Roberto Sadovski

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Opinião

'Anora': demorou, mas o Oscar 2025 finalmente tem um favorito

Este é o estado das coisas. "Anora", mistura esperta de drama e comédia encabeçada pela revelação Mikey Madison, despontou como favorito para garfar o Oscar de melhor filme depois de um fim de semana consagrador. Primeiro com o troféu do Critics Choice Awards (que não quer dizer muita coisa), depois com vitórias em agremiações de peso, a dos diretores e a dos produtores (estas, sim, relevantes).

Foi o tempero que faltava para apimentar uma temporada de premiações que parecia no ponto morto. Depois de ganhar a Palma de Ouro em Cannes, isso há distantes 10 meses, o filme assinado por Sean Baker pareceu perder tração e espaço sob os holofotes. Quando chegaram as indicações ao Oscar, "Anora" foi apontado em seis categorias, mas não havia empolgação.

O entusiasmo estava, claro, no corner de "Emília Pérez". O filme de Jacques Audiard conseguiu opulentas 13 indicações ao Oscar, qualificando-se, nem que fosse só pelo volume, como favorito. Então desencavaram tuítes (não tão) antigos - e nada lisonjeiros - de sua estrela, Karla Sofía Gascón. Cada novo pedido de desculpas piorava a situação. Nas últimas semanas, a boa vontade com ela - e, de tabela, com o filme - foi se esfarelando.

Uma controvérsia de outra natureza acometeu "O Brutalista", drama de época dirigido de forma brilhante por Brady Corbet. Com 10 indicações ao Oscar e aclamado pela crítica, o filme encabeçado por Adrien Brody esbarrou em uma não polêmica quando o editor do filme revelou o uso de uma ferramenta de inteligência artificial para aperfeiçoar o sotaque húngaro de Brody e de Felicity Jones. Um artifício artisticamente pertinente, como o uso de próteses, mas que não pegou bem.

A essa altura, a "corrida" do Oscar seguia, notadamente aleatória. Será que o prêmio máximo terminaria com um drama poderoso, porém mais conservador, como "Conclave"? Será que a segurança de uma cinebiografia daria vantagem a "Um Certo Desconhecido?" Neste cenário, blockbusters genuínos como "Duna: Parte 2" ou "Wicked" poderiam mordiscar alguma vantagem? Sem um "Oppenheimer" para fechar a conta, qualquer aposta estava valendo.

Daí "Anora" foi escolhido o melhor filme no Critics Choice na noite de sexta-feira. Uma surpresa genuína, já que "O Brutalista" parecia ter atropelado "Emilia Pérez" na preferência dos votantes. Na noite do dia seguinte, Sean Baker estava na cerimônia do DGA e, contrariando todos os especialistas da temporada de premiações, foi escolhido como melhor diretor. Horas depois, o cineasta estava com sua equipe no evento do PGA e viu "Anora" consagrado como melhor filme. Foi água no chope de todos os analistas - e das casas de aposta.

A semana começou, portanto, em clima de caos controlado. Espiando as estatísticas, a coisa parece certa: 12 dos últimos 15 vencedores do Oscar de melhor filme também foram aclamados no PGA - as exceções foram "A Grande Aposta" (o vencedor em 2016 foi "Spotlight"), "La La Land" (que perdeu para "Moonlight" em 2017) e "1917" (o Oscar foi para "Parasita" em 2020).

Como a votação para o Oscar começa hoje, os ventos parecem soprar a favor de "Anora". A cerimônia do WGA, que premia os roteiristas, deixou de fora "O Brutalista", "Conclave", "Emilia Pérez" e "A Substância" - provavelmente por seus escritores não serem membros da associação. O filme com Mikey Madison compete na festa do próximo dia 15 com "Guerra Civil", "Meu Eu do Futuro", "Rivais" e "A Verdadeira Dor" - este último o único também indicado ao Oscar. O BAFTA, premiação da Academia Britânica de Cinema, acontece dia 16 e também traz "Anora" entre seus indicados a melhor filme.

A escolha do Oscar obedece a uma variável implacável chamada "tempo". A vantagem hoje é de "Anora", e esse ressurgimento acontece no momento certo, mantendo o filme na mente dos quase 10 mil membros da Academia até o encerramento da votação no próximo dia 18. É sempre bom, diga-se, levar em conta os fatores variáveis - "Emilia Pérez" e o ocaso de Karla Sofía Gascón que o digam. A essa altura, contudo, é difícil tirar o favoritismo de "Anora". Este é o estado das coisas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

24 comentários

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Percival Artur Matos da Silva

Sadovski, você pode até torcer, é um direito seu. Porém dizer que Anora é favorito, pra mim você "forçou" a barra. É apenas um filminho bobo, com história simples. tem filmes melhores concorrendo, mas o Oscar sempre surpreende. veremos!

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Eliseu Rosendo Nunez Viciana

Estranho o crítico não ter dito uma palavra sobre "Ainda Estou Aqui".

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Carlos Enescu

Anora é um filme fraco, bom para quem tem insônia. 

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