Os 15 melhores filmes de 2024
Fim de ano é usar branco (nunca uso), pular as sete ondas (não curto praia) e, claro, discutir durante a ceia sobre listas de melhores filmes. Como minha função social é semear a discórdia, jogo os 15 títulos a seguir na fogueira e observo, de longe, o caos reinar.
Arquitetar uma lista é um barato, claro, mas dá um trabalho absurdo. Até porque sempre a gente deixa de lado aquele filme bacana que quase passou do ponto de corte. Sem falar das regras: as minhas são "produções de 2024 vistas por mim neste ano". Algumas coisas (poucas) ainda não chegaram aos cinemas, outras ficaram para o compilado de 2023.
Como sempre, teve de tudo um pouco, de blockbusters a filmes independentes, passeando por diversos gêneros, propostas, expectativas e surpresas. A melhor delas? Ver o cinema brasileiro mais uma vez vibrante, fazendo barulho e representando nossa arte para além das fronteiras.
Agora é contigo. Opine, concorde, discorde, faça o seu barulho! Porque o melhor em listas é, como sempre repito, a celebração do cinema em todas as formas. Sem falar no respiro e na espiada para trás antes de encarar o que 2025 vai jogar em nosso colo. Para o alto, avante e vamos aos melhores!
15. "REBEL RIDGE"
("Rebel Ridge", Jeremy Saulnier)
O gênero "sujeito casca-grossa tocando o terror em cidadezinha corrupta" ganha um exemplar elegante pelo diretor do excepcional "Sala Verde". Aaron Pierre (esse moço vai longe!) é um ex-fuzileiro em rota de colisão com o xerife de um cafundó ianque —pense em Rambo com um toque de John Wick, igualmente esperto e divertido.
14. "MEU EU DO FUTURO"
("My Old Ass", Megan Park)
Prestes a deixar sua família e amigos para trás e encarar a faculdade na cidade grande, a jovem Elliott (Maisy Stella, uma graça) recebe uma visita inusitada: ela mesma, mais velha e calejada, cheia de conselhos sobre a vida e o amor. Megan Park dirige essa fábula doce e melancólica, que traz (outra) performance inspirada de Aubrey Plaza.
13. "ROBÔ SELVAGEM"
("The Wild Robot", Chris Sanders)
Entre continuações bombásticas ("Divertida Mente 2") e repetitivas ("Meu Malvado Favorito 4"), o cinemão de animação fez brotar essa pérola do criador de "Lilo e Stitch". Um robô programado para servir termina em uma ilha habitada tão somente por animais, e termina extrapolando sua programação ao aprender a sentir. Sim, esse cisco também pousou em seu olho.
12. "JURADO Nº2"
("Juror #2", Clint Eastwood)
Convocado para ser jurado em um caso de homicídio, Nicholas Hoult desconfia que o crime, ocorrido um ano antes, seja de sua responsabilidade. Clint Eastwood tece a partir da premissa uma narrativa sóbria e elegante sobre o peso e as consequências da culpa. Mas nem vou falar sobre o absurdo de o estúdio ter optado por não lançar este drama no cinema...
11. "GUERRA CIVIL"
("Civil War", Alex Garland)
Em uma América dividida pelas ações de um presidente extremista e covarde, uma fotógrafa (Kirsten Dunst) e um jornalista (Wagner Moura) cruzam um país em guerra consigo mesmo para registrar o caos. Alex Garland criou uma fábula assustadora sobre um mundo que ainda pode deixar o cenário da ficção.
10. "A SUBSTÂNCIA"
("The Substance", Coralie Fargeat)
Um dos filmes mais comentados do ano traz Demi Moore como a estrela em declínio que encara sua "versão ideal", mais jovem e vibrante (Margaret Qualley), ao usar uma droga sintética. A diretora Coralie Fargeat usa o body horror para comentar sobre nossa obsessão crescente com a perfeição —e suas consequências devastadoras.
9. "FURIOSA: UMA SAGA MAD MAX"
("Furiosa: A Mad Max Saga", George Miller)
Anya Taylor-Joy toma o lugar de Charlize Theron neste prólogo de "Estrada da Fúria", em que a jovem Furiosa perde tudo que lhe é mais caro e planeja uma vingança regada a fogo e sangue. George Miller mostra com a ausência de Mad Max que o protagonista de suas histórias é o mundo pós-apocalíptico em que impera a lei do mais forte. Sem falar que ninguém —ninguém!— está no nível de Miller para contar uma história com ação vertiginosa.
