'A Mulher Que Fugiu': Drama sul-coreano trabalha bem diálogos e personagens
Dirigido e roteirizado pelo cultuado diretor sul-coreano Hong Sang-soo, "A Mulher Que Fugiu" figurou a lista da importante revista "Cahier du Cinema" como um dos melhores filmes de 2020.
O drama sul-coreano requer atenção do espectador e, em meio a supostas aleatoriedades, entrega diálogos densos e profundidade de personagens.
A Mulher que Fugiu
Lançamento: 2020 Duração: 77 min Pais: Coréia do Sul Status: Em Cartaz Direção: Hong Sang-Soo Roteiro: Hong Sang-sooPontos Positivos
- Personagens bem desenvolvidas
- Direção assertiva
- Diálogos bem construídos
Veredito
"A Mulher Que Fugiu" valoriza os diálogos e prende os espectador ao longo de sua 1 hora e 17 minutos, na qual ele é obrigado a prestar atenção nos mínimos detalhes para, desta maneira, se deixar entrar de cabeça na história de Gamhee (Min-hee Kim), uma mulher que encontra três amigas do passado.
O cinema sul-coreano ganhou o mundo com o lançamento de "Parasita" (2019), dirigido por Bong Joon-ho, e fez com que os olhos do público se voltassem ao país, esperando um novo sucesso como este nascer. No entanto, o diretor Hong Sang-Soo já figurava entre um dos nomes mais respeitados do cinema local e, com "A Câmera de Claire" (2018), mostrou suas habilidades em direção de atores e por trás das câmeras. Agora, com "A Mulher Que Fugiu", o cineasta e roteirista apresenta mais uma vez como possui controle total da sua obra.
No longa, somos apresentados a Gamhee (Min-hee Kim), uma jovem mulher que viaja pelo interior de Seoul, capital da Coreia do Sul, e visita três amigas que não encontra há muito tempo. Ela conta sobre sua vida para cada uma delas e, de maneiras diferentes, revela que há cinco anos não fica longe do marido. Todos os dias eles estão juntos, segundo a jovem. A informação causa efeitos diferentes nas amigas e faz com que o espectador se pergunte qual a mensagem que está sendo contada por trás deste fato.
Os encontros são envoltos em diálogos aleatórios, mas são neles que vivem a essência do filme. Em uma conversa aparentemente banal sobre o consumo de carne, por exemplo, duas amigas expressam diferentes versões sobre como encaram a vida, a consciência e as relações. Por isso, "A Mulher Que Fugiu" pede ao espectador que preste atenção a todo tempo, pois é nos mínimos detalhes que vive a ação e reflexão do longa.
O título nos faz questionar quem seria esta "mulher que fugiu" e, por mais que a mãe da vizinha da personagem principal seja pessoa em questão, não há como não associar ao fato de Gamhee estar ao tempo todo fugindo, seja da realidade em que vive com o marido — que por muitas vezes é pintado como alguém abusivo, que a afasta das pessoas —, como da própria verdade, pois ela parece não querer enxergar como está a vida dela e sua relação.
Enquanto os diálogos são bem trabalhados, a direção e a fotografia não são de encher os olhos, no entanto são extremamente precisas. Com o uso de zooms em momentos que parecem aleatórios, a trama ganha a pitada certa de drama, pois nos aproxima da conversa e de seus interlocutores.
"A Mulher Que Fugiu" é um bom drama sobre tudo o que é dito nas entrelinhas e, com personagens interessantes e um roteiro com diversas camadas, nos faz mergulhar de cabeça em situações cotidianas de encontro entre amigos que não se veem há muito tempo.
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