Thiago Stivaletti

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Opinião

'Nyad' mostra que streaming é tábua de salvação para ex-astros de Hollywood

No clássico "Crepúsculo dos Deuses" (1950), de Billy Wilder, um roteirista desempregado (William Holden) encontra Norma Desmond (Gloria Swanson), uma atriz decadente que foi estrela do cinema mudo. Ele lhe diz: "Ei... eu conheço você! Você já foi grande." Ao que ela responde, contrariada: "Eu sou grande! Os filmes é que ficaram pequenos."

Num tempo em que os filmes realmente ficaram pequenos, e os vemos mais na TV ou no celular do que na tela do cinema, as grandes estrelas de cinema dos anos 80 e 90 vagam como fantasmas procurando projetos que lembrem da sua antiga grandeza.

Duas estrelas dessa época já distante encontraram esse projeto na Netflix. Annette Benning e Jodie Foster são o corpo e a alma de "Nyad", filme que a Netflix lançou há alguns dias. É a história de Diana Nyad, nadadora com uma história de superação que renderia muitos Oscars nos anos 90. Aos 28, ela tentou pela primeira vez nadar os 165 quilômetros que separam Havana de Key West, na Flórida.

Aos 60 anos, Nyad começou a pensar de novo na travessia — e claro que todos os amigos a tacharam de louca, incluindo sua melhor amiga, a treinadora, Bonnie Stoll. Em 2013, quatro tentativas e muitos contratempos depois, Nyad realizou a façanha provando que nunca é tarde para recomeçar.

Na verdade, nadou 12 quilômetros a mais, devido às correntezas, e precisou de 53 horas — pense nadar por mais de dois dias seguidos, sem dormir e se alimentando por tubos. (Outros dois nadadores realizaram a travessia antes dela, mas protegidos por uma jaula contra tubarões; ela foi a primeira a conseguir sem a tal jaula).

Annette Benning vive Nyad por sua semelhança física. Ela nunca foi uma gigante de Hollywood, mas é uma atriz poderosa que já entregou atuações inesquecíveis como a esposa histérica em "Beleza Americana" (2000), ou a golpista de "Os Imorais" (1990).

Jdie Foster é um ícone maior na cabeça dos cinéfilos. Ao vê-la como a simpática treinadora de Nyad, corre todo um filme na cabeça: da menina prostituta de "Taxi Driver" (1976) até Clarice Starling, a policial que desenvolve uma relação especial com o canibal Hannibal Lecter, em "O Silêncio dos Inocentes" (1991). Sem esquecer da jovem violentada que não desiste até botar na cadeia os homens que a estupraram em "Acusados" (1988). Por esses dois últimos, Jodie venceu merecidos Oscars.

É no mínimo interessante vê-la num papel mais simples, servindo de escada para Benning — algo que os produtores da velha Hollywood talvez não permitissem.

Assim como Nyad provou que é possível ser uma grande nadadora e quebrar recordes aos 60, Benning e Foster provam que não existe idade para uma grande atriz brilhar, ainda que numa tela pequena.

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Confira outros bons filmes com grandes astros de Hollywood que foram produzidos por plataformas de streaming:

"Let Them All Talk" (HBO Max) - Meryl Streep faz uma escritora vencedora do Pulitzer que precisa receber um prêmio em Londres e decide ir até lá de navio, reunindo duas de suas antigas amigas de faculdade e um sobrinho. Velhos ressentimentos vêm à tona, num filme que ainda tem a grande Dianne Wiest (Oscar de atriz coadjuvante por "Tiros na Broadway", de Woody Allen).

"Camaleões" (Netflix) - Neste policial carregado de climão e uma direção tensa, Benicio del Toro vive um policial que precisa descobrir o assassino de uma jovem corretora de imóveis, casada com um homem ambíguo (Justin Timberlake). O filme ainda tem Alicia Silverstone, outro ícone dos anos 90 com "As Patricinhas de Beverly Hills", como a mulher do detetive.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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