Roberto Sadovski

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Opinião

'Alien: Romulus' compensa falta de ideias com o mais brutal terror espacial

"Alien: Romulus" não é um filme. É uma coletânea de greatest hits. Uma seleção de melhores momentos capturados ao longo da série e remixados aqui com habilidade e reverência. Não existe uma única ideia original no filme de Fede Alvarez, mas o homem sabe como criar clima, imprime ritmo como poucos e disfarça suas deficiências com muito estilo.

Não que a série seja palco para lapidar grandes ideias. Seus dois únicos filmes dignos de nota, "Alien, o Oitavo Passageiro" e "Aliens, o Resgate", partiam de premissas muito simples que se agigantavam pelo talento visual e narrativo de seus realizadores, respectivamente Ridley Scott e James Cameron.

Ter uma protagonista bem definida também possibilitou uma conexão emocional genuína com a plateia: Ripley, defendida à perfeição por Sigourney Weaver.

O uruguaio Alvarez, que assina os bons "A Morte do Demônio" e "O Homem nas Trevas", optou pelo caminho seguro. Com zero ambição para expandir a mitologia —o que nos livra de novos "Prometheus" ou "Alien: Covenant"—, ele retornou ao tom da produção original, um filme de casa mal assombrada espacial, e partiu dele para construir a espinha dorsal de sua história.

No centro está Rain (Cailee Spaeny), que sobrevive em uma colônia de mineiros nos rincões do espaço ao lado de Andy (David Jonsson), androide programado para agir como seu irmão. A vida no lugar é miserável, com colonos trabalhando até a morte para a poderosa corporação Weyland-Yutani —destino dos pais da jovem.

Rain sonha com o Sol escondido atrás da atmosfera espessa e vê esse futuro esmagado pela burocracia que a mantém presa à superfície.

Cailee Spaeny tem um encontro fortuito em 'Alien: Romulus'
Cailee Spaeny tem um encontro fortuito em 'Alien: Romulus' Imagem: 20th Century Studios

A possibilidade de partir vem com Tyler (Archie Renaux), seu ex-namorado, que compartilha a existência de uma estação espacial abandonada na órbita da colônia. O lugar pode guardar câmaras criogênicas, ferramenta essencial para viagens espaciais de longa duração, que possibilitariam a fuga para um sistema planetário menos opressor.

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Tyler, ao lado de sua irmã Kay (Isabela Merced), do primo Bjorn (Spike Fearn) e da companheira deste, Navarro (Aileen Wu), pretendem invadir a estação e se apossar das câmaras. Para isso, eles precisam de Andy.

É na estação espacial que "Romulus" expõe sua vocação para minar o melhor de "Alien" e de "Aliens".

Do primeiro vem o despreparo da equipe para enfrentar uma ameaça absolutamente brutal e desconhecida na forma do Xenomorfo, criatura que aqui tem laços estreitos com os eventos do filme de Ridley Scott. Do segundo, Alvarez empresta o fetiche pelo hardware e a militarização dos protagonistas quando o perigo se multiplica.

"Romulus" só esfria quando coloca na mistura, sem a menor necessidade, recortes de outros exemplares menos festejados da série. Em especial "Prometheus" (a trama tem um desvio que busca dar propósito às criaturas) e "Alien: A Ressurreição" (o clímax divisivo mira na culminação do medo pela violação física, mas acerta em uma bizarrice difícil de engolir).

Cailee Spaeny e David Jonsson tentam sobreviver a 'Alien: Romulus'
Cailee Spaeny e David Jonsson tentam sobreviver a 'Alien: Romulus' Imagem: 20th Century Studios

O cinema de gênero pode sugerir uma leitura descomplicada —ele faz rir, evoca medo etc.— mas é enriquecido por uma observação mais atenta das entrelinhas. Com "Alien", Ridley Scott criou um verdadeiro tratado sobre como construir o filme de terror perfeito.

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Mas ele também explora temas como violação sexual e a perda de autoridade sobre o próprio corpo, em um cenário em que homens e mulheres estão igualmente vulneráveis. Nosso inconsciente decodifica a mensagem e amplifica o terror. Coisa de gênio.

Existe em "Romulus" uma sugestão de subtexto, com a exploração dos trabalhadores promovida pela Weiland-Yutani e a subsequente busca por uma "bala de prata" para fugir desse sistema.

Não por acaso, Rain e seus companheiros são jovens, não conformistas, dispostos a colocar a vida em jogo ao não aceitar um destino pré-determinado. Essa ideia, entretanto, nunca é aprofundada e fica flutuando na trama como desculpa.

São imperfeições que Fede Alvarez compensa ao recapturar o que fez da série tão especial e única: o clima claustrofóbico e a intensidade quase física que suas imagens evocam. "Alien: Romulus" não economiza na tensão intolerável que antecede a violência nem recua no banho de sangue promovido pela criatura.

Esse retorno às raízes sufoca o risco de novas ideias, mas, como em toda coletânea de greatest hits, existe conforto em atravessar terreno familiar. E isso, por duas horinhas de terror espacial, basta.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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