Nova Buba de 'Renascer' é mais empoderada e não mente como a de 1993
Trinta e um anos separam a primeira "Renascer" do remake que a Globo exibe agora, com texto atualizado por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa. Desde a gestão do novo projeto, Luperi nunca escondeu que o maior desafio seria atualizar Buba, a personagem "hermafrodita" vivida por Maria Luísa Mendonça, em 1993.
O termo hermafrodita nem é mais usado, e corresponde de certo modo ao intersexo da sigla LGBTQIA+. O autor optou por fazer da nova Buba (Gabriela Madeiros) uma mulher trans. A seguir, as principais diferenças e semelhanças entre as Bubas das duas versões:
É SEGREDO OU NÃO É?
O conflito da revelação aconteceu no remake, mas não na novela original. Em 1993, na primeira vez em que Buba aparece, logo no sexto capítulo, Zé Venâncio (Taumaturgo Ferreira) já tem plena consciência do gênero de Buba.
Num diálogo bem artificial, ele diz: "Você é o que chamam de PHF: pseudo-hermafrodita feminino. Ou seja: o falso hermafrodita." Ao que Buba responde: "Isso quer dizer que... eu sou mulher mesmo! O médico me disse isso desde que tive minha primeira menstruação".
Pouco tempo depois, Buba conta que achava que era um menino na infância, e nunca quis operar "por uma sensação de castração" — nada mais longe das cirurgias modernas de redesignação de gênero de hoje em dia.
No remake que está no ar, Venâncio (Rodrigo Simas) está saindo com Buba há um certo tempo quando ambos entram na novela. É só quando vão para cama pela primeira vez que Buba confirma ser uma mulher trans. Ele vive um breve conflito, mas em poucos dias aceita o gênero da mulher por quem está apaixonado e começa a lutar contra seus próprios preconceitos.
MUITO MAIS EMPODERADA
A Buba dos anos 1990 não tinha noção do que fosse um mínimo empoderamento feminino. Se orgulhava de cozinhar para o namorado todos os dias e de cuidar "das prendas do lar". É bastante insegura e dependente do amado — quando Venâncio diz que vai se separar dela, ela tem uma forte crise de choro.
"Você tem essa mania... você sempre se contenta com pouco", diz Venâncio numa cena. "É, né? E devo dar graças a Deus, que a outra na vida de um homem como você, meu amor... tem que se contentar com as sobras e fazer delas um banquete!", responde ela — falando sério.
Já a Buba de agora entra na novela decidida a não ficar com um cara que não vai bancar quem ela é. Só depois de Venâncio dar sérias provas de mudança é que aceita seguir com ele. Uma mudança e tanto.
A AMIZADE COM ZÉ INOCÊNCIO
Nas duas versões, ao visitar a fazenda de Zê Inocêncio, Buba logo se torna a nora preferida do sogro — muito mais do que Kika, a namorada de Zé Bento. E, em ambas, o coronel logo trata de pedir um herdeiro a Buba, sem saber que ela não pode gerar filhos naturalmente.
A novela original incluiu uma pérola de machismo do coronel (Antônio Fagundes): "Não se avexe não, Buba... Mulher foi feita para isso mesmo: para parir" — felizmente eliminada do remake. Na nova versão, a amizade chegou a ponto de uma troca de livros: Zé Inocêncio deu "Capitães da Areia", de Jorge Amado, de presente para nora, com direito a um bilhete supercarinhoso.
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Nas duas versões, Buba quer adotar um filho e está disposta a mover mundos e fundos para isso. Mas a Buba 93 não tinha muitos limites éticos para conseguir o que queria. Ao procurar uma instituição de caridade, com medo de ser rejeitada, ela mente e se apresenta como a rival, Eliana (Patrícia Pillar).
Quando Eliana lhe procura, ela também mente que está grávida para afastar de vez a inimiga. O cenário da nova Buba foi diferente: foi ela que chegou sem esperanças para se informar sobre a adoção, e a agente lhe disse que o trâmite para uma mulher trans é difícil, mas não impossível — e já tem até jurisprudência no Brasil. E não foi preciso mentir. Resta ver agora como será a nova Buba ao querer adotar o filho de jovem Teca, uma moça em situação de rua (Paloma Duarte na original, Lívia Silva no remake).
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