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Thiago Stivaletti

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pedro Paulo Rangel alimentava a TV com a força do teatro

O ator Pedro Paulo Rangel faleceu aos 74 anos - Reprodução
O ator Pedro Paulo Rangel faleceu aos 74 anos Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

21/12/2022 11h36

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Pedro Paulo Rangel fazia parte daquela geração que despontou na TV no final dos anos 60 já com uma bagagem importante nas costas: o teatro. Ele já tinha participado da histórica montagem de "Roda Viva" de José Celso Martinez Corrêa, no Teatro Oficina em São Paulo quando estreia em 1969 na TV Tupi na novela "Super Plá", de Bráulio Pedroso.

Baixinho, sem pinta de galã - o único papel nessa linha foi em "Saramandaia", de 1976, já na Globo -, Pedro Paulo cavou seu espaço na TV com o talento dos palcos, carisma e uma forte verve para o humor. Já em 1975, sob a direção de Walter Avancini, ele protagoniza um dos primeiros nus da TV em "Gabriela", novela que ajudou a quebrar vários tabus sexuais que ainda resistiam sob a censura dos militares.

No mundo do humor, Rangel primeiro se fez notar ao lado de Jô Soares no "Viva o Gordo". Era o início dos anos 80. No final daquela década, ele entrava para o lendário time da "TV Pirata", ao lado de Ney Latorraca, Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães e de seu amigo da vida toda, Marco Nanini. "

"Era uma loucura. A gente se maquiava de preto para fazer um personagem. De repente chegava um assistente e dizia que estava errado, era hora de fazer uma japonesa, e tirava toda a sua maquiagem. Uma bagunça completa, mas no final dava tudo certo. Televisão é assim", declarou no "Vídeo Show" em 2017.

Nos anos 80 e 90, só fizeram bem ao seu currículo algumas minisséries da época em que a Globo adaptava grandes clássicos da literatura, como "O Primo Basílio" (1988), de Eça de Queirós, e "Engraçadinha" (1995), de Nelson Rodrigues. Nesta última, ele era Zózimo, o marido traído da protagonista (Claudia Raia) que sabia e perdoava todo o passado conturbado dela. Flamenguista roxo, Zózimo era uma brincadeira de Nelson, que era fluminense fanático e fazia de quase todo personagem de "corno" um flamenguista.

No país das novelas, porém, é por elas que um ator como Rangel será lembrado por mais tempo. Em 1988, ele participa da novela mais marcante da história - "Vale Tudo", de Gilberto Braga - como Polyana, um otimista incorrigível que se tornava braço direito da heroína Raquel Acioly (Regina Duarte). Em 1992, como Adamastor, ele dá uma contribuição inestimável para a comunidade gay na TV ao sair do armário e fazer uma emocionante declaração de amor para o seu melhor amigo Carlão (Paulo Betti) em "Pedra sobre Pedra". Foi num daqueles monólogos que a TV não faz mais, e que mostravam a força de um ator com sólida carreira no teatro, nos quais venceu três Prêmios Molière e dois Prêmios Shell.

Nos anos 2000, dois papéis marcaram o imaginário do público: o caipira Calixto de "O Cravo e a Rosa" (2000), que vivia às turras com sua amada Mimosa, e no qual pôde mostrar todo o seu potencial cômico ao lado de outra gigante do teatro, Suely Franco; e o Gigi de "Belíssima", que se opõe às maldades de sua irmã, a vilã Bia Falcão (Fernanda Montenegro).

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Seu último trabalho foi uma pequena participação na minissérie "Independências", dirigida por Luiz Fernando Carvalho na TV Cultura. Na TV de hoje, em que a beleza e o número de seguidores nas redes valem mais do que o trabalho nos palcos, seu talento fará bastante falta.