Topo

Thiago Stivaletti

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Se o BBB 23 fosse uma novela, o autor já estaria no olho da rua

BBB 23: Brothers se reúnem na sala para formar o 12º Paredão - Reprodução/Globoplay
BBB 23: Brothers se reúnem na sala para formar o 12º Paredão Imagem: Reprodução/Globoplay

Colunista do UOL

05/04/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Como sou noveleiro por formação e deformação, sinto que, na cabeça e na alma dos brasileiros, uma edição do BBB é melhor quanto mais próxima ela estiver de uma boa novela.

Houve ao menos duas edições que fizeram Manoel Carlos e Gilberto Braga pensarem: "taí... eu gostaria de ter escrito essas tramas todas." No BBB5, Jean era o gay hostilizado pelo médico vilão Doutor Gê, que encontrava amparo na linda, loira e amiga Grazi, recolhia uma paixão pelo namorado da amiga, Allan... e ainda tinha outra ótima amiga no núcleo cômico da novela: a divertida Tati Pink. Jean foi o mocinho que apanhou tanto nessa novela, fez o público sofrer tanto junto com ele que acabou consagrado campeão no último capítulo.

Nem Gilberto Braga teria pensado num final mais delirante: entra aquele aviso de "anos depois", e Grazi, antes uma BBB sem muito traquejo, torna-se uma grande atriz premiada com o Emmy; e Jean torna-se deputado federal defendendo os direitos dos LGBTQIA+ (a novela tomou um caminho amargo, com Jean abdicando do seu cargo e indo embora do país com medo de ameaças de morte dos bolsonaristas. Mas tenho fé que essa novela ainda terá outra reviravolta).

A edição 21 não foi tão perfeita quanto a 5, mas quase chegou lá. No início meio sem graça, meio mala sem alça, Juliette enchia a paciência de todos, mas aos poucos foi se tornando a mocinha perfeita amada pelo público. A vilã Karol Conká se revelou desde o primeiro capítulo, aprontou vilanias demais em muito pouco tempo e o público não perdoou.

Lumena, a feminista desconstruída, apontava o dedo na cara de todos e fez todo mundo se repensar - era um pouco como aqueles personagens didáticos da Glória Perez, imbuídos de uma boa ação social. Como acontece com todo galã muito bonito, o público passou pano pro Fiuk até o final. Gil do Vigor foi o personagem certo na mão do ator certo: carismático, sempre surpreendente e uma fábrica de bordões que o espectador lembra até hoje.

E o que dizer da edição 23? Creio que, se ela fosse uma novela, o autor já estaria no olho na rua. A maioria dos personagens é fraco, sem muita expressão. Fred Nicácio, o grande personagem da trama, alvo de racismo mas também um trator na hora de se defender, saiu da trama antes de a novela chegar à metade.

MC Guimê, ótimo jogador e estrategista, assediou fisicamente uma convidada mexicana assim como o galã da casa, Cara de Sapato, e ambos foram limados sumariamente. A decisão da Globo foi acertada, mas acabou que o BBB foi virando um grande jardim, com plantas por todos os lados. OK, estou pegando pesado: Alface, Black e alguns outros sabem instigar um bom conflito.

Mas é um pouco como se, em "Avenida Brasil", a Carminha, melhor personagem da história, tivesse caído fora já no capítulo 50, o Max desaparecesse no 70, Nilo e Mãe Lucinda lá pelo 90, sobrando metade da novela só para o amor lindo mas sonífero de Nina e Jorginho. Sem Nina no buraco do cemitério, sem "me serve, vadia!", nada.

E aí, como o "autor" Boninho tinha duas semanas de sobra com a saída abrupta dos assediadores, teve a brilhante ideia de trazer os eliminados de volta. Derrubou as peças do tabuleiro no chão e começou de novo. Imagina se o autor de qualquer novela decidisse "ressuscitar" nove personagens que já estivessem mortos e enterrados... Ia ser chamado de truqueiro para baixo.

Enquanto o BBB 24 não vem, vou continuar nas minhas novelinhas mesmo. Lá os capítulos costumam terminar com alguma cena de alto impacto, bem melhor que aquela barulheira do Modo Stone depois da eliminação.