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Sete motivos que comprovam que 'Vai na Fé' é a melhor novela do ano
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Como fazer uma novela antenada com as novas demandas sociais, sem perder a essência do melodrama? Rosane Svartman está provando que isso é bem possível. "Vai na Fé" (Globo) é sua melhor novela — e olha que ela já escreveu tramas muito queridas do público como "Totalmente Demais" (2015) e "Bom Sucesso" (2019).
A seguir, sete motivos pelos quais a novela das sete é a melhor — e de longe a mais importante — do ano:
1. O vilão é (finalmente) um macho tóxico e abusivo
Um ET que descesse na Terra e visse as novelas dos últimos 50 anos ia achar que as mulheres são más e perversas, vivem brigando e adoram disputar homens puros e inocentes. Nina e Carminha, Laura Cachorra e Maria Clara, Tieta e Perpétua, Maria do Carmo e Laurinha Figueiroa... são infinitos os exemplos de grandes rivalidades femininas na TV.
Enquanto elas são puras criações dos seus autores, o Theo (Emílio Dantas) de "Vai na Fé" existe aos montes por aí: é um homem tóxico que contamina todas as relações à sua volta e estuprou a protagonista, Sol (Sheron Menezzes), quando eles eram jovens.
Como costuma acontecer na vida real, ele até hoje não admite que aquilo que fez com Sol foi um abuso — e já descobrimos que ele fez muitas outras vítimas ao longo da vida.
2. A sororidade rola solta
No começo, algumas mulheres da novela até tinham suas tretas, mas agora estão identificando Theo como o mal maior a ser combatido e estão formando uma forte rede de solidariedade. Clara (Regiane Alves) comprou uma briga contra Kate (Clara Moneke) quando descobriu que ela foi amante de seu marido antes de namorar seu filho, mas depois começou a entender que ela foi uma presa fácil nas mãos de Theo.
A última a acordar foi Lumiar (Carolina Dieckmann), que estava caída por Theo, mas teve que se render às dezenas de evidências contra o mau-caráter.
3. O presente no passado
Verdade seja dita: o mérito da novela não é só da autora, mas também dos diretores. Eles mandam muito bem nas cenas em que as versões jovens de Sol, Theo e Ben interagem nas mesmas cenas que os adultos — já que o passado nunca foi embora. Outro dia, a Sol adulta teve uma conversa emocionada com sua própria versão jovem, convencendo-a de que ela não teve culpa no episódio em que foi estuprada.
Outros "Easter eggs" (surpresinhas) aparecem em vários capítulos, como o dia em que Theo e o filho tiveram uma conversa cantando uma música do Cazuza, e o dia em que vários personagens apareceram cantando "Tempo Rei", em homenagem aos 81 anos de Gilberto Gil.
4. A lutra contra o etarismo
A TV não costuma ter muito amor por personagens de mais de 60 anos — ainda mais se tiverem doenças graves. Dora (Claudia Ohana, que completou 60 neste ano) tem um câncer e tem poucos meses de vida. Ela é cuidada pelo marido, pela filha Lumiar e outros amigos.
Como todo doente de longo prazo, vive dias bons e ruins, momentos de desespero e outros de esperança, mas sente a tranquilidade de uma vida bem vivida, apesar de abreviada pela doença. A novela lembra que sobra quase sempre à filha mulher a tarefa de cuidar dos pais idosos, nem por isso esse núcleo de personagens é maçante.
5. A diva Wilma
Wilma (Renata Sorrah) é uma atriz que já viveu dias melhores na carreira. Além de combater o etarismo — chegou a gravar um depoimento em que dizia "eu cometi um grave crime: eu envelheci" —, ela é uma verdadeira enciclopédia sobre TV, teatro e cinema.
Já encenou a clássica cena do vestido de noiva da novela "Vale Tudo", vive citando papéis que perdeu (Giulia Gam teria roubado dela o papel de Aline em "Que Rei Sou Eu?", apesar da diferença de idade). Ao contrário de Lui Lorenzo (José Loreto), que perdeu força nesta segunda metade da novela, sua mãe segue brilhando.
6. O lado bom da fé
Pode-se argumentar que a abordagem da fé na novela seja um tanto ingênua — e é mesmo. Por outro lado, há muito tempo uma novela da Globo não mostrava como a religião ajuda a manter o ânimo e a esperança numa família de classe média baixa como a de Sol. A exploração da fé com seus dízimos e a manipulação política pela extrema direita ficam de fora da conta — para não azedar o caldo.
7. Os problemas da Geração Z
Se por um lado a Geração Z parece ter tudo o que quer na palma da mão com um smartphone, por outro está acometida de ansiedade em níveis alarmantes. "Vai na Fé" faz um retrato carinhoso e atencioso dessa geração em personagens como Rafa (Caio Manhente), o filho de Theo que tem crises de pânico e precisa de remédios controlados, e Guida (Mel Maia), a influenciadora que precisa lidar com os altos e baixos da popularidade e o pavor do cancelamento.
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