Com Eddie Murphy afiadíssimo, 'Um Tira da Pesada 4: Axel Foley' é um barato
Eddie Murphy é provavelmente o astro que mais protagonizou um "retorno à boa forma" em Hollywood. "Os Picaretas"? Murphy nunca esteve tão bem! "Dreamgirls"? Ah, Murphy está de volta! "Roubo nas Alturas"? Blockbuster na certa! "Meu Nome É Dolemite"? Opa, Eddie reaparece e dessa vez merece um Oscar!
A verdade é que o ator nova-iorquino de 63 anos nunca esteve fora de cena. De astro do primeiro time a protagonista de fitas policiais e aventuras para toda a família, ele desenhou uma carreira de altos e baixos sem nunca perder sua verve hiperativa. Havia, contudo, uma lacuna que o próprio Eddie buscava, ao longo dos anos, reparar: recuperar, em um longa-metragem, seu personagem-assinatura, o detetive de polícia Axel Foley. Et voilà!
A princípio, "Um Tira da Pesada 4: Axel Foley" sugere mais uma "continuação-legado" que existe para alimentar a máquina da nostalgia corporativa. Esse sentimento evapora logo nos primeiros segundos do novo filme, quando a emblemática "The Heat Is On" embala nosso reencontro com Axel.
Longe de ser uma vitrine estéril para o passado, o novo "Beverly Hills Cop" ressurge como uma comédia de ação sólida e eficaz, com senso de humor e de perigo recalibrados.
O motivo pelo que a fórmula funciona da mesma forma que em 1984 é o mesmo: Eddie Murphy. Se o ritmo da nova aventura é por vezes engessado e o texto demora um pouco a engrenar, o astro faz com que tudo aterrisse em pé.
Existe prazer genuíno em seu olhar. Eddie veste o manto de Foley com o mesmo charme histriônico que ele exalava há 40 anos, quando apresentou o personagem —e que parecia apagado há 30 anos quando o vimos pela última vez.
Para todos os efeitos, "Um Tira da Pesada 4" é um filme do novo século concebido, tanto em escopo quanto em estrutura, como uma produção dos anos 1980. Murphy e o diretor Mark Molloy resistem à tentação de "atualizar" a marca: não há necessidade em reinventar a roda se a engrenagem é tão bem azeitada. Ou seja, nada de espetáculo em grande escala, nada de pirotecnia, não é "Bad Boys" ou "John Wick". E nem precisa ser.
A receita aqui é corrupção policial, tráfico de drogas e ação entre amigos. Ainda atuando como policial em Detroit, Axel Foley retorna a Beverly Hills para procurar o parceiro Billy Rosewood (Judge Reinhold), desaparecido quando investigava o assassinato de um policial. ]
É a oportunidade não só para reencontrar John Taggart (John Ashton), agora chefe de polícia, mas também rever sua filha, Jane (Taylour Page), com quem tem um relacionamento tempestuoso. Claro que relações familiares e antigas amizades logo se entrelaçam com o caso.
Axel é forçado a uma parceria caótica com o detetive Sam Abbott (um Joseph Gordon-Levitt em perfeita sintonia com Murphy) e entra na mira de Cade Grant (Kevin Bacon, claramente tendo férias pagas), figurão do Departamento de Polícia de Beverly Hills que pode ter o dedo em toda essa conspiração. Ou seja, para Axel Foley é um dia normal em Hollywood.
Guardadas as devidas proporções, "Um Tira da Pesada 4" dialoga com outra sequência tardia: "Top Gun: Maverick". Tal qual o piloto interpretado por Tom Cruise, o tempo foi rígido com Axel Foley, um policial de imenso talento, mas que deixou sua personalidade irredutível emperrar sua carreira e sua vida. Sem arrependimentos, apenas tocando um dia de cada vez.
O hiato de décadas, por outro lado, é aliado desse "Beverly Hills Cop", trazendo o conforto de visitar um velho amigo e descobrir que vocês ainda se divertem com as mesmas piadas. Tal qual Axel Foley, Eddie Murphy não esconde as marcas do tempo e mostra um lado mais sensível, ressaltado pelo drama familiar. Nesse sentido, o novo filme transborda o que falta a muitas produções de ação modernas: coração.
São predicados que fazem de "Um Tira da Pesada 4" o melhor da série desde o primeiro, um milagre costurado por Martin Brest que trouxe humor —e riscos- - de verdade em uma combinação que não deveria funcionar, mas funcionou. Aqui, o diretor Mark Molloy não tenta recuperar a dinâmica do peixe fora d'água do primeiro filme e faz seu melhor para ser invisível. Sem o talento de Brest ou o apuro visual de Tony Scott, ao menos ele não pesa a mão como John Landis.
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Quero receberEddie Murphy é, por óbvio, o MVP da empreitada. É uma satisfação ver a turma reunida —o que inclui Paul Reiser e até Bronson Pinchot—, com o astro fazendo a máquina funcionar sem demonstrar um pingo de ego.
Existe leveza em sua interpretação, resultado de sua total confiança em um trabalho bem feito. Murphy sabe, afinal, que Axel Foley é seu Indiana Jones, seu Rocky, é o personagem pelo qual ele será lembrado.
Talvez por isso ele tenha finalmente reencontrado seu mojo, relembrando ao público os motivos de ele ter se tornado um dos maiores astros do planeta em primeiro lugar. "Um Tira da Pesada 4: Axel Foley" mostra que, décadas depois, Eddie Murphy ainda é incomparável.
E pensar que o filme foi concebido originalmente como uma fita de ação para Sylvester Stallone, que achou uma ideia mais bacana fazer "Cobra". Jogada de gênio, Sly!
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