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Thiago Stivaletti

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Com elenco afiado, remake de 'Elas por Elas' respeita a comédia da original

Depois de "Pantanal", está aberta a temporada dos remakes na Globo. Mais de quarenta anos depois, a Globo estreou hoje (25), na faixa das seis, o remake de "Elas por Elas" (1982), novela de Cassiano Gabus Mendes sobre o reencontro de sete amigas de colégio. No próximo ano será a vez de "Renascer" (1993) ganhar uma nova versão às nove.

Neste primeiro capítulo, já deu pra ver que a diretora Amora Mautner (por trás do sucesso de "Avenida Brasil") soube respeitar a alma da novela original, com muita leveza e os dois pés na comédia.

Se a original abria em clima pesado com a morte do irmão de Natália (Joana Fomm) no passado, o remake abriu com um ótimo plano-sequência dos personagens muito jovens, 25 anos atrás, em torno de uma piscina. A foto feita naquele dia serviu de mote para a perua Lara (Deborah Secco) apresentar cinco das seis amigas que vão comandar a trama.

Deborah Secco e Isabel Teixeira apresentaram Lara e Helena num tom de farsa, dois dedos acima das atrizes originais (Eva Wilma e Aracy Balabanian). Thalita Carauta e Késia Estácio não fugiram muito do tom de Esther Góes e Sandra Bréa, com Adriana e Thaís. Natália (Mariana Santos) continua como a amarga da história, e a Carol de Karine Telles parece ser menos refinada, mais tímida e atrapalhada do que a Marlene de Mila Moreira.

E há ele, Mário Fofoca, o detetive atrapalhado que foi um dos grandes personagens de Luiz Gustavo. Mário orbitava num universo de adultério e machismo muito difícil de abordar numa novela de 2023, e será interessante ver o caminho que os autores e Lázaro Ramos darão pro personagem. O caso que ele "resolveu" no primeiro capítulo, envolvendo seu amigo Eduardo (Luís Navarro), já indicou que a essência do personagem está ali. Pena que Navarro é um ator iniciante e não tem a experiência que Reginaldo Faria tinha na trama de 1982 - sua química com Luiz Gustavo foi uma das almas da trama original, e levou Cassiano a escrever os costureiros de "Ti-Ti-Ti" para eles três anos depois.

Além disso, deu pra ver que algumas pautas de tom mais social podem deixar a nova "Elas por Elas" menos fútil em seus temas do que a primeira. Isis (Rayssa Bratillieri) é uma ativista dos animais que participa de um protesto contra a empresa de Helena, enquanto a mocinha da novela original (Tássia Camargo) não gostava de trabalhar, nem tinha grandes pretensões na vida. E, como os autores já adiantaram, a sororidade (solidariedade entre as mulheres) dará mais o tom agora, ganhando uma importância acima dos eventuais conflitos entre as amigas.

No segundo capítulo vamos conhecer Renée (Maria Clara Spinelli), a amiga trans que vai ensinar muito sobre novas identidades às amigas e ao público de casa - uma adaptação muito bem-vinda sobre a original.

E quanto ao outro motivo que manteve "Elas por Elas" estes anos na memória dos noveleiros: a abertura, uma das melhores já feitas pela Globo, que fundia imagens atuais das amigas com fotos antigas, uma criação de Hans Donner. A música continua lá, mas a ideia original foi trocada por uma colagem das amigas num colorido à la Almodóvar. Uma pena: manter a ideia original teria sido mais ousado.

Depois do romance açucarado de "Amor Perfeito", a Globo aposta numa comédia às 18h, fazendo uma dobradinha com a novela das 19h, "Fuzuê". Em tempos de orçamento apertado do brasileiro, rir nunca é demais, e será interessante ver se a nova "Elas por Elas", independente da nostalgia dos mais velhos, vai cair no gosto do público. Neste primeiro capítulo, ela já mostrou que tem elenco e direção afiados pra isso.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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