Como Brett Goldstein chacoalhou 'Falando a Real': 'Sou uma bomba emocional'
Quando "Falando a Real" chegou à Apple TV+, a novidade era contar com Harrison Ford em uma série para streaming. Parte drama, parte comédia, o programa coloca Ford como o terapeuta que ajuda um colega, Jason Segel, a lidar com o trauma da morte de sua mulher em um acidente de carro. O "vilão" silencioso na primeira temporada era o motorista do veículo que a matou.
O mistério termina nesta segunda temporada com a chegada de Brett Goldstein ao programa no papel do motorista que, embriagado, causou a tragédia. Aos poucos, o ator popularizado na série "Ted Lasso" entra em cena para, de alguma forma, redimir-se da culpa. Não que "Falando a Real" seja novidade para Goldstein: ele é, afinal, um dos criadores e roteiristas da série —e responsável por encontrar humor em um tema tão delicado quanto saúde mental.
"Não é tão difícil porque é assim que enxergamos o mundo", explica Goldstein, que conversou comigo antes de a estreia da segunda temporada. Sua estrada na série à frente das câmeras foi mantida em segredo até a exibição de sua revelação. "O mundo é sempre engraçado, sempre triste e sempre constrangedor", continua. "É assim que muitas pessoas lidam com o trauma, sendo engraçadas."
Ao longo da primeira temporada de "Falando a Real", o personagem de Jason Segel passa a interferir na vida de seus pacientes como parte de seu próprio processo de lidar com a perda. Sua abordagem pouco ortodoxa cria atrito com os colegas, em especial com o terapeuta defendido por Harrison Ford. Ao final dessa primeira parte, contudo, os habitantes da série haviam encontrado um semblante de equilíbrio ao formar uma espécie de núcleo familiar.
"Na temporada anterior vemos como cada um lidou com a tragédia", explica Goldstein. "Quando o homem responsável por ela é inserido, a pergunta é se essas pessoas são capazes de perdoá-lo." O ator e roteirista sabe que, num primeiro momento, o público vai enxergar seu personagem como vilão, mas ressalta que o programa é sobre abordar a ideia do perdão até uma conclusão que fosse estimulante.
"Quando observamos a situação com empatia, vemos que ele é igualmente trágico", acredita. "Precisamos do perdão, mesmo que chegar a ele seja extremamente complexo." Brett diz que seu personagem, Louis Winston, fazia parte do plano narrativo desde a concepção de "Falando a Real", e que o momento em que ele entrasse em cena seria desconfortável. "Daí a gente acrescenta algumas piadas", diz, em tom de brincadeira.
Nos bastidores, descobrir a melhor forma de chacoalhar a rotina da série com a chegada de Louis representou outro desafio. "O aspecto mais complicado em 'Falando a Real' é encontrar o equilíbrio entre drama e humor", conta. "É por isso que levamos tanto tempo para escrever." Como cada personagem reage de forma diferente, o texto merecia atenção para não deixar escapar nenhum detalhe.
"Nossa parede parecia um diagrama de caçada a um serial killer", brinca. "Os personagens se tornam uma família, eles se amam e se sentem seguros. Então vem essa bomba, e isso os afeta a todos porque cada um reage emocionalmente de forma diferente." Além disso, uma ideia no papel precisa de tempo para maturar em um roteiro coerente: "É fácil dizer qual a coisa certa a ser feita, mas fazer é sempre mais complicado".
Brett Goldstein não esconde a surpresa em "Falando a Real" ter uma sobrevida em meio à avalanche de programas e séries que tomaram dúzias de plataformas de streaming. "A sensação sempre é de que tem muita coisa acontecendo", reflete. "Mas daí eu também ouço que não existem programas o bastante, então eu sei lá."
Ele não subestima a continuidade da série. "Temos muita sorte que muita gente nos assiste", conclui. "Conheço tantos programas que são incríveis e ninguém está acompanhando, e isso é de partir o coração."
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