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Ver três horas do Emmy cansa mais que maratonar uma série
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A primeira coisa a se notar da cerimônia de entrega do Emmy, que rolou na noite da última segunda-feira, é a correria desenfreada. Indicados são anunciados com flashes de meio segundo do seu trabalho aparecendo na tela.
A própria cerimônia faz o rápido anúncio dos indicados, para que os atores no palco só precisem falar rapidamente o vencedor. Este tem um tempo ridículo para agradecer — e a emissora NBC já deixa combinado com eles uma parte dos agradecimentos que aparece escrita na tela, para que se fale o menos tempo possível.
Se por um lado a cerimônia tem que correr, por outro os intervalos comerciais, que pagam a conta, são longuíssimos. É a TV devorando a própria TV, num momento em que ela deveria estar se homenageando com mais respeito, paciência e elegância. Resultado: ver as três horas de Emmy acaba sendo mais cansativo do que maratonar uma série de dez episódios de uma vez só.
Diante desse cenário, só resta rir e relaxar, como fez Jennifer Coolidge ao vencer o Emmy de atriz coadjuvante em minissérie pela extravagante milionária Tanya McQuoid de "The White Lotus". Diante da insistência da música da cerimônia em tirá-la logo do palco, ela desistiu de agradecer todo mundo e resolveu... dançar conforme a música. Literalmente.
Mas vamos aos premiados. Nas categorias de séries - histórias com muitos episódios e mais de uma temporada -, nada de novo no front. "Succession" e "Ted Lasso" já haviam sido consagradas em Emmys anteriores; Jason Sudeikis ("Ted Lasso") e Jean Smart ("Hacks"), idem.
A impressão é que basta os produtores e atores seguirem mais ou menos no piloto automático após uma temporada premiada que já podem garantir uma nova estatueta no ano seguinte. O mesmo não se pode dizer de Zendaya, que amadureceu muito seu trabalho como a viciada Rue de "Euphoria" e mereceu ainda mais seu segundo Emmy.
De novidade mesmo, tivemos a coreana "Round 6", o maior sucesso comercial da Netflix, garantindo seis dos 14 troféus a que estava indicada, incluindo aí melhor direção de um episódio e melhor ator para Lee jung-jae - desbancando nomes fortes como Brian Cox e Jeremy Strong por "Succession". Se por um lado foi uma concessão do Emmy a uma série mais comercial, por outro lado foi um bem-vindo aceno aos talentos da Coreia do Sul, num movimento que começou com o Oscar para "Parasita" em 2020.
Se no mundo das séries as coisas foram mais previsíveis, as grandes surpresas ficaram no mundo das minisséries - projetos inéditos e feitos (na maioria das vezes) para durar apenas uma curta temporada de poucos episódios. A mais querida do ano passado, "The White Lotus" (HBO Max) se consagrou com dez prêmios entre suas 20 indicações - e só não venceu mais porque chegou a ter cinco indicadas numa mesma categoria (atriz coadjuvante).
Além de série, direção e roteiro, as escolhas de Murray Bartlett (Armond, o gerente do resort) e da já citada Jennifer Coolidge foram as mais acertadas entre os oito atores indicados. Amanda Seyfried também mereceu seu prêmio de melhor atriz na categoria por "The Dropout", ecoando toda a aclamação crítica que tem recebido desde que a série estreou.
Por fim, vale destacar o esforço que o Emmy, assim como outras premiações, vem fazendo ano a ano para reforçar a diversidade não só entre os indicados, mas também entre os vencedores da noite.
Foi bonito ver Quinta Brunson escolhida a melhor roteirista de comédia por "Abbott Elementary", Jerrod Carmichael ser eleito o melhor roteirista de um especial, e principalmente a rapper Lizzo desbancar a ultrapremiada "Ru Paul's Drag Race" na categoria Programa de Competição com "Lizzo's Watch Out for the Big Grrrls", dedicado a empoderar mulheres negras. Ela fez um dos discursos mais emocionados da noite, mostrando que é possível ter algum respiro de autenticidade mesmo na velocidade insana de uma cerimônia como esta.
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