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Thiago Stivaletti

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Valeu a pena esperar por ?Elvis?

Austin Butler interpreta Elvis Presley em cinebiografia "Elvis" - Warner Bros. Pictures/Divulgação
Austin Butler interpreta Elvis Presley em cinebiografia "Elvis" Imagem: Warner Bros. Pictures/Divulgação

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Havia muita expectativa (e também muito medo) em torno de "Elvis", a primeira grande cinebiografia de Elvis Presley, o rei do rock, um dos artistas mais amados de todos os tempos. Elvis morreu de uma parada cardíaca por conta do excesso de remédios em 1977. O medo de Hollywood era justamente esse: um ícone que morreu há 45 anos ainda teria força para levar pessoas de menos de 50 anos aos cinemas?

E a resposta é "sim". O filme está indo muito bem de bilheteria, e não faltam qualidades a ele. Quem o dirige é o australiano Baz Luhrmann, que ficou conhecido por seus filmes purpurinados, cheios de figurinos luxuosos e muita música. Que o digam "Romeu + Julieta" (1996), versão bem interessante da tragédia de Shakespeare com Leonardo DiCaprio, e "Moulin Rouge" (2001), com Nicole Kidman, seu filme mais aclamado.

Luhrmann dedicou muitos anos a essa obsessão de levar Elvis às telas. Muitos atores (e não atores) brigaram pelo papel, como o britânico Harry Styles, o cantor mais popular do momento. Mas ele ficou com Austin Butler, um californiano de 30 anos e pouco currículo no cinema, que brilha em todos os momentos do filme - da inocência do início do sucesso até a dolorida decadência.

Sim, há uns cacoetes que Luhrmann carrega em todos os filmes e que não fariam falta nenhuma, como a mania de inserir músicas do momento em cenas sem nenhuma importância "para dar uma atualizada" na história - o resultado é ruim.

Mas o maior acerto de "Elvis" talvez seja o próprio roteiro, também assinado pelo diretor. Luhrmann optou por dar a narração da história não ao próprio Elvis, mas ao Coronel Tom Parker, que foi seu agente e empresário por mais de 20 anos.

Parker foi o responsável por ver em Elvis a galinha dos ovos de ouro do showbusiness americano, um artista de inigualável carisma (sobretudo sexual), que deixava as fãs histéricas ao primeiro movimento da pélvis no palco. (O filme não deixa de fora a reação de políticos e lideranças conservadoras, que desde a explosão do rei do rock viam nele uma ameaça à tradicional família americana.)

Numa composição sempre eficiente de Tom Hanks, Parker é daqueles personagens que a gente deveria odiar com todas as forças, mas não consegue deixar de simpatizar. Jogador compulsivo, ele fica com metade do faturamento de Elvis - foi condenado posteriormente pela Justiça por exploração abusiva -, mas também demonstra imenso carinho por sua criatura, ensinando a ele o caminho para o sucesso.

O trabalho de Hanks é fundamental para fazer o de Butler brilhar. Por outro lado, a esposa, Priscilla, e a filha ainda pequena, Lisa Marie, entram na trama sem grande importância.

Em resumo: esqueça os dois tropeços da carreira de Baz Luhrmann, o cafona "Austrália" (2008) e o insosso "O Grande Gatsby" (2013). Aos 60 anos, Luhrmann transpira paixão pelo seu protagonista, e as duas horas e quarenta minutos do filme passam sem esforço.

"Elvis" estreia nos cinemas na próxima quinta dia 14, com pré-estreias na quarta dia 13, Dia Mundial do Rock.

Cronenberg, a decepção do ano

Na mesma quinta, estreia o último filme de David Cronenberg, "Crimes do Futuro". Para os cinéfilos, Cronenberg dispensa apresentações. Ele nos deu obras-primas sobre as mutações orgânicas do ser humano face a novos avanços tecnológicos, como "A Mosca" (1986), "Gêmeos - Mórbida Semelhança" (1988) e "Crash - Estranhos Prazeres" (1996).

Nos últimos 20 anos, Cronenberg se dedicou a filmes menos "orgânicos", mais cerebrais e quase sempre interessantes, como "Marcas da Violência (2005) e "Mapas para as Estrelas" (2014).

No novo "Crimes do Futuro", ele volta à atmosfera de seus filmes da primeira fase hardcore para contar a história de Saul Tenser (Viggo Mortensen), um homem cujo organismo tem a habilidade de desenvolver novos órgãos. Eles são extraídos de seu corpo em performances artísticas conduzidas por sua colega Caprice (Léa Seydoux). A polícia está de olho neles, e um menino que também apresenta uma nova aptidão aparece assassinado.

A premissa é toda interessante - discutir o corpo como a nova fronteira da evolução humana -, mas Cronenberg não consegue dar vida e pulsação ao filme.

Tudo é gelado como o local onde acontecem as performances de Saul, e os personagens passam o tempo inteiro explicando uns aos outros o que está acontecendo. Kristen Stewart vive uma burocrata responsável pelo registro dos novos órgãos, e o filme acaba antes que sua personagem alce voo.

O retorno de Cronenberg aos filmes do passado mostra o quanto o tempo passou pra ele - e nesse sentido lembra "Os Amantes Passageiros" (2013), em que Pedro Almodóvar tentou voltar à comédia escrachada de seus primeiros filmes e quebrou a cara.

Depois da estreia nos cinemas no dia 14, "Crimes do Futuro" chega ao streaming do Mubi no dia 29.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado, Elvis Presley morreu vítima de uma parada cardíaca causada apenas pelo uso excessivo de remédios e não em razão do consumo de álcool.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL