Correto, 'Pacto de Redenção' traz Michael Keaton em performance notável
Michael Keaton experimentou um bem-vindo renascimento artístico depois de "Birdman", filmaço que Alejandro Iñárritu dirigiu em 2014. O drama, narrado em tom fantástico, garantiu a Keaton uma indicação ao Oscar e o recolocou sob os holofotes. Desde então ele fez o ótimo "Spotlight", trabalhou com a Marvel ("Homem-Aranha: De Volta ao Lar"), fez boa TV em "Dopesick" e voltou a ser Batman ("The Flash") e Beetlejuice (em cartaz num cinema perto de você!).
"Pacto de Redenção" é um respiro, um exercício que permite a Keaton flexionar outros músculos criativos. Ele assume a direção neste drama policial que também o coloca como protagonista trágico. O ator interpreta John Knox, assassino profissional diagnosticado com uma doença neurológica rara: ele tem semanas para por seus assuntos em ordem antes de perder em definitivo suas capacidades cognitivas.
As engrenagens mal começam a girar quando seu filho (papel de James Marsden), que há muito não o procurava após um rompimento traumático, bate em sua porta em desespero. Coberto de sangue, ele confessa ter assassinado um homem e pede a Keaton, única pessoa que ele conhece nessa "linha de trabalho" peculiar, ajuda para encontrar uma saída.
O roteiro de "Pacto de Redenção", assinado por Gregory Poirier, segue a rota tradicional do gênero, adicionando a saúde em deterioração exponencial do personagem de Keaton como tempero. O texto, porém, não traz surpresas, com a investigação policial dos assassinatos (sim, no plural) fechando o cerco em Knox, que por sua vez bola um plano ousado para se redimir (como o título já entrega) antes de a janela do mundo se fechar para ele.
Com o filme ancorado por seu ponto de vista, o astro modula sua interpretação em sintonia com a progressão do estado mental de seu personagem. São apagões e devaneios que ajudam a ilustrar sua confusão galopante, criando um senso de urgência intensificado à medida em que "Pacto de Redenção" se aproxima de seu clímax. Como todo pai, Knox encontra foco quando forçado a resolver pendências de sua prole.
Esperto, Keaton se cercou de um elenco superlativo para apoiar sua performance. Além de Marsden, ele divide o holofote com as boas atrizes Suzy Nakamura (como a detetive encarregada da investigação policial) e Joanna Kulig (uma acompanhante que há quatro anos é amante e confidente de Knox), além de deixar Marcia Gay Harden e Al Pacino à vontade mesmo com tempo de cena limitado.
Como diretor, Michael Keaton pode não ter a intensidade e personalidade exibida na frente das câmeras, mas é elegante e profissional. Ele é correto na condução do texto e habilidoso em costurar a narrativa, mesmo que "Pacto de Redenção" não fuja de soluções triviais. O maior acerto de Keaton, o diretor, é mesmo dar espaço para Keaton, o ator, construir uma grande performance —um trabalho delicado de quem se tornou um artista progressivamente mais interessante com o tempo.
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