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Thiago Stivaletti

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem grandes zebras, Oscar consagrou o filme mais ousado do ano

Colunista do UOL

13/03/2023 03h51

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Tudo bem, ninguém esperava um novo tapa ou briga no palco como a de Will Smith com Chris Rock para esquentar a festa do Oscar 2023. Mas pelo menos uma zebra, um prêmio inesperado nas categorias principais, teria feito bem ao prêmio mais comentado do cinema mundial.

Foi uma cerimônia previsível, em que tudo seguiu dentro dos protocolos. Ao contrário de 2022, quando o Oscar de melhor filme a "Coda - No Ritmo do Coração" foi questionado por todo mundo, este ano o recordista de prêmios foi o filme mais ousado do ano — e favorito desde que as indicações foram anunciadas.

"Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" levou 7 dos 11 Oscars a que concorria, incluindo um fato raríssimo: três prêmios de atuação, para Michelle Yeoh (a primeira asiática vencedora na categoria), Jamie Lee Curtis e Ke Huy Quan (coadjuvantes). Essa trinca só havia acontecido outras duas vezes, em 1952 com "Um Bonde Chamado Desejo" e em 1977 com "Rede de Intrigas".

Fora esses prêmios, a lavada foi geral com as estatuetas de melhor filme, direção, roteiro original e montagem. Nenhum deles foi injusto. A história da dona de lavanderia que entra no multiverso depois de problemas com a Receita mistura ação, comédia e um pouco de drama e surpreende a cada nova cena. Pode ser um pouco frenético demais para espectadores pré-Geração X, mas respira inventividade do começo ao fim.

Outra surpresa (que não chegou a ser bem uma zebra) se refere aos quatro prêmios para o filme de guerra alemão "Nada de Novo no Front". Todos já esperavam os de fotografia e filme internacional, mas a produção ainda ficou com os de direção de arte e trilha sonora.

Essa concentração de prêmios em dois filmes acabou prejudicando outros quatro grandes indicados, que saíram de mãos abanando: "Os Banshees de Inisherin" (9 indicações), "Elvis" (8), "Os Fabelmans" (sete) e "Tár" (seis). Correndo pela beirada, o drama feminino (e feminista) "Entre Mulheres", que tinha apenas duas indicações, garantiu o prêmio de roteiro adaptado. "Top Gun"e "Avatar" também garantiram os seus (melhor som e efeitos especiais, respectivamente).

Não houve nada de novo no front em quase toda a cerimônia, mas, quem diria, foi a categoria melhor canção que trouxe um mínimo de emoção para a noite. Se por um lado Rihanna fez uma apresentação impecável (e há muito aguardada) da música-tema de "Pantera Negra: Wakanda para Sempre", Lady Gaga fez o contrário: confirmou sua participação de última hora, botou camiseta e jeans básico e mandou um banquinho e violão digno de barzinho de Copacabana para a música de "Top Gun: Maverick". Mas (surpresa) ambas foram engolidas pelo épico indiano "R.R.R.", que venceu na categoria depois de uma apresentação ultra-Bollywood.

Brendan Fraser confirmou seu favoritismo por "A Baleia" e não deixou de mencionar o episódio de assédio sexual de que foi vítima, lembrando que "há alguns anos, minha carreira foi interrompida" e celebrando esse grande retorno.

Se faltou novidade e imprevistos no Oscar, e nenhum momento deste ano vai ficar para história, também não dá para dizer que foi uma cerimônia totalmente chata. A Academia garantiu mais ritmo para a entrega dos prêmios do que nos últimos anos.

E um momento garantiu a importância do Oscar para o mundo: no Oscar de melhor documentário a "Navalny", a mulher do dissidente russo que hoje se encontra preso numa solitária pelo ditador Vladimir Putin fez um discurso emocionado pela liberdade e pela democracia. Um belo soco no estômago de um dos maiores autocratas do planeta, que há mais de um ano conduz a desastrosa Guerra da Ucrânia. Se cinema também é liberdade de expressão, o Oscar mostrou que nem só de bilheteria vivem os prêmios de Hollywood.