Oscar 2024: os dez filmes indicados, do pior para o melhor
Demorou, mas finalmente vai rolar: o Oscar acontece no domingo (10) a partir das 20h no canal TNT e no streaming do Max.
Os organizadores precisam urgentemente antecipar um pouco a festa — atualmente, ela acontece muito tempo depois do Globo de Ouro e das premiações dos sindicatos, que já consagraram "Oppenheimer" inúmeras vezes. Resta assistir ao Oscar esperando aquela boa zebra que nos mantenha acordados até o final.
Antes de falar da lista principal, um comentário rápido. Talvez o filme que mais represente o estado das coisas em Hollywood hoje seja um indicado a filme internacional: o espanhol "A Sociedade da Neve". Nos anos 1990, a história do time de rúgbi que caiu na Cordilheira dos Andes foi filmada em Hollywood, falada em inglês e com Ethan Hawke no elenco.
Hoje, os grandes estúdios preferem investir em super-heróis, e coube à Netflix e a um diretor espanhol fazer uma nova versão da história. Sinal dos tempos. É o streaming herdando lindamente o que Hollywood desistiu de fazer.
A seguir, a minha lista dos indicados na categoria principal, melhor filme, do pior ao melhor:
10. "MAESTRO"
Quando o filme de Bradley Cooper sobre o maestro Leonard Bernstein estreou no Festival de Veneza, o grande assunto foi a prótese usada pelo ator no nariz — o que já não foi um bom sinal. "Maestro" é uma biografia lançada em 2023, mas com toda a cara de filme do Oscar dos anos 1990, cheirando a coisa velha e ultrapassada.
Entre os muitos clichês, o filme conta a juventude do maestro em preto e branco e ganha cores com ele depois dos 50. Não dá para dizer que Cooper e Carey Mulligan, que faz a mulher rejeitada do maestro, não mereciam suas indicações, mas ter ele na lista e não Leonardo DiCaprio em "Assassinos da Lua das Flores" já mostra como o Oscar não é para ser levado a sério.
Resumindo: será uma surpresa se "Maestro" vencer alguma coisa — suas sete indicações já estão bem acima do que ele merece.
9. "FICÇÃO AMERICANA"
Num momento em que não paramos de discutir branquitudes e pretitudes, esta comédia disponível no Prime Video bota o dedo na ferida, fazendo piada daquilo que a intelectualidade branca procura nos artistas pretos — e daquilo que não interessa nem um pouco vê-los produzir.
O escritor Thelonious Monk Ellison (Jeffrey Wright) está cansado de escrever alta literatura e ser esnobado pelas editoras. Para se vingar, escreve um romance pseudoautobiográfico sobre as dificuldades de um ex-detento negro que sofreu todo tipo de humilhação e violência — e assim se torna um best seller.
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Quero receberCom a indicação, a Academia de Hollywood soube rir de si mesma, depois de anos consagrando dramas melosos sobre escravidão e violência racial — é só lembrar do Oscar de melhor filme a "12 Anos de Escravidão", dez anos atrás.
8. "OS REJEITADOS"
Alexander Payne é daqueles diretores independentes que sempre fizeram a gente sair do cinema acreditando na humanidade. Dessa vez, ele cria uma família torta em pleno recesso de Natal numa universidade americana em 1970 — composta por um professor mal-humorado, um aluno rebelde e uma cozinheira que acabou de perder o filho no Vietnã.
Os diálogos são primorosos, e é sempre lindo ver Paul Giamatti indicado. Mas também não deve levar nada.
7. "BARBIE"
O filme de maior bilheteria de 2023 também foi o responsável por queimar o filme da Academia de Hollywood neste ano, com a esnobada na diretora Greta Gerwig e na estrela Margot Robbie. A verdade é que "Barbie" chegou fraquinho na temporada de premiações, levando só dois Globos de Ouro (um deles foi o óbvio prêmio de Conquista em Bilheteria).
Seu Oscar mais garantido é o de canção para Billie Eilish. Mas não importa: o filme já fez história como o grande blockbuster feminino da década até agora — que venham outros;
6. "VIDAS PASSADAS"
"Vidas Passadas" só ganhou duas indicações e não deve levar nada, mas é gratificante ver uma diretora coreana indicada já com seu primeiro filme.
