Almodóvar conta história de traumas e melodramas em 'Mães Paralelas'
Novo longa do diretor espanhol Pedro Almodóvar, estrelado por Penélope Cruz, "Mães Paralelas" acompanha duas mulheres lidando com a maternidade e as consequências históricas do peso de construírem famílias. Filme chega aos cinemas em circuito limitado no dia 3 de fevereiro, e à Netflix no dia 18.
Mães Paralelas
Lançamento: 2022 Duração: 2h2 Pais: Espanha Direção: Pedro Almodóvar Roteiro: Pedro AlmodóvarPontos Positivos
- Fotografia expressiva que ajuda a contar a história
- Uma história forte e profunda, que é complexa sem deixar de ser acessível
- Penélope Cruz em uma de suas grande atuações junto a Almodóvar
Pontos Negativos
- O arco narrativo às vezes cai em armadilhas óbvias que podem afastar o espectador
- Desenvolvimento lento na primeira metade do filme
Veredito
A partir de uma trama sobre duas visões diferentes de maternidade, Pedro Almodóvar constrói um olhar sobre ancestralidade e como novas gerações carregam o peso de anteriores. Dentro dessa perspectiva, o filme estuda o que nos motiva, enquanto pessoas, a sustentar e nutrir os laços familiares - custe as dores que custar.
Temas familiares, maternidade e laços sanguíneos e históricos costumam ser assuntos recorrentes em filmes de Pedro Almodóvar. O cineasta espanhol volta aos holofotes com "Mães Paralelas". Estrelado por sua musa, Penelope Cruz, o filme parte de uma trama sobre maternidade e gravidez não planejada para tratar de hereditariedade e ancestralidade.
Na história, Cruz interpreta Janis, uma fotógrafa que, durante uma sessão, conhece o antropólogo forense Arturo (Israel Elejalde). Os dois criam um laço e ela pede a ajuda dele para escavar um local histórico que é uma vala comum da vila onde ela cresceu.
De acordo com a família de Janis, o corpo de seu bisavô havia sido desovado lá depois de um massacre durante a Guerra Civil Espanhola. Janis e seus familiares querem resgatar a ossada, para que ele possa ser enterrado junto à esposa no jazigo da família.
Paralelamente, Janis e Arturo também iniciam um 'affair', e ela acaba engravidando. No entanto, decide arcar com a gravidez sozinha e ter a filha sem ele — que batiza de Cecilia, por causa de sua avó.
No hospital, ela conhece a jovem Ana (Milena Smit), também prestes a se tornar mãe solo. Embora estejam em situações semelhantes, as duas divergem amplamente quanto aos sentimentos. Janis está feliz com a ideia de ser mãe. Ana está triste e abalada. Mesmo assim, elas encontram conforto uma na outra.
A partir de então, Almodóvar utiliza o melodrama de um arco narrativo quase cansado de novelas e folhetins (algo, diga-se de passagem, recorrente no cinema dele) para enriquecer o entendimento que o público tem daquelas personagens e do peso que novas gerações carregam de fazer jus a genes ancestrais.
Apesar da trama familiar, o filme é repleto de reviravoltas e de certas complicações que adicionam substância à narrativa — sem jamais deixá-la pesada ou cansativa.
Enquanto o filme inicialmente trata Janis e Ana como partes opostas, aos poucos vai mostrando que elas se sobrepõem a todo momento em ideias e sentimentos. Por isso, ele acaba constatando que suas semelhanças e diferenças informam como pontos de vista antagônicos podem ser complementares, em vez de divergentes.
Paralelamente, os crimes do regime brutal de Francisco Franco e as repercussões da Guerra Civil Espanhola para a história da família de Janis funcionam como plano de fundo durante a primeira metade do filme. No entanto, esses pontos dramáticos vão se aproximando do centro da história à medida que ela evolui e as personagens principais amadurecem e também se transformam.
Neste sentido, o simbolismo político da história cresce enquanto laços vão se rompendo e sendo refeitos, e o resultado é uma trama raivosa, angustiante e, ao mesmo tempo, poderosa. O cineasta parte da união de forças que vem das diferentes experiências com maternidade de Janis e Ana para refletir sobre o que nos motiva, enquanto pessoas, a sustentar e nutrir os laços familiares — custe as dores que custar.
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