'Exorcismo Sagrado' critica religião, mas cai na mesmice de terror genérico
Laysa Zanetti
De Splash, em São Paulo
10/02/2022 04h00
A mistura de terror e religião dentro da literatura ou do cinema, usualmente, resulta em um dos subgêneros mais profundos e potencialmente ricos das narrativas de horror. Entre ótimos exemplos recentes temos a série "Missa da Meia-Noite" (2021) e filmes como "A Bruxa" (2015) e "Saint Maud" (2019). Neste sentido, "Exorcismo Sagrado" até tenta, mas fica longe dos mais memoráveis.
Exorcismo Sagrado
Lançamento: 2022 Duração: 1h38min Pais: México, Estados Unidos, Venezuela Direção: Alejandro Hidalgo Roteiro: Santiago Fernández Calvete, Alejandro Hidalgo2,0
2,0
3,0
Fizemos uma análise geral de cenário, figurino, direção de arte e fotografia
3,0
1,0
A diversão é uma nota na qual propomos, que independente das notas técnicas, a produção vale ser vista
Pontos Positivos
- Busca reinventar o cinema de gênero e fazer reflexões sobre a religião
- Usa o humor e a ironia a seu favor
- Presta uma homenagem aos clássicos filmes de exorcismo
Pontos Negativos
- Os personagens são rasos e genéricos, o que dificulta a identificação do público
- As tentativas de fazer humor, embora genuínas, acabam se perdendo ao longo da narrativa
- Excesso de 'jump scares' faz o recurso perder sua força
- Tenta criticar a moral religiosa, mas cai em armadilhas quando o protagonista se perdoa fácil demais
Veredito
O filme presta uma espécie de homenagem aos clássicos longas que mesclam horror e religião, e usa de certa ironia para criticar a moral católica. Porém, o resultado acaba ficando aquém do esperado, pois se ancora em personagens genéricos, excesso de sustos e discursos prontos.
A história acompanha o padre estadunidense Peter Williams (Will Beinbrink), que trabalha no México e é considerado praticamente um santo por muitos fiéis locais. Porém, graças a um exorcismo que deu errado, ele acaba sendo possuído pelo demônio e comete um terrível pecado.
Até que, 18 anos depois, ele vê a possibilidade de encarar novamente seu próprio monstro, em uma batalha derradeira do bem contra o mal.
O velho que é novo
O diretor, o venezuelano Alejandro Hidalgo, tenta inserir reviravoltas e novos elementos dentro do subgênero tão familiar de filmes de exorcismo. Embora pague alguns tributos a clássicos, ele tenta redesenhar a fórmula por meio de novas conexões entre o passado e o presente dos seus protagonistas.
As intenções são as melhores. Porém, o resultado final acaba ficando perto demais das velhas convenções de gênero, e o que deveria ser uma crítica, por vezes cômica, se torna uma ênfase positiva (e cansada) do que ele desejava questionar.
Isso porque, além de o filme pegar emprestados muitos elementos visuais do clássico "O Exorcista" (1973), o filme não é capaz de se afastar deles o bastante para criar sua própria identidade estética.
A fotografia escura e a forma como o filme impõe esquemas de cores primárias sobre os personagens principais acabam remetendo sem muita criatividade a outras histórias já conhecidas. Por isso, quase nada ali é realmente novo.
Vale destacar que, muitas vezes, o filme tenta se vestir de certa ironia e de humor para criticar a instituição católica e seus padrões, apelando para certa graça nos trejeitos dos personagens e dos exageros. O personagem de Joseph Marcell, conhecido como o mordomo Geoffrey de "Um Maluco no Pedaço", é uma ótima adição com sua personalidade sarcástica.
Porém, fora ele, todo o restante do filme se leva a sério demais.
Muita promessa, pouca entrega
Enquanto tenta tecer novas relações entre a religião e as eventuais perturbações que surgem na forma do demônio, "Exorcismo Sagrado" se ancora demais em discursos prontos sobre o poder da fé e redenção para deixar alguma marca potente.
O filme tem bons momentos de susto (os famosos 'jump scares'), mas utiliza os mesmos de força excessiva e óbvia demais.
Por isso, embora tente criar boas reflexões sobre um sistema corrupto dentro do universo religioso, tenta chegar lá através de personagens escritos de forma superficial e genérica, que não são cativantes o suficiente para gerar um grande engajamento.