É uma singela história de amor, um reencontro 20 anos depois, que fala menos de amor e mais de reconexão com as raízes de uma protagonista que saiu de seu país de origem há décadas.
OK, é menos complexo do que qualquer história de amor do cinema francês, mas tem um brilho e uma singeleza na direção que deixam a gente encantado. O último plano é inesquecível. Vale ver no cinema, ainda está em cartaz.
5. "OPPENHEIMER"
O Oscar raramente é justo. Christopher Nolan já mereceu ser consagrado por outros filmes, mas só venceu prêmios técnicos com obras-primas como a ficção científica "A Origem" em 2011 e o drama de guerra "Dunkirk" em 2018.
Pela primeira vez, ele deve ser reconhecido também por suas qualidades mais artísticas; é quase certo que leve melhor filme, direção, ator coadjuvante para Robert Downey Jr. e melhor ator para o picolé de chuchu Cillian Murphy, eternamente zoado em memes.
Tudo bem, antes tarde do que nunca Nolan ganhar o reconhecimento que merece. E seu drama culpado sobre o pai da bomba atômica e uma invenção que sai do controle tem muitos pontos altos e está longe de ser uma perda de tempo.
4. "ZONA DE INTERESSE"
Um dos filmes mais impactantes do ano, sobre a vida de um comandante nazista e sua família numa bucólica casa com jardim bem ao lado do campo de concentração de Auschwitz, repetiu o feito de "Parasita", "Drive My Car" e alguns outros ao ser indicado, ao mesmo tempo, a melhor filme e filme internacional — e por isso já sai favorito ao segundo prêmio.
Por um lado, é estranho ver que o Oscar anda tão sem personalidade que há uns bons anos vêm importando os maiores premiados do Festival de Cannes para sua lista. Mas se isso significa mais gente indo aos cinemas ver grandes filmes europeus, não vamos reclamar.
3. "ANATOMIA DE UMA QUEDA"
Um dos grandes filmes feministas dos últimos tempos vem fazendo uma carreira cheia de vitórias desde a Palma de Ouro em Cannes há quase um ano.
Uma escritora é acusada de matar seu marido atirando-o da janela num distante chalé na neve onde viviam. Segue-se um longo drama de tribunal em que a diretora Justine Triet demonstra por A mais B como o julgamento sobre uma mulher é dez vezes mais pesado do que sobre um homem.
Mesmo sem entrar em Filme Internacional, o longa conseguiu cinco indicações ao Oscar, incluindo melhor diretora. Deve levar o de melhor roteiro original, prêmio que já conquistou no Globo de Ouro e no britânico Bafta.
2. "POBRES CRIATURAS"
A história de Bella Baxter, criatura feita a partir do cérebro de seu próprio bebê que descobre numa longa aventura a dor e a delícia de ser mulher, reúne muito do que Hollywood cultiva desde seu auge: um diretor estrangeiro, o grego Yorgos Lanthimos, filmando em inglês, mas sem perder a força do seu estilo.
Um elenco magistral, com Emma Stone, Willem Dafoe e Mark Ruffalo à frente, faz de "Pobres Criaturas" uma das belas surpresas da temporada.
Pena que este não parece ser o ano de Lanthimos... mas o dia dele há de chegar. Nem o de Emma Stone, que já venceu o Oscar por um trabalho muito menos inspirado em "La La Land" e agora deve sair sem prêmio.
1. "ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES"
Cinéfilo de verdade venera, cultua e idolatra Martin Scorsese. Em 27 longas, ele não deve ter errado mais do que duas ou três vezes.
Seu último filme adapta um livro sobre a criação do FBI para contar o lento massacre da nação indígena Osage pelos brancos. E assim, comprova que a violência dos gângsters não se restringe à máfia italiana — na verdade, os Estados Unidos foram forjados como nação à base de muito sangue (infelizmente, podemos dizer o mesmo do Brasil e de toda a América Latina).
DiCaprio e De Niro entregam mais uma performance memorável, mas o ano é mesmo de Lilly Gladstone, atriz de ascendência indígena que já venceu muitos prêmios da temporada. "Oppenheimer" é o favorito da noite, mas tudo bem: Scorsese nem precisa mais de Oscar para provar que é um dos maiores do mundo ainda em ação.
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