'Penso nesse filme desde os 9 anos de idade', conta diretor de 'Nosferatu'
"Eu vi 'John Carter', e você não está em 'John Carter'!", diz Robert Eggers. "Deve ser porque eu interpreto um alienígena de quatro braços e 3 metros de altura", responde Willem Dafoe.
Era 2019 quando eu conversei pela primeira vez com Robert Eggers e Willem Dafoe juntos. Eles estavam no Brasil para o lançamento de "O Farol" e, descontando a incredulidade do diretor em relação ao personagem digital que o ator interpretou no fiasco da Disney, é seguro dizer que houve ali uma conexão. "O Homem do Norte" posteriormente selou a parceria, consolidada agora com "Nosferatu".
Existe clara camaradagem e carinho entre Eggers e Dafoe —ainda mais evidente quando o diretor confirma que já colocou papéis à disposição do astro para seus dois próximos filmes. "Uma parceria artística é construída com respeito, admiração e confiança", ressalta o cineasta. "O segredo é poder se divertir juntos quando as regras são claras", completa o ator.
Em "Nosferatu", Willem Dafoe é Albin von Franz, cientista renegado entre seus pares por suas pesquisas com o oculto. É ele quem vai ajudar a jovem Ellen Hutter (papel de Lily-Rose Depp) a compreender e, depois, enfrentar, a ameaça sobrenatural representada pelo conde Orlok (Bill Skarsgård). O filme é uma reimaginação do clássico dirigido em 1922 por F.W. Murnau, uma adaptação não oficial de "Drácula" de Bram Stoker.
"Levamos uma década para desenvolver nosso filme", revela Robert Eggers. "Mas eu adoro 'Nosferatu' desde os 9 anos de idade". Antes de ter qualquer contato com a obra, ele havia assistido ao "Drácula" de 1931, que imortalizou a imagem romântica do vampiro, e também suas versões pela produtora inglesa Hammer, com Christipher Lee à frente. "Foi 'Nosferatu', contudo, o Drácula que me causou mais impacto."
A nova versão, que também conta com Nicholas Hoult, Aaron Taylor-Johnson e Emma Corrin no elenco, não é a primeira que revisita o filme de Murnau. O cineasta alemão Werner Herzog criou sua própria versão em 1979, com Klaus Kinski como o vampiro e Isabelle Adjani como seu objeto de desejo.
"Adoro a versão de Herzog, e como cineasta ele é uma de minhas grandes inspirações", continua Eggers. "Sem seu filme eu provavelmente não teria feito muitas de minhas escolhas." Ainda assim, o diretor optou por deixar a obra de lado ao longo da última década, justamente quando desenvolvia sua própria abordagem. "A verdade é que tentei manter o foco no filme de Murnau e em todas as coisas que envolvem o mundo que ele criou."
O elemento absolutamente único no novo "Nosferatu" é Bill Skarsgård como o conde Orlok. Longe do visual clássico do vampiro, calvo e de orelhas pontudas, a composição do ator, tanto física quanto vocal, crava desde já um marco para a representação das criaturas no cinema.
"Eu escalei Bill para 'O Homem do Norte', mas ele terminou fora do filme por fatores fora de nosso controle", conta Eggers. A ideia de ter Skarsgård em "Nosferatu" também remonta ao começo do projeto, quando ele teria interpretado não o conde, mas Thomas Hutton, papel que terminou com Nicholas Hoult.
"Foi curioso, porque percebi que Bill tem 1,93 metro de altura, é magro e consegue se transformar totalmente", continua. "Eu o vi como um homem de meia idade em 'It - Parte 2', e acreditei sem hesitar em sua interpretação". O estúdio ainda queria que o ator fizesse um teste para o papel, então ele e Eggers trabalharam juntos na construção de Orlok: "Teria de ser um teste perfeito!".
Para Willem Dafoe, por outro lado, o mundo de "Nosferatu" não era uma novidade, ainda que permanecesse distante. Em "A Sombra do Vampiro, de 2000, ele interpretou Max Schreck, o ator alemão que fez Orlok na produção de 1922, como se ele fosse de fato um vampiro.
"Meu trabalho ali foi uma cópia, tanto na maquiagem como nos gestos, da postura de Schreck em 'Nosferatu'", lembra Dafoe. "Mas era o que aquele trabalho, que tinha um registro como comédia, exigia". Dafoe olha para Eggers e completa, numa gargalhada: "Mas eu não pensei em 'A Sombra do Vampiro', sequer pensava em 'Nosferatu', minha agenda já estava cheia!".
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