'Sorria 2' repete fórmula do terror barato e faz de Naomi Scott uma estrela
A regra é clara: qualquer filme de terror de orçamento modesto que se tornar um sucesso será explorado como série. A chegada de "Sorria 2", portanto, não causa nenhuma surpresa —especialmente depois que seu antecessor, lançado em 2022, custou uma paçoca e um bilhete de ônibus e faturou mais de US$ 200 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão). Money talks, baby!
O que se esperava dessa continuação inevitável era que o diretor e roteirista Parker Finn lapidasse a "mitologia" sugerida no primeiro filme. A trama explora um parasita demoníaco que enlouquece seu hospedeiro trazendo à tona imagens saídas de um pesadelo na forma de pessoas estampando um sorriso sinistro. Uma semana depois, a pessoa tira a própria vida e o encosto irrefreável se transfere para quem tiver testemunhado sua morte.
Na prática, "Sorria" se ancorava em uma ideia esperta executada com preguiça. A atmosfera de desespero e a exploração de traumas materializados como manifestação do mal se esvaia em sustos fáceis e no indefectível monstrinho do final. Precisamos, afinal, de algo palpável para vender bonequinhos. Eu escrevi sobre "Sorria" aqui.
"Sorria 2" tem um orçamento mais polpudo (US$ 28 milhões —R$ 159 mi—, uma dezena de Bidens a mais que o original) e uma ambientação mais ambiciosa. Dessa vez, a pessoa "contaminada" pela maldição não é um anônimo, e sim uma megaestrela pop. Se recuperando da morte do namorado em um acidente trágico —e combatendo seus próprios vícios antes de retomar uma turnê global—, ela passa a ter visões que vão corroendo sua concepção de realidade. Logo, nem ela e nem nós conseguimos discernir o que é ilusão.
Apesar da premissa bacana, e da habilidade em construir sequências verdadeiramente assustadoras, falta a Parker Finn a convicção para explorar melhor sua própria criação. "Sorria 2" é ótimo em torturar sua protagonista, mas o diretor parece contente em mais uma vez desenhar sustos fáceis para fazer a plateia pular na poltrona. É uma estratégia eficiente, o novo filme deve render horrores, mas a coisa toda é criativamente inerte.
Nem tudo, porém, está perdido. Se existe um motivo para arriscar uma sessão de "Sorria 2", ele se chama Naomi Scott. A atriz, que flertou com o estrelato em "Aladdin" (como a princesa Jasmine) e quase sumiu na versão mais recente de "As Panteras" (tudo bem, ninguém assistiu mesmo), encontra sua verdadeira vocação como scream queen no papel da estrela pop Skye Riley.
Protagonizar um filme de terror é, afinal, uma arte delicada. Um passo em falso e a personagem pode escorregar para a paródia. Naomi, por sua vez, escapa das armadilhas com habilidade, conferindo veracidade à jornada para a loucura enveredada por Skye. Quando ela perde a noção do limite da realidade, encaramos esse abismo a seu lado.
Mesmo quando "Sorria 2" joga a lógica pela janela (ok, é parte do jogo), Naomi mantém a bola no campo com uma mistura bem calibrada de carisma e fragilidade, além de zero vaidade quando o filme engata uma segunda no fator gore. Tudo bem, o clímax ainda depende de um monstrinho tosco. Mas, quer saber, com uma atriz tão bacana à frente até que dá para encarar.
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