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Thiago Stivaletti

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Séries 'Os Outros' e 'Amor e Morte' levam a violência para dentro de casa

Elenco da série "Os Outros", estreia da Globoplay - Divulgação;Globoplay
Elenco da série "Os Outros", estreia da Globoplay Imagem: Divulgação;Globoplay

Colunista do UOL

14/06/2023 18h02

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Se no cinema os filmes de terror seguem como um dos preferidos do público adolescente, os adultos agora têm um gênero à parte para chamar de seu no streaming: o terror doméstico. São histórias em que o horror e a violência aparecem onde não se pode fugir deles: dentro de casa.

Duas séries muito comentadas nas últimas semanas partem dessa situação que deixa o espectador à flor da pele. "Os Outros" (Globoplay) mostra duas famílias que vivem no Barra Diamond, um condomínio fictício na Barra da Tijuca, no Rio. Dois adolescentes brigam depois de uma partida de futebol. Um deles dá uma surra no outro, que precisa ir para o hospital. Quando os pais se reúnem para resolver o conflito, ele só aumenta. Cibele (Adriana Esteves), mãe da vítima, sobe o tom e cospe na cara do pai do agressor, Wando (Milhem Cortaz). A briga vai parar na polícia. Com o argumento de que precisa se defender, ela arruma uma arma com Sérgio (Eduardo Sterblitch), um ex-policial mau caráter que mora no condomínio. Nem preciso dizer que essa arma vai parar em mãos erradas e só faz aumentar a tensão entre as duas famílias.

Sem fazer discurso, "Os Outros" acaba falando da cultura armamentista que ganhou força no Brasil a partir da ascensão de Bolsonaro, um presidente que falou, em plena reunião ministerial, que toda a população deveria se armar. Pelas atitudes dos personagens, dá pra saber quem é lulista ou bolsonarista, mesmo que o roteiro não enverede abertamente para a política em momento algum. E a série ainda toca em várias outras feridas do Brasil atual, como a uberização do trabalho, o modus operandi das milícias para resolver conflitos, a exploração do trabalho alheio e a falta do senso de coletividade.

Amor e Morte - Divulgação/ HBO Max - Divulgação/ HBO Max
Elizabeth Olsen estrela 'Amor e Morte', na HBO Max
Imagem: Divulgação/ HBO Max

Numa pegada mais "true crime", "Amor e Morte" (HBO Max) reencena a história real de Candy Montgomery, uma pacata dona de casa de uma pequena cidade do Texas que em 1980 que foi acusada de matar sua amiga Betty com 42 golpes de machado dentro da casa da amiga. O crime dominou a mídia americana durante meses porque, além da brutalidade, toda a história em volta dele despertava curiosidade: Candy havia tido um caso com o marido da vítima, Allan; as famílias eram tão amigas que, no momento do crime, ela estava cuidando da filha de Betty, melhor amiga da sua própria filha; logo depois do crime, Candy retomou sua rotina de mãe e dona de casa como se nada tivesse acontecido, sem contar o ocorrido nem mesmo para o marido, até a polícia detê-la.

Elizabeth Olsen, que um dia já foi a irmã menos famosa das gêmeas Ashley e Mary-Kate, tem uma atuação surpreendente como Candy, tentando manter o controle enquanto o mundo está desabando em volta dela, preparando o café da manhã das crianças enquanto espera o momento em que vai perder tudo o que tem. Não vou dar spoilers porque o crime não é conhecido no Brasil, e você pode não saber o desfecho - que é surpreendente. Mas vale dizer que, ao longo dos sete episódios, Olsen vai despertando a nossa simpatia para uma personagem tão controversa. A produção é de David E. Kelly e Nicole Kidman, que também estiveram por trás de outra série genial sobre donas de casa desesperadas, "Big Little Lies".

Os Outros
Novos episódios às quartas e sextas na Globoplay

Amor e Morte
Todos os sete episódios disponíveis na HBO Max