Indicado ao Oscar, Belfast traz descoberta, melancolia, incerteza e medo
Estamos testemunhando as disputas religiosas entre católicos e protestantes da Irlanda do Norte no verão de 1969 pela perspectiva de Buddy — o alter ego do diretor Kenneth Branagh, interpretado pelo cativante Jude Hill. Vemos e ouvimos as coisas do jeito dele: em sussurros, em partes, pelas janelas e portas entreabertas, do topo da escada, por corredores estreitos e na pequena sala da casa, onde a TV parece estar sempre ligada. A bela fotografia em preto e branco de Haris Zambarloukos, com pinceladas esporádicas de cores, faz ótimos enquadramentos destas perspectivas e nos aproxima ainda mais de Buddy.
Belfast
Lançamento: 2022 Duração: 98 minutos Pais: Irlanda do Norte Status: Em Cartaz Direção: Kenneth Branagh Roteiro: Kenneth BranaghPontos Positivos
- Trilha do mestre do rock Van Morrison
- Atuações primorosas
- Linda fotografia
- História baseada na vida pessoal do diretor Kenneth Branagh
- Ótimo roteiro e direção
Pontos Negativos
- Não espere entender profundamente o que foi este período político na Irlanda do Norte somente através do filme
É um cenário modesto, de famílias protestantes da classe trabalhadora, mas Buddy vê seus pais como estrelas de cinema glamorosas — como os atores dos filmes que ele aguarda ansioso para ver todo fim de semana no cinema local. Sua mãe (Caitriona Balfe) é elegante e mal-humorada, já seu pai (Jamie Dornan) é carismático e calmo. Em uma cena (realidade ou imaginação do Buddy?), eles cantam e dançam como verdadeiros ídolos. Judi Dench e Ciáran Hinds são excelentes como seus avós, um casal que levou uma vida inteira junto, continua se provocando mutuamente, e, nas nuances e nas mágoas, ainda transborda o amor e o carinho que não foram embora com o passar do tempo. E isso se vê em algumas das grandes cenas de destaque do filme.
Lembrando que Branagh ganhou fama como ator shakespeariano antes de se lançar na direção, é de se esperar que ele reúna performances calorosas e autênticas de um elenco de primeira linha. E, não à toa, tanto a "dama" Judi (aliás, irreconhecível) como Ciáran estão indicados ao Oscar como atores coadjuvantes.
Ao relembrar os dias de infância na sua cidade natal, Branagh fez um filme íntimo, talvez até ambicioso — dá para relembrar de "Roma", de Alfonso Cuarón —, mas que é provavelmente seu melhor filme até hoje, e que traz ressonância universal.
É uma "carta de amor" a um período e um lugar cruciais na sua infância e às pessoas que ajudaram a moldá-lo; um retrato de como a chegada do perigo iminente interrompeu a camaradagem, a tranquilidade que conectou as famílias naquele bairro, naquele quarteirão, por décadas, independentemente das suas crenças religiosas ou políticas.
Há descoberta, melancolia, incerteza e medo, mas também há amor, resistência e esperança na tela de Branagh.
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