Brilhante na ribalta, James Earl Jones foi muito além de Darth Vader
Antes de conhecer James Earl Jones, uma geração inteira ouviu James Earl Jones. Foi em 1977, quando "Guerra nas Estrelas" mudou para sempre a história do cinema. De quebra, apresentou o vilão que se tornaria, até hoje, a régua da vilania na cultura pop: Darth Vader.
Vader era, claro, uma combinação de talentos. David Prowse lhe deu corpo. Bob Anderson assumiu o comando nas lutas de sabre de luz em "O Império Contra-Ataca". Nos anos mais recentes, Hayden Christensen assumiu o manto do Lorde Sith. Um elemento, contudo, foi constante: o vozeirão profundo e retumbante de James Earl Jones.
Não é exagero dizer que, sem Jones, não haveria Vader - ou pelo menos não da forma como ele transcendeu os filmes para se tornar ícone. George Lucas pensou em Orson Welles quando rodou "Guerra nas Estrelas", já que a voz de Prowse, longe do tom grave do personagem, não atendia à visão do diretor. Welles seria uma opção cara e por demais reconhecível, e Lucas bateu o martelo com Jones.
A PAIXÃO PELOS PALCOS
Não que Lucas tenha "descoberto" o ator. Quando a saga espacial ancorada por Luke Skywalker chegou aos cinemas, James Earl Jones já tinha mais de duas décadas de carreira, iniciada nos palcos no estado de Michigan em meados dos anos 1950. Depois de um começo auspicioso como Otelo, de Shakespeare, não tardou para o ator se relocar em Nova York, fazendo seu nome na Broadway como um dos grandes intérpretes dos textos do bardo.
Embora seu primeiro papel no cinema tenha sido sob as asas de Stanley Kubrick - ele foi um piloto em "Dr. Fantástico", de 1964 -, foi ainda no teatro onde ele lapidou sua arte, que alcançou o ponto mais alto em 1967 quando Jones assumiu o papel do boxeador Jack Jefferson em "A Grande Esperança Branca". O ator recebeu o Tony pelo papel, e o defendeu mais uma vez em 1970 em sua adaptação para o cinema. Foi seu primeiro papel como protagonista, que lhe valeu uma indicação ao Oscar.
Nos anos seguintes, James Earl Jones dividiu seu considerável talento entre teatro e cinema, gravitando do drama à comédia, sempre com interpretações superlativas, marcadas por sua notável presença cênica e, claro, pela voz que transmitia comando e poder. Darth Vader ganhou não só voa, mas também seu espírito.
PARA ALÉM DA GALÁXIA DISTANTE
A primeira encarnação de "Guerra nas Estrelas" foi encerrada em 1983 com "O Retorno de Jedi" - curiosamente, primeiro da série em que Jones aceitou ser creditado como "voz de Darth Vader". Ele acreditava que seu trabalho não era uma performance, e sim um efeito especial, mas a resposta dos fãs à sua contribuição para a criação de Vader o fizeram capitular.
Enquanto sua voz passava a habitar o zeitgeist, Jones se fazia notar em uma série de filmes que mostraram sua imensa versatilidade. Ele foi o vilão Thulsa Doom, talvez a única pessoa do planeta capaz de chamar Arnold Schwarzenegger de "garoto" em "Conan, o Bárbaro".
Comandou a nação africana de Zamuda na comédia "Um Príncipe em Nova York", com Eddie Murphy. Acreditou em Kevin Costner em seu "Campo dos Sonhos". E trabalhou com Jack Ryan versão Alec Baldwin ("A Caçada ao Outubro Vermelho") e Harrison Ford ("Jogos Patrióticos" e "Perigo Real e Imediato").
O CÍRCULO DA VIDA
Curiosamente, uma nova geração o descobriu mais uma vez por meio da sua voz, já que James Earl Jones assumiu o papel de Mufasa no clássico moderno "O Rei Leão" em 1994. Mais uma vez, a voz poderosa definiu um personagem, com o registro ameaçador de Vader abrindo espaço para gentileza e nobreza. Ele repetiu o papel na versão digital feita por Jon Favreau em 2019. Nesse período o ator não aliviou no trabalho, focando em papéis na TV e nunca deixando o teatro em segundo lugar.
Darth Vader, contudo, terminou como um legado que ele abraçou de bom grado. Depois de retornar a dublar o personagem na série animada "Star Wars: Rebels" e no filme "Rogue One", Jones se despediu do vilão com três palavras em "A Ascensão Skywalker". Na série "Obi-Wan Kenobi", sua voz como Vader foi alcançada pela tecnologia, sintetizada digitalmente com a utilização de todas as suas gravações para a saga.
James Earl Jones se despediu desse plano para se tornar um com a Força aos 93 anos. Antes, porém, ele garantiu seu lugar na eternidade. Ao final de 2022, ao cravar sua aposentadoria como Darth Vader, o ator cedeu contratualmente os direitos perenes de sua voz para o personagem, garantindo seu legado para o infinito. Como disse certa vez o Lorde Sith, "Impressionante. Muito impressionante."
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