Roberto Sadovski

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Reportagem

Como o diretor Carlos Saldanha recriou o clássico 'Harold e o Lápis Mágico'

"É como trocar uma roda com o carro em movimento!" O diretor Carlos Saldanha resume com uma analogia simples como é fazer um filme com um grande estúdio. Aumentam as responsabilidade, aumenta a pressão, mas a constante que faz o responsável pelo novo "Harold e o Lápis Mágico" manter a paixão pelo trabalho é a mesma: a vontade de contar uma boa história.

Foi nesse espírito que recebi Saldanha para bater um papo sobre essa nova etapa em sua carreira, quando ele estreia no comando de um longa-metragem em live action depois de se estabelecer como gigante na animação. Ele dirigiu dois "Era do Gelo", seguidos de dois "Rio" e adaptou um clássico em "O Touro Ferdinando". Quando o estúdio Blue Sky, sua casa por quatro três décadas, encerrou suas atividades, ele viu uma oportunidade.

"Eu perdi minha casa para fazer animação com o fim do Blue Sky", conta Saldanha. "Mudar o foco e trabalhar com live action trouxe conforto." O diretor trouxe a disciplina de anos em animação para a nova mídia, repetindo o processo de visualizar o roteiro com storyboards antes de ir ao set. Nesse tempo, ele ajudou a desenvolver as séries "Cidade Invisível" e "How to Be a Carioca" antes de ser chamado para comandar "Harold".

O projeto para adaptar o clássico infantil escrito em 1955 por Crockett Johnson circulava em Hollywood há algumas décadas, tendo passado por Henry Selick e Spike Jonze antes de pousar nas mãos de Saldanha. "Eu conhecia a história, li para meus filhos", lembra. "É um livro muito simples e muito lúdico, mas também muiuto curto."

Zachart Levy traça sua imaginação em pleno ar em 'Harold e o Lápis Mágico'
Zachart Levy traça sua imaginação em pleno ar em 'Harold e o Lápis Mágico' Imagem: Sony

O desafia, então, foi expandir a história sem perder sua essência. No papel, Harold é um bebê que, com um giz de cera mágico, cria tudo que sua imaginação possa bolar. O filme abraça a passagem do tempo, quando Harold se torna adulto e, em busca de seu criador, rompe as barreiras e termina em nosso mundo: "É uma história sobre imaginação, sobre não perder essa fagulha quando nos tornamos adultos".

Trazer Zachary Levy, que ficou mais conhecido depois de protagonizar a aventura de super-heróis "Shazam", foi fundamental para não perder essa essência. "Ele é o sujeito sem noção em sua inocência", explica. "Eu não podia perder a empatia que o leitor tinha com Harold quando bebê para essa sua versão adulta. A pegada do Zachary foi justamente trazer essa inocência."

"Harold e o Lápis Mágico" trouxe um novo desafio para Saldanha com o trabalho de efeitos especiais. "Eu tinha uma noção do que queria, que era reproduzir o traço do lápis em pleno ar, mas em três dimensões", continua. "Mas perdi mais tempo convencendo os atores de como o visual funcionaria do que com os próprios efeitos."

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Depois de trabalhar com animação e de adaptar um clássico infantil, Carlos Saldanha se prepara para um trabalho que, embora traga outro tipo de história, mantém os temas que lhe atraem criativamente. Ele vai adaptar, no Brasil, o livro "Cem Dias Entre Céu e Mar", de 1984, em que o navegador Amyr Klink narra a travessia que ele fez do Oceano Atlântico em um barco a remo.

Carlos Saldanha em entrevista exclusiva para o UOL
Carlos Saldanha em entrevista exclusiva para o UOL Imagem: Reprodução

"O coração da história é uma travessia - emocional, de crescimento, de planejamento, do imprevisivel", empolga-se. "É uma mensagem direta e simples que me interessa." São temas que podem ser traçados em uma frase, como "o touro que não queria brigar, mas cheirar as flores", "um homem que atravessa o oceano para se encontrar" ou mesmo "uma criança que não quer perder sua imaginação". "O bacana é pegar o coração dessa história e montar em uma estrutura de cinema", diz.

Em paralelo, Saldanha desenvolve também uma adaptação de "Os Saltimbancos", clássico do teatro brasileiro assinado por Chico Buarque. "Não teri um orçamento americano, mas um orçamento honesto para uma produção feita no Brasil", explica. "Não posso pensar em algo de US$ 70 milhões de dólares aqui. O projeto mais mais próximo talvez seja a série do 'Senna'."

Quando vou para o campo da especulação, Saldanha é categórico em sua paixão por personagens do quadrinista Maurício de Sousa, em especial um certo dinossauro verde. "Me interessa resgatar algumas de suas histórias e trazer a mesma excelência de uma produção americana." Ele completa: "Eu tenho um Horácio em minha cabeça, e acho um conceito super simples sobre crescimento, sobre emoção. É clássico!".

Rodar no Brasil pode não trazer os recursos de uma superprodução hollywoodiana, e nem suas demandas. Mas Saldanha enxerga mais similaridades do que diferenças. "Fazer 'Harold' como um primeiro filme em live action trouxe confiança mas também responsabilidade", continua.

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"Mas no Brasil é a mesma coisa, com a vantagem de ter o sentimento de estar em casa, o que ajuda muito", exmplo. "O segredo é manter a equipe feliz." Ele sorri antes de encerrar com o essencial: "E aqui a gente tem um arrozinho com feijão que não troco por nada!".

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