Roberto Sadovski

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Opinião

Phoenix? Ledger?... Leto? Quem foi o melhor (e o pior) Coringa do cinema!

Foi em julho de 1984 que li pela primeira vez meu momento favorito do Coringa nos quadrinhos. Era a primeira edição de "Batman" por uma nova editora, e a história que abria a revista era "As Cinco Vinganças do Coringa", da dupla Dennis O'Neill e Neal Adams. Estava tudo lá: o assassino psicopata que, quando conta uma piada, toda a sala não esconde o pavor; o criminoso brilhante que quase faz o Homem-Morcego arrastar para cima.

Publicada originalmente nos Estados Unidos em 1973, a trama fazia parte de uma reformulação gigante empreendida pela DC Comics não só no Batman, mas em todo seu universo de coadjuvantes. A missão era apagar qualquer traço do humor pastelão trazido pela série de TV dos anos 1960 e reinventar o Cavaleiro das Trevas como uma criatura da noite. Seus inimigos, claro, tinham de estar à altura.

O Coringa, criado em 1940 por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane, já se destacava como um personagem incomum, mas essa reinvenção o alçou a um status especial na cultura pop. Como símbolo de terror, sem perder os traços lúdicos de uma história em quadrinhos, ele se tornou uma das criações mais fantásticas da ficção. Traduzi-lo para outras mídias nem sempre foi tarefa fácil.

Como o quintal aqui é o cinema, e aproveitando que "Coringa: Delírio a Dois" está em cartaz, aproveitei para lembrar cada uma das versões do Palhaço do Crime exclusivamente em tela grande. Entre grandes acertos e erros colossais, o Coringa provou ter a mesma estatura de seu nêmesis.

O ranking a seguir lembra, do pior ao melhor, todas as vezes que ele foi defendido na tela grande. Ah, deixei Barry Keoghan fora da lista porque, ao menos por enquanto, sua vez ainda não chegou.

6 - Jared Leto em "Esquadrão Suicida"

Jared Leto em 'Esquadrão Suicida'
Jared Leto em 'Esquadrão Suicida' Imagem: Warner
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Pobre Jared Leto, ele nunca teve a menor chance. Em "Esquadrão Suicida", aventura dirigida por David Ayer e mutilada por executivos do estúdio que queriam nada além de um "Guardiões da Galáxia" para chamar de seu, ator tentou fazer do vilão um gângster excêntrico.

Não deu certo, já que ele terminou sem nenhuma função narrativa. Ayer diz que sua versão original tinha muito mais Coringa, mas o que vale é o que está no filme, e não na intenção de seu diretor. E quanto menos a gente falar da aberração que foi a ponta de Leto ao fim da versão de Zack Snyder para "Liga da Justiça", com seu cabelo ensebado de roqueiro grunge fora de hora, melhor.

5 - Joaquin Phoenix em "Coringa"

Joaquin Phoenix em 'Coringa'
Joaquin Phoenix em 'Coringa' Imagem: Warner

Em 2019, "Coringa" ressignificou o personagem em um mundo totalmente alheio ao universo da DC fora dos gibis. A Academia reconheceu o trabalho brilhante de Phoenix com um Oscar e o filme se tornou um fenômeno. O problema é que há muito pouco do Coringa ali.

Por mais que seja empolgante acompanhar uma nova visão, faltou o senso de perigo e a ambição embutida na insanidade do vilão nessa versão. Ok, Phoenix merecia uma posição mais alta, mas "Delírio a Dois" terminou por descaracterizar o personagem de vez. Bola fora.

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4 - Cesar Romero em "Batman - O Filme"

Cesar Romero em 'Batman - o Filme'
Cesar Romero em 'Batman - o Filme' Imagem: Fox

Quando a série do Batman estava no ar, o personagem ainda se equilibrava entre a galhofa e o absurdo. Seus vilões compartilhavam essencialmente a mesma sede por dinheiro e poder, e o Coringa passava longe da psicopatia que o marcaria no futuro. Era um ladrão de bancos com cabelo verde e risada histérica.

