Thiago Stivaletti

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Opinião

Os cinco melhores filmes brasileiros de 2023

Mesmo na rebarba do governo Bolsonaro, que sufocou os mecanismos de financiamento, o cinema brasileiro conseguiu lançar este ano trabalhos cheios de criatividade que retratam questões fundamentais do país.

Se por um lado essa produção foi abundante, por outro esses filmes são cada vez menos vistos — somando-se as comédias populares, ainda órfãs de Paulo Gustavo, e as dezenas de filmes mais autorais, a parcela da bilheteria nacional não chega a 5% do total. Em época de férias, vale correr atrás dos melhores filmes do ano, que ainda estão no cinema ou já chegaram ao streaming:

5. ELIS & TOM

Num tempo em que as pessoas vão menos ao cinema, um documentário que supera a marca dos 40 mil ingressos não é pouca coisa. A proeza se deve a Elis Regina e Tom Jobim, dois gigantes da nossa música que seguem lembrados pelos amantes da MPB mais de 40 anos depois da morte dela, e quase 30 anos depois da morte dele.

"Elis & Tom" fascina porque não é o documentário tradicional sobre a vida dos dois artistas, mas a criação de um dos grandes álbuns da nossa música — e como dois artistas que não se entendem vão chegando a uma afinação espiritual em nome da música. As imagens de arquivo raríssimas e inéditas das gravações são o ponto alto de um filme que faz a gente sair cantando. Ainda em cartaz nos cinemas, e disponível no streaming a partir de R$ 12,90.

Cena do filme "Medusa"
Cena do filme "Medusa" Imagem: Divulgação

4. MEDUSA

Num país dominado pelas igrejas evangélicas e pela violência, uma gangue de meninas "cristãs" assume para si a tarefa de punir garotas libertinas, que fazem sexo fora do namoro e do casamento.

Em seu segundo longa, a diretora Anita Rocha da Silveira conta uma história de terror que infelizmente tem os dois pés fincados na onda moralista do Brasil neoconservador de hoje. A fotografia banhada num neon anos 80 e as fortes atuações do elenco jovem, que ainda tem os globais Bruna Linzmeyer e Thiago Fragoso, só jogam a favor. No streaming do Telecine.

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Yuri Marçal e Aílton Graça vivem Mussum em diferentes momentos da vida no filme
Yuri Marçal e Aílton Graça vivem Mussum em diferentes momentos da vida no filme Imagem: Reprodução/Instagram

3. MUSSUM, O FILMIS

Num ano dominado pelas biografias de famosos nos filmes e séries (Claudinho & Buchecha, Chitãozinho & Xororó, Mamonas Assassinas, Anderson Silva), a história de Antônio Carlos Bernardes Gomes, um talento do grupo Originais do Samba que precisa abrir mão da música em nome da comédia nos Trapalhões, destacou-se pelas suas escolhas.

Em vez de reforçar o estereótipo do Trapalhão cachaceiro que pesava sobre ele um Brasil racista, o filme de Silvio Guindane prefere destacar as qualidades do artista de carisma inigualável que encantou Grande Othelo, Chico Anysio, Alcione e todo o Brasil. Há espaço até para lembrar de leve a briga que separou Renato Aragão dos Trapalhões por seis meses. E há a composição perfeita de Ailton Graça, no melhor trabalho de sua carreira;

Cena do filme "Mato Seco em Chamas", de Adirley Queirós
Cena do filme "Mato Seco em Chamas", de Adirley Queirós Imagem: Divulgação

2. MATO SECO EM CHAMAS

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O cinema tenta muitas fusões entre ficção e documentário, mas nenhuma é tão genial quanto esta. Em Ceilândia, na periferia de Brasília, o petróleo é a principal moeda de troca, e Chitara comanda a gangue das Gasolineiras de Kebradas, num mundo onde a igreja também tem o seu poder.

Ex-detentas da vida real contam suas histórias enquanto encenam uma história de empoderamento que é puro suco de Brasil. Para aluguel na Apple TV e Google Play a partir de R$ 3,90.

Kauan Alvarenga e Maeve Jinkings em cena de "Pedágio"
Kauan Alvarenga e Maeve Jinkings em cena de "Pedágio" Imagem: Divulgação

1. PEDÁGIO

Suellen trabalha no pedágio do sistema Anchieta-Imigrantes em Cubatão e cria sozinha o filho Tiquinho. Ela não se conforma com a homossexualidade do filho e decide gastar o dinheiro que não tem para colocar o menino numa terapia de "cura gay".

Para conseguir esse dinheiro, ela vai se envolver em negócios bem escusos ao lado do namorado, Arauto. Depois de "Carvão", a diretora Carolina Markowicz volta com mais um conto sombrio do Brasil neoconservador e suas contradições, em que a corrupção é mais bem aceita do que as identidades que ofendem "a moral e os bons costumes". Em cartaz nos cinemas.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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