Exuberante, 'Renascer' estreia respeitando o ritmo lento da original
A magia de Benedito Ruy Barbosa está de volta. Apostando no mesmo sucesso de "Pantanal" há dois anos, a Globo estreou seu remake de "Renascer" com um capítulo de 90 minutos digno de Hollywood - e da trama original. Panorâmicas de cachoeira, lindos closes do cacau e das fazendas, tudo foi feito pra encher os olhos e fisgar o espectador. Como num bom faroeste, além da beleza, a violência também deu as caras, com o escalpelamento do jovem José Inocêncio (Humberto Carrão) e sua providencial costura pelo libanês (e não turco) Rachid (Gabriel Sater). Tudo sem nenhum plano óbvio, honrando a direção do jovem Luiz Fernando Carvalho 31 anos atrás.
Bruno Luperi, neto de Benedito responsável pela nova versão da história de José Inocêncio, mostrou que não está aí apenas para reeditar a história do avô e propôs dois novos personagens fortes: o asqueroso Coronel Firmino (Enrique Diaz, num visual bem asqueroso) e a boa fazendeira Cândida (Maria Fernanda Cândido, em bela atuação). Juliana Paes também já mostrou que vai construir uma Jacutinga totalmente distinta de Fernanda Montenegro pra evitar comparações. E ainda há Matheus Nachtergaele, Antônio Calloni e um conjunto de atores que a Globo não reúne mais em toda novela.
Mas o grande acerto do remake, agora nas mãos do diretor Gustavo Fernández foi manter o ritmo sem pressa nenhuma da novela original. Esse foi um dos principais atrativos do remake de "Pantanal", e pode dar certo de novo - já que o público anda cansado de tramas urbanas e movimentadas (vide a problemática "Terra e Paixão"), e pode querer mergulhar nas imagens de Ilhéus para sair um pouco do ritmo acelerado do celular.
Em 1993, Benedito estreou "Renascer" na Globo já com um gostinho de vitória. "Pantanal" havia sido recusada pela emissora, e ele levou a ideia à Manchete, que topou a empreitada e produziu seu maior sucesso. De volta à Globo, teve carta branca pra criar uma história um pouco menos fantasiosa (afinal, não há uma Juma) mas igualmente cativante. No remake, vai ser interessante acompanhar o desenrolar lento e tranquilo dessa primeira fase, antes que Marcos Palmeira assuma José Inocêncio na segunda fase - reza a lenda que a Globo encolheu um pouco a primeira fase em 1993 com medo que o público se apegasse demais ao Coronelzinho de Leonardo Vieira. Em 2024, Humberto Carrão não é nenhum nome novo na Globo, mas consolida cada vez mais seu lugar de galã num universo que anda carente deles.
Por fim, é sempre bom comemorar que, em 2024, uma novela passada em Ilhéus precisa de um grande elenco negro - a começar por Maria Santa (Duda Santos), a grande paixão de José Inocêncio, vivida por Patrícia França na original. Depois de décadas de novelas passadas no Nordeste com elenco 99% branco ("Roque Santeiro", "Tieta"), a representatividade não é mais só um conceito teórico no horário nobre.
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