Ainda assim, havia algo estranhamente perturbador na interpretação de Cesar Romero, um dos quatro bat-vilões a dividir a cena no filme do herói exibido em 1966. O visual espalhafatoso podia enganar, mas Romero entendia o gatilho para levar um sujeito a se tornar uma aberração em uma cidade coalhada delas como Gotham. "Clássico", sim, e não por mero acaso.

3 - Jack Nicholson em "Batman"

Jack Nicholson em 'Batman'
Jack Nicholson em 'Batman' Imagem: Warner
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Tim Burton teve uma tarefa hercúlea quando, no final dos anos 1980, transportou o Batman para o cinema. Mas ele teve o auxílio luxuoso de Jack Nicholson. Recém-saído de seu papel como o Diabo em "As Bruxas de Eastwick", o astro deu o tom do filme e tornou-se a contraparte vibrante de um Michael Keaton propositalmente sisudo como o Homem-Morcego.

É possível argumentar que o Coringa em "Batman" é Nicholson sendo Nicholson com maquiagem e próteses. Mas ele foi além, trazendo uma certa melancolia por trás das bravatas —sem falar nos arroubos de ultraviolência que fazem do personagem tão imprevisível. Finalmente, era de fato o Coringa conquistando a tela do cinema —e, de quebra, o mundo.

2 - Heath Ledger em "Batman - O Cavaleiro das Trevas"

Heath Ledger em 'Batman - O Cavaleiro das Trevas'
Heath Ledger em 'Batman - O Cavaleiro das Trevas' Imagem: Warner

Pode parecer difícil de acreditar, mas quando Heath Ledger foi anunciado como o Coringa para a segunda aventura do Batman dirigida por Christopher Nolan, muita gente torceu o nariz. Afinal, o que um galã de Hollywood, que alternava projetos sofisticados como "O Segredo de Brokeback Mountain" e bobagens como "Os Irmãos Grimm", tinha para acrescentar como antagonista do Homem-Morcego?

A resposta, como vimos no filme que lhe render um Oscar de atuação póstumo, era "imprevisibilidade". Nolan optou por não detalhar uma origem para o Coringa, e Ledger ampliou o mistério com sua performance enigmática e anárquica, um contraponto perfeito para a visão do diretor —e do ator Christian Bale— para a mitologia do Cavaleiro das Trevas. Um triunfo tragicamente histórico.

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1 - Mark Hamill em "Batman - A Máscara do Fantasma"

Mark Hamill em 'Batman - A Máscara do Fantasma'
Mark Hamill em 'Batman - A Máscara do Fantasma' Imagem: Warner

Luke Skywalker foi o melhor Coringa que o cinema já teve. Ok, respira fundo e deixa a informação ser absorvida. Lançado em 1993, "A Máscara do Fantasma" levou para o cinema o universo da série animada do Batman com uma trama mais sofisticada e menos dependente da cronologia do desenho. O filme traça a origem do herói, o surgimento de um novo vilão e o papel do Coringa nesse embate.

Mark Hamill, habilidoso como dublador, injetou senso de humor frenético e um tom verdadeiramente ameaçador em sua interpretação como o Coringa. Seu maior predicado, contudo, foi humanizar o personagem de forma inesperada, trazendo camadas até então relegadas à escuridão de sua psiquê fragmentada. É um trabalho sutil que deixou o vilão ainda mais surpreendente —e, como consequência, mais perigoso.

Apesar da carga dramática, Hamill nunca deixou de se divertir com o Coringa —ou de deixá-lo divertido. Em suas mãos, contudo, ele nunca foi (só) um palhaço, ou (só) um gângster, ou mesmo (só) um psicopata. Em seu trabalho eu reconheci o Coringa que havia me fascinado naquele gibi folheado em 1984. Um assassino de passado envolto em sombras e mistério. Um agente do caos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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