Scarlett Johansson brilha em romance na era espacial em 'Como Vender a Lua'
Em um cenário em que impera o cinema-espetáculo, "Como Vender a Lua" é uma anomalia. Um filme romântico, para adultos, que flerta com o drama e o humor sem esticar nenhuma das cordas. O tipo de história à moda antiga que, embora costurada com esmero, não busca nenhuma reflexão, não traz nenhuma urgência. O objetivo aqui é deixar a alma leve.
Essa despretensão é abraçada sem hesitação e com elegância pelo diretor Greg Berlanti. Embora seja ancorado em acontecimentos históricos, o filme é uma fábula que percorre caminhos familiares ao gênero: casal se conhece de forma fofa - o tal meet cute do jargão cinematográfico -, passam por provações externas e internas e, por fim, percebem que não podem viver um sem o outro.
O sucesso de histórias com essa estrutura depende exclusivamente da química de seus protagonistas. "Como Vender a Lua" acerta em cheio nesse quesito, com Scarlett Johansson e Channing Tatum como a água e o óleo que, em um cenário excêntrico, descobrem seus pontos em comum enquanto acertam as contas com suas próprias imperfeições. Se charme pudesse ser engarrafado e vendido, os astros já teriam uma aposentadoria gorda!
Na Nova York dos anos 1960, quando as mulheres encontravam sua voz na sociedade para além da família margarina, Kelly Jones (papel de Scarlett) é uma publicitária navegando com sucesso em um mundo quase que exclusivamente masculino. Ela é convocada por um agente do governo, Moe Berkus (Woody Harrelson), para uma missão nobre: ir para Cabo Canaveral, na Flórida, e "vender" a Nasa como produto, assegurando a simpatia da opinião pública com os gastos galopantes da corrida espacial.
A tarefa se mostra complicada com a resistência de Cole Davis (Tatum), diretor de lançamento da Apollo 11, em transformar a missão lunar em um outdoor gigantesco - e seus astronautas em astros pop. A situação que já era tensa se complica ainda mais quando Moe, empolgado com a possibilidade de transmitir o voo ao vivo pela TV, encarrega Kelly de produzir uma versão falsa do pouso na lua em estúdio - "É uma disputa política com a Rússia e não podemos arriscar a vergonha pública", diz o araponga ianque.
"Como Vender a Lua" tem ritmo supersônico, empilhando elementos narrativos que só não despencam por conta da condução acertada de Berlanti. Ele sabe o risco de misturar um recorte tão emblemático da história com um romance açucarado e acerta ao não abraçar nenhum extremo. O filme não é, afinal, sobre a corrida espacial ou sobre as teorias da conspiração que orbitam o tema. Não é "Os Eleitos" ou "O Primeiro Homem".
Sua ambição, portanto, é como fantasia romântica despojada. Sem a intenção em criar uma nova propriedade intelectual. Sem disposição para propor conceitos inovadores. Apenas retroceder há tempos mais simples, quando ir à Lua representava o auge da realização humana, ou quando ter dois astros estampados na marquise justificava o ingresso do cinema. Quem diria que um dia isso seria revolucionário?
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