'Delicioso: Da Cozinha Para o Mundo' traz a fome de comida (e de vingança!)
A máxima "comer com os olhos" é o mote de "Delicioso: Da Cozinha para o Mundo", ambientada meses antes da revolução francesa enquanto a nobreza saboreava o luxo de uma França pobre. A história de vingança de um genial cozinheiro e seus planos para os negócios chegam hoje (10) aos cinemas.
'Delicioso: Da Cozinha Para o Mundo'
Lançamento: 2021 Duração: 1h52m Pais: França Status: Nos cinemasPontos Positivos
- Comida também é arte -- e aqui está a prova!
- Cenários maravilhos da França bucólica
- Grégory Gadebois e Isabelle Carré carregam o filme
- Produção impecável que reproduz vestes e objetos do século 18
Pontos Negativos
- O roteiro é simples e cai no clichê
- Questão política fica apenas jogada no filme e não desenvolve
Veredito
Com um cuidado especial para transformar a gastronomia em arte, "Delicioso: Da Cozinha para o Mundo" diverte e encanta mesmo com uma trama tão simplória
Pierre Manceron (Grégory Gadebois) é o cozinheiro do Duque de Chamfort (Benjamin Lavernhe) há anos e faz receitas que deixam o nobre seboso extasiado. Porém, tudo muda quando o chef se arrisca a fazer um novo prato, chamado "delicioso": misturar batatas com trufas em um bolinho.
Resultado? Ele é humilhado diante de outros nobres sebosos — já que batata é algo da terra, "coisa de pobre" para a alta sociedade — e na sequência demitido por não pedir perdão ao seu empregador.
Derrotado, Manceron volta para a casa do pai com seu filho e começa a tocar a vida novamente. Cozinha aqui e acolá para viajantes que passam famintos pela estrada, mas perdeu a arte do que é cozinhar.
Eis que chega Louise (Isabelle Carré) pedindo para ser a aprendiz do cozinheiro, que logo percebe que aquelas mãos tão macias guardam alguns segredos.
O filme dirigido e co-roteirizado por Éric Besnard se passa em 1789, semanas antes da fatídica revolução francesa que destronou a nobreza — lembrando que na época a maioria da população vivia na miséria enquanto duques e o rei se banhavam no luxo.
Com a alma da revolução no papel do jovem filho do protagonista, o filme tenta fazer uma distinção dessa "luta de classes" e da separação evidente que existia entre ricos e pobres. Apesar do toque político, que acaba se perdendo na trama, o foco aqui é a comida.
"Delicioso" é um deleite para os famintos e que veem a arte na gastronomia. A delicadeza com a qual os bolinhos são feitos, a manteiga (e quanta manteiga!) ao lado do fogão esperando o seu momento, a farinha pulando na massa antes de ser assada... é "comer com os olhos" literalmente.
Entre uma garfada e um vinho tinto, a produção cai no clichê da vingança. Não é nem spoiler falar que Manceron vai tentar reconquistar sua honra perante o duque, ainda que pise em ovos durante o processo.
Mesmo que não seja uma história das mais originais, o talento de Gadebois e Carré conquistam o espectador, que se diverte com os percalços de um pobre cozinheiro outrora demitido que volta a amar a cozinha — e a partir daí desenvolve o que conhecemos hoje na gastronomia e no que é ter um restaurante.
O sabor da França bucólica, as panelas antigas, os utensílios de madeira e até a cabana aconchegante — que se transforma em um personagem durante o filme — se misturam com o impacto da vida da nobreza, com uma produção fantástica que salta aos olhos.
"Delicioso: Da Cozinha Para o Mundo" não viaja na maionese e nem tem a pretensão. A trama é simples, mas diverte. A produção é impecável e a delicadeza das receitas conquista quem as vê. Única dica possível é sair do cinema e tentar comer um croissant.
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