8. "RIVAIS"
("Challengers", Luca Guadagnino)
"Queer", com Daniel Craig, é um filmaço e ainda está em cartaz. "Rivais", contudo, ganha por um pescoço a corrida dos filmes de Luca Guadagnino em 2024. Ao contar a história de dois amigos claramente apaixonados um pelo outro, e a moça entre eles que só tem olhos para o tênis, o diretor desenhou uma trama sexy e surpreendente, dirigida com entusiasmo insuspeito. Ah, e Zendaya é o máximo!
7. "DUNA PARTE DOIS"
("Dune Part Two", Denis Villeneuve)
Depois de armar seu tabuleiro com a primeira parte da adaptação da obra de Frank Herbert, Denis Villeneuve foi à guerra e expandiu com fúria o conflito entre o sistema e os rebeldes num planeta árido. Ao aumentar o volume do subtexto político, o novo "Duna" ganhou mais impacto, ampliou seu escopo e mostrou como a ficção científica é o gênero mais completo. Ah, e Zendaya é o máximo!
6. "A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO"
("Dane-ye anjir-e ma'abed", Mohammad Rasoulof)
Rodado em segredo em meio ao caos em Teerã, este drama mergulhado em tintas políticas traz o alcance da arte como alerta. Mohammad Rasoulof reproduz a tensão e a paranoia que sustentam o violento regime teocrático no microcosmo de uma família, em que o pai, um juiz do regime, impõe à mulher e as duas filhas medidas drásticas quando sua arma desaparece. O filme borra os limites de realidade e ficção ao intercalar imagens reais dos protestos que assolam a capital. Estreia em 9 de janeiro
5. "AINDA ESTOU AQUI"
(Walter Salles)
No momento em que escrevo estas linhas, mais de 3 milhões de brasileiros já tiveram um encontro com parte sombria de sua história nessa pérola de Walter Salles. "Ainda Estou Aqui", contudo, não é um filme sobre a ditadura, e sim sobre suas consequências nefastas —e sobre a resiliência de quem, mesmo ante uma tragédia, jamais abaixou a cabeça. Fernanda Torres é um tesouro nacional, mais uma vez revelado ao mundo!
4. "EMILIA PÉREZ"
("Emilia Pérez", Jacques Audiard)
Os melhores filmes são aqueles que trilham caminhos surpreendentes. "Emilia Pérez" é assim: cada decisão traz novas possibilidades, cada recorte indica outra surpresa. O francês Jacques Andiard (de "Ferrugem e Osso") fala sobre violência, sobre transexualidade, sobre pertencimento e legado, sobre culpa e desejo. Zoe Saldaña é um monumento, Karla Sofía Gascón é uma revelação. O filme é um thriller, um drama e um musical. Imperdível! Estreia em 6 de fevereiro
3. "NOSFERATU"
("Nosferatu", Robert Eggers)
Robert Eggars buscou no primeiro vampiro do cinema uma forma de reinventar sua figura nefasta. Seu "Nosferatu" vai além de um simples remake. Sufocante em sua beleza, denso em sua atmosfera, assustador em sua negação da humanidade, o filme realinha uma história secular sem desviar do foco que a fez imortal em primeiro lugar: o júbilo do amor e a escuridão da morte existem em paralelo. Depois de duas sessões, eu ainda busco, em vão, algum traço de Bill Skarsgård no Conde Orlok. Estreia em 2 de janeiro
2. "CONCLAVE"
("Conclave", Edward Berger)
"Conclave" é a mais perfeita definição de "filme de Oscar": um drama sóbrio, para adultos, em que todas as peças —roteiro, elenco, produção— combinam em um quadro da mais pura excelência. Após a morte súbita do papa, Ralph Fiennes é o cardeal apontado para conduzir a escolha do novo Sumo Pontífice. Nos bastidores da igreja, contudo, reina a ambição e o jogo político, segredos que revelam a humanidade entre homens "santos". O final poderoso sublinha um filmaço irrepreensível. Estreia em 23 de janeiro
1. "ANORA"
("Anora", Sean Baker)
"Anora" é o conto de fadas idílico, em que uma jovem humilde se casa com um rapaz rico. Ou quase: ela é uma profissional do sexo do Brooklyn que se enrosca com o filho de um oligarca russo. O casamento é impulsivo. Ela acha que mudou de vida, a família dele, lá do outro lado do planeta, tem questões. Sean Baker ("Tangerina", "Projeto Florida") aborda o texto com humor e ternura, e tem em Mikey Madison um furacão dramático que preenche a tela com fúria. "Anora" é agridoce, é surpreendente e, como diria nosso amigo Scorsese, "Cinema"! Estreia em 23 de janeiro
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