Por Acaso'
A temperatura sobe em 'Assassino Por Acaso' Imagem: Diamond

É o caso da comédia romântica "Todos Menos Você", em que ele dividiu a cena com Sydney Sweeney - outra estrela em franca ascensão em Hollywood. O senso comum ditaria um lançamento em streaming, mas a dupla de protagonistas ajudou a aumentar a aura em torno do filme, chegando a sugerir bastidores quentes ao longo da produção. O público prestou atenção, e o que seria mais uma comédia romântica boboca escalou para um sucesso de mais de US$ 200 milhões, decuplicando seu orçamento.

O caso de "Assassino Por Acaso" evidencia ainda mais a gravidade do estado das coisas em Hollywood e a necessidade de nutrir nomes como Glen Powell. Nos Estados Unidos, ao contrário do que acontece no Brasil, o filme será lançado direto em streaming. "Os estúdios parecem ter desistido de filmes para adultos", lamentou o diretor Richard Linklater. Azar o deles.

Powell, claro, precisa jogar o jogo, e equilibra uma obra deliciosamente autoral como "Assassino Por Acaso" com um produto corporativo nababesco: mês que vem ele está à frente do elenco de "Twisters", continuação/reinvenção do filme-catástrofe que se tornou fenômeno em 1996. Em uma temporada do verão americano marcada por reações mornas a grandes filmes, algo me diz que uma nova caçada a tornados, com personagens bem rascunhados e tecnologia de ponta para criar o espetáculo, vai dar bom.

Richard Linklater dirige Adria Arjona e Glen Powell em 'Assassino Por Acaso'
Richard Linklater dirige Adria Arjona e Glen Powell em 'Assassino Por Acaso' Imagem: Diamond

Não que Glen Powell vá cruzar os braços para ver o resultado. Trabalhando no cinema desde que tinha 15 anos, quando fez sua estreia em "Pequenos Espiões 3: Game Over", o ator de 36 anos prepara como protagonista, roteirista e produtor a série "Chad Powers" para a TV e molha os pés no cinema em comédia ("Huntington"), drama ("Monsanto") e ficção científica (ele deve encabeçar o remake de Edgar Wright para "O Sobrevivente", pancadaria oitentista com Arnold Schwarzenegger).

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Vale apontar que essa agenda, abarrotada e ambiciosa, é papo para o amanhã. Se a futurologia for furada e a ascensão de Glen Powell for brecada em "Assassino Por Acaso", ainda estamos no lucro. Na pior das hipóteses, o cinema ganha um thriller sexy e inteligente, dirigido com clareza e bom humor, ancorado por um par de performances nunca menos que hipnóticas. Glen Powell, até segunda ordem, é o cara!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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