'Infestação' aposta no (bom) desconforto com ataque de aranhas assassinas
A era de ouro de filmes ao estilo "homens vs. feras", como "Tubarão", "Anaconda" e "A Sombra e a Escuridão", há muito ficou para trás. Vez por outra, contudo, esse subgênero do terror ainda dá as caras. "Infestação" honra a camisa ao colocar um grupo de jovens parisienses para enfrentar uma ninhada mortal de aranhas.
É preciso, antes de mais nada, reconhecer a coragem do diretor Sébastien Vanicek ao escolher aranhas como antagonistas neste seu longa de estreia. Se boa parte do planeta sente medo, aflição, asco e pânico de aracnídeos, um filme atulhado com os bichos não é exatamente o cartão de visitas mais atraente. Honestamente, nem precisa ser: a intenção aqui é causar repulsa e pavor, e nesse quesito "Infestação" ganha de qualquer "Aracnofobia".
Kaleb (Théo Christine) vive em pé de guerra com sua irmã, Manon, (Lisa Nyarko), sobre ficar no apartamento em que moravam com sua mãe, falecida recentemente, ou buscar uma nova vida. Ela quer se mandar. Ele, por sua vez, sobrevive da venda de tênis falsificados e só dá atenção para a coleção de insetos exóticos que mantém em seu quarto.
É nesse tom que Kaleb leva para casa uma aranha comprada numa biboca, e sabemos que o bicho é do mal pela sequência que abre o filme, com traficantes de animais exóticos capturando as belezas de oito patas no deserto. A aranha foge da caixa em que foi acomodada e passa a se reproduzir em velocidade exponencial, tomando aos poucos todo o edifício e dobrando de tamanho a cada nova ninhada.
"Infestação" é esperto ao trazer um comentário social à trama de terror de sobrevivência. Kaleb e Manon moram em um prédio dilapidado, ocupado pela classe menos abastada de Paris. Fica claro que as autoridades não vão se mexer quando o problema se torna público e as vidas dos residentes do local, trancados em quarentena, não têm nenhum valor.
Mas o que interessa mesmo é o clima criado por Vanicek. O diretor é habilidoso em transformar corredores escuros e depósitos apertados em armadilhas cobertas de teia, em que os humanos não passam de sacos de carne usados como depósito de ovos. O filme avança no desconforto e não se furta em mostrar o resultado brutal dos ataques —e a gente sabe que a coisa é séria quando nem o cachorro fofo é poupado.
"Infestação" perde a mão na reta final, quando nossos heróis passam a agir na base do grito e da histeria, e o filme escala para o campo da fantasia total com a dimensão exagerada de algumas aranhas assassinas. Até aí, contudo, o trabalho em deixar o público arrepiado e desconfortável com cada barulhinho que ecoa nos cantos da sala do cinema foi cumprido com louvor.
Fica a lição, comum em quase todos os filmes de homem vs. feras: o bicho bruto só quer ser deixado em paz.
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