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Os sete melhores filmes internacionais de 2022
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2022 apenas aprofundou uma pergunta que começou na pandemia, em 2020: para onde vai o cinema? A crise é grave e profunda, e só não vê quem não quer. Experimente ir ver um filme durante a semana (ou mesmo num domingo à noite) que não seja o "Avatar". Provavelmente haverá você e mais duas ou três pessoas na sala - se houver dez, já podemos considerar um sucesso.
É um combo de fatores que prejudicam as boas e velhas salas: as infinitas opções de séries e filmes no streaming; ainda um certo medo de ficar sem máscara numa sala fechada por duas horas; mas sobretudo o preço do ingresso, que pode chegar a R$ 40 em São Paulo. Não conheço ninguém que esteja nadando em dinheiro, e pagar mais por um único filme (que talvez no fim você nem goste) do que se paga por um mês inteiro de Netflix é uma conta que todo mundo acaba fazendo.
Ainda assim, foi um ano de belas surpresas - algumas delas lançadas direto no streaming, ou já disponíveis nele depois de passar pelas salas. A seguir, meus sete filmes gringos do coração em 2022, em ordem crescente - dos quais três foram dirigidos por mulheres:
7. Memória - Queridinho dos festivais, o tailandês Apichatpong Weerasethakul consegue um milagre que poucos conseguem: inventar um mundo novo no cinema sem muitos efeitos especiais. Desta vez, ele levou a britânica Tilda Swinton para a Colômbia, onde ela começa a ouvir um estranho ruído (um baque) dentro da cabeça que apenas ela ouve. A explicação para esse misterioso barulho mostra que há muito mais mistérios neste mundo do que a gente pode esperar. No Mubi.
6. Argentina 1985 - O diretor Santiago Mitre fez o grande filme político do ano. Moral da história: os argentinos julgaram, condenaram e prenderam seus ditadores por terem feito da violência, da tortura e do assassinato uma política de Estado; nós, aqui no Brasil, não chegamos nem perto disso. Num processo judicial de Davi contra Golias, o improvável aconteceu, e a justiça se fez logo após o fim da ditadura. Ah, e se é argentino, tem Ricardo Darín, "por supuesto"! No Prime Video.
5. Tudo em todo lugar ao mesmo tempo - Este filme de ação estreou no final de junho e parecia ser apenas mais um passatempo do calendário de verão americano. Nada para se lembrar por mais de três dias. Mas a aventura de Daniel Scheinert e Daniel Kwan se provou muito mais do que isso: consegue levar a linguagem do metaverso, que seduz jovens no mundo todo, para o cinema. Michelle Yeoh é a dona de uma lavandeira à beira da falência e com mil problemas com a fiscal da Receita (Jamie Lee Curtis) que encontra no metaverso uma saída bem turbulenta para os seus problemas. O filme já conquistou seis indicações no Globo de Ouro, e não será surpresa se chegar bem ao Oscar. Para aluguel no Prime Video, Apple TV+, YouTube e GooglePlay.
4. O Acontecimento - Há muitos filmes sobre o aborto, mas poucos com a força do filme da francesa Audrey Diwan. Adaptado de um romance autobiográfico da francesa Annie Ernaux, vencedora do Nobel de Literatura deste ano, o filme acompanha a saga de Anne, que se descobre grávida nos anos 60 e decide, contra tudo e todos, interromper a gravidez. O filme é muito eficiente ao mostrar como o mundo masculino (o pai, os médicos, a lei) não tinha a menor empatia com o drama da mulher. Será que muita coisa mudou 60 anos depois? Na HBO Max.
3. Pleasure - Desde "Boogie Nights" (1997), um filme não mostrava de forma tão implacável a indústria do pornô em Los Angeles. Mas se no primeiro era um ator pornô (Mark Wahlberg) que passava pela via crúcis desse mundo, agora a coisa é bem mais cruel com Bella (Sofia Kappel), uma garota sueca de 19 anos que chega disposta a vencer como estrela pornô e descobre que o machismo é especialmente cruel nesse universo - e os homens podem facilmente romper a barreira do consentimento. A diretora e roteirista Ninja Thyberg não poupa o espectador um segundo da sordidez que Bella enfrenta de cabeça erguida. No Mubi.
2. O Contador de Cartas - Paul Schrader é mais conhecido como o roteirista de "Taxi Driver" do que por sua carreira de diretor. Aos 76 anos, também está construindo uma sólida carreira de polemista na internet, atacando Hollywood e falando mal dos colegas. Desde "Fé Corrompida" (2017), seus filmes têm alcançado um outro patamar, fazendo a radiografia das grandes neuroses da sociedade americana. Aqui, Oscar Isaac é um ex-militar da Guerra do Iraque que ganha a vida como jogador de pôquer profissional em cassinos do país inteiro. Os traumas da guerra e o fetiche pela jogatina se misturam numa história que ainda tem mais uma dezena de personagens interessantes e a melhor atuação da carreira de Isaac. No Telecine Play.
1. Aftersun - Não tem prazer maior para um cinéfilo do que descobrir um novo diretor (ou diretora). Depois de alguns curtas premiados, a escocesa Charlotte Wells estreou com este pequeno filme que virou a sensação do final do ano, vencendo o Prêmio do Júri na Mostra de São Paulo. Uma jovem adulta relembra um curto período de férias que passou com o pai distante, com quem ela não foi criada. Um filme cheio de silêncios e impregnado de uma feminilidade toda especial na maneira de encarar a vida, o amor e a memória. E uma atuação brilhante da menina Frank Corio e de Paul Mescal (de "A Filha Perdida"). Em cartaz nos cinemas; estreia na Mubi em 6 de janeiro.
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