Ligeiro (!), enxuto e com Jim Carrey afiado, 'Sonic 3' é o melhor da série
Baseada em um dos personagens mais emblemáticos dos videogames, a série "Sonic" chega em seu terceiro filme com fôlego de sobra. É uma anomalia. Enquanto produtores coçam a cabeça para estender a vida útil de seus produtos, em especial num cenário dominado por marcas, os filmes do porco-espinho azul cruzam a linha de chegada vitoriosos.
A fórmula não é exatamente uma surpresa. A equipe comandada pelo diretor Jeff Fowler entendeu que, antes de mapear um universo compartilhado, antes de cravar datas para meia dúzia de continuações e spin offs, o mais importante é prestar atenção no desenvolvimento de seus personagens. Quando esse fator é somado ao respeito por sua matriz, o resultado são aventuras leves e ligeiras, que entendem seu público-alvo, mas não se limitam a ele.
Sonic é um alienígena superveloz que, preso à Terra, torna-se amigo de um sujeito boa praça (James Marsden, sempre bom em interpretar sujeitos boa praça) e encontra sua nêmesis em um cientista pirado, o Dr. Ivo Robotnik (Jim Carrey). O entrave entre os dois termina como desculpa para a série agregar outros personagens da "mitologia" de Sonic, como o inventivo Tails (Colleen O'Shaughnessy) e o poderoso Knuckles (Idris Elba).
Neste terceiro filme, a ameaça vem de Shadow (Keanu Reeves), outro velocista superpoderoso com um passado trágico e poderes que rivalizam com o herói azul. Sua chegada provoca o retorno de um cientista com laços familiares com Robotnik (também interpretado por Carrey) e um plano que pode decretar a destruição do planeta.
Sem a menor paciência para gordura —ou mesmo para reinventar a roda—, Fowler dirige "Sonic 3" em ritmo supersônico, marcando no caminho cada item do manual dos super-heróis. Sonic junta a turma e atende ao chamado da aventura, o vilão tem suas motivações reveladas de forma empática, nosso herói hesita em sua missão, tudo parece perdido até que tudo termina bem. Sem firulas, com muita cor, ação e comédia.
Na verdade, todo criador de filmes de super-heróis precisa aprender uma coisa ou dez de "Sonic 3". Primeiro, se um pré-adolescente não pode ver seu filme —salvo raríssimas exceções—, ele já perde seu público-base. Segundo, os vilões precisam ser tão —ou mais— interessantes que o herói. Terceiro, se puder encontrar algum papel para Jim Carrey, não hesite!
Até porque a série "Sonic" é a única coisa hoje impedindo que um dos grandes astros do cinema moderno decida se aposentar. Não é só pelo texto (não é para tanto), muito menos pelo inchaço na conta bancária (ele está bem de vida). Carrey continua voltando porque ele gosta de trabalhar ao lado de profissionais que ele respeita e pela construção dessa mitologia.
Filmes baseados em videogames pendem geralmente para o lado sombrio da força, justamente por muitas vezes caírem nas mãos de talentos equivocados acerca de seu apelo. Não é sobre o monstro bacana ou o guerreiro cool. É pelos personagens. É pela história. É por dosar a fórmula e proporcionar, sem esforço, duas horinhas divertidas —com direito a cena pós-créditos para agitar os fãs. Neste Natal, acredite, "Sonic 3" é o melhor programa para encarar no cinema.
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