Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
'O Milagre', na Netflix, trava embate monumental entre ciência e fé
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É sempre interessante acompanhar como nossos cineastas latino-americanos se saem ao rodar seus filmes em inglês, para um público internacional maior. Pela proximidade com Hollywood, os mexicanos parecem se sair melhor. Alejandro Iñárritu foi consagrado no Oscar com "Birdman" e "O Regresso", e Alfonso Cuarón conquistou os americanos com a ficção científica "Gravidade". Entre os brasileiros, Walter Salles não foi muito longe com o terror "Água Negra" e o road movie "Na Estrada". Já Fernando Meirelles está numa espécie de empate: foi muito elogiado por "O Jardineiro Fiel" e "Dois Papas", mas não teve a mesma repercussão com "360" e a distopia "Ensaio sobre a Cegueira".
No momento, é um chileno que está conseguindo navegar bem pelos mares de Hollywood. Sebastián Lelio venceu o Oscar de filme estrangeiro em 2018 com "Uma Mulher Fantástica", um original relato da vida de uma mulher trans que conquistou os eleitores da Academia. Desde então, o diretor só escolheu projetos em inglês. Depois do drama lésbico "Desobediência" e de "Gloria Bell", com Julianne Moore - adaptação americana de seu próprio filme, "Gloria", rodado no Chile -, ele voltou com tudo emplacando seu novo filme entre os mais vistos da Netflix nas últimas semanas.
"O Milagre" é daqueles filmes que é preciso ver para crer do que se está falando. Trata de crença e religião, mas também do poder de autoconvencimento que as pessoas têm nas situações mais absurdas. Lib, uma enfermeira inglesa (Florence Pugh, de "Viúva Negra" e "Não se preocupe, querida"), chega ao interior da Irlanda para elucidar o mistério da menina Anna, que está há quatro meses sem comer e não dá sinais de enfraquecimento. Todo o vilarejo atribui o fato a um puro e simples milagre. Mas Lib joga do lado da medicina e da ciência, e tem certeza que há algo muito estranho acontecendo.
O filme nos deixa nesse suspense o tempo todo: devemos acreditar em Lib, e confirmar que estamos numa história realista? Ou, como os aldeões, abraçamos logo o milagre, já que o cinema é o melhor terreno para dar vazão às nossas crenças, religiosas ou de qualquer outro tipo? "O Milagre" nos exige uma certa paciência até que as coisas sejam esclarecidas. Em uma cena-chave, faz uma homenagem ao maior clássico desse gênero "cinema da fé" - o filme "A Palavra" (1955), do dinamarquês Carl Theodor Dreyer. E só consegue nos manter no fio da navalha da fé graças à excelente atuação de Kíla Lord Cassidy, que vive a menina Anna com total fervor.
Depois da indicação ao Oscar por "Adoráveis Mulheres", Florence Pugh mostra que tem futuro ao escolher projetos ousados, daqueles com grande risco de não encontrar muita aprovação do público. No lado dos blockbusters, ela poderá ser vista em breve na segunda parte do épico "Duna". E seja no Chile ou no exterior, Lelio segue escolhendo apenas protagonistas femininas para os seus filmes. Uma marca autoral que ele leva para filmes de todos os tamanhos, orçamentos e idiomas.
O Milagre
Filme disponível na Netflix
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