Afinal, o que é que o Harry Styles tem?

Se você ainda não ouviu falar de Harry Styles, está chegando a hora. O Reino Unido está curvado diante de seu carisma. O rapaz de olhos claros e nariz arrebitado apareceu primeiro num reality musical famoso por lá, o "X Factor". Nem chegou a ser campeão, poderia ter parado por aí, mas os produtores viram que havia muito potencial nele e o chamaram para ser vocalista de uma banda pop que bombou no mundo todo, o One Direction. Agora em carreira solo, ele teve todo o seu último álbum na lista das mais tocadas do planeta.

Hoje com 28 anos, Harry ostenta um visual que corresponde a toda cartilha da Geração Z mais cosmopolita: muitas tatuagens e um jeito de se vestir que equilibra elementos masculinos, feminismos e neutros com naturalidade. Nas entrevistas, ele se recusa a definir sua orientação sexual, mas nunca apareceu com um namorado (nem mesmo um ficante) e namora a atriz e cineasta Olivia Wilde. Esse comportamento enfurece parte da comunidade LGBTQIA+, que o acusa de usar as bandeiras da causa para pura e egocêntrica autopromoção.

E eis que Styles agora tem uma nova ferramenta para aprimorar essa sua imagem ambivalente: o cinema. Duas estreias dos últimos dias no streaming mostram que ele ainda é um ator limitado, mas isso é o que menos importa. A ideia é trazer os filmes para reforçar sua imagem sexualmente ambígua, reforçando seu encanto para todos os gêneros.

Em "Meu Policial", estreia do Prime Video, ele vive Tom, o personagem-título, que começa um romance com o curador Patrick (David Dawson). São os anos 50 na Inglaterra, quando a homossexualidade ainda era crime previsto em lei. Tom decide então se casar com a professora Marion (Emma Corrin, a princesa Diana de "The Crown") para ter uma vida tranquila, dentro dos padrões. É uma história de amor delicada, dessas que o cinema britânico já fez de monte e já receberam muitas indicações ao Oscar - bem na linha de "Vestígios do Dia" (1993) ou "Retorno a Howards End" (1992). O diretor Michael Grandage não rodou seu filme nos anos 50, e por isso nos dá algumas cenas de sexo entre Tom e Patrick. Mas tudo é bem calculado para não tirar Styles de cima do muro, onde ele sente que pode manter seus fãs. É possível imaginar seus agentes negociando o que poderia ou não ser mostrado antes de o astro fechar seu contrato. Mas nem só de sexo se faz um filme; "Meu Policial" é uma história um tanto amarga de como as interdições afetivas e sexuais dos anos 50 vão ter repercussões na velhice desses personagens - outros atores vivem o trio na idade adulta.

A cena de sexo é um pouco mais ousada em "Não se Preocupe, Querida", thriller que passou pelos cinemas e chegou nesta semana à HBO Max. Styles vive Jack, feliz executivo casado com a também feliz Alice (Florence Pugh), vivendo numa comunidade que trabalha num projeto experimental repleto de mistérios. Muito rápido vamos descobrir que toda essa felicidade é de fachada, e as esposas e donas de casa sabem muito menos do que pensam sobre o projeto. É um bom entretenimento com uma crítica feminista em seu interior, que ficou mais marcado pelas fofocas de bastidores do que por seu resultado final - houve muitas brigas entre a diretora Olivia Wilde e o elenco. Wilde e Styles se conheceram nas filmagens e namoram desde então. Não deixa de ser irônico que ele seja o nome mais forte de um filme sobre como as aparências podem fazer as pessoas se perderem em relação à sua essência. Vale acompanhar os próximos passos da construção de sua imagem pop - para ver se o conteúdo se sustenta. Styles pode até ter uma vida mais duradoura como ídolo pop na música. No cinema, os julgamentos tendem a ser mais implacáveis com ele.

"Meu Policial", de Michael Grandage
Com Harry Styles, Emma Corrin, Rupert Everett
Disponível no Amazon Prime Video

"Não se Preocupe, Querida", de Olivia Wilde
Com Harry Styles, Florence Pugh, Chris Pine
Disponível na HBO Max