Em 'O Presidente Improvável', FHC se arrepende de apoiar reeleição
Fernanda Talarico
De Splash, em São Paulo
31/03/2022 04h00
Em ano de eleição, o documentário "O Presidente Improvável" relembra a trajetória de Fernando Henrique Cardoso desde antes de seu duplo mandato como Chefe de Estado do Brasil.
No entanto, com ajuda de convidados ilustres, como Bill Clinton, Manuel Castells, Gilberto Gil, Ricardo Lagos, o filme vai além das questões do passado e levanta pontos a serem discutidos principalmente no atual cenário político brasileiro.
O Presidente Improvável
Lançamento: 2022 Duração: 100min Pais: Brasil Status: Em Cartaz Direção: Belisario Franca Roteiro: Belisario FrancaLançado em 31 de março de 2022, no dia em que o golpe militar completa 58 anos, "O Presidente Improvável" chega aos cinemas. O documentário focado no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso narra em primeira pessoa a trajetória do político, desde sua infância até atualmente.
A produção conta com diferentes imagens de arquivo e diálogos com grandes nomes da política, tanto nacional, quanto internacional. Entre os interlocutores estão Bill Clinton, Manuel Castells, Gilberto Gil, Ricardo Lagos, Raul Jungmann, Maria Hermínia Tavares, Boris Fausto, Alain Touraine e outros. Os momentos de conversa mostram a destreza de FHC nos diferentes idiomas: além de português, inglês, espanhol e francês.
"O Presidente Improvável" consegue atrair até mesmo aqueles que não se interessam ou entendem de política, pois revive de uma ponto de vista bastante exclusivo ? o de um ex-presidente ? diferentes momentos históricos do país, como a ditadura militar. Outro ponto que chama a atenção no documentário são as ressalvas que Fernando Henrique Cardoso apresenta quanto à reeleição ? mecanismo que permitiu ao político ser Chefe de Estado do Brasil por oito anos.
"Se for um mandato mais longo, mais confortável, e só um mandato, talvez seja mais razoável", pondera ao dizer que o ideal seria contar com um período de até, no máximo, seis anos por presidente. No documentário, ele se diz arrependido por ter pressionado o Congresso a aprovar a reeleição. "Eu não teria forçado tanto a barra quanto forcei."
Lançado em ano eleitoral, o documentário não poderia deixar de abordar as questões políticas atuais, mesmo sem ao menos citar o nome do presidente Jair Bolsonaro (PL) em nenhum momento. Por outro lado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), aparece durante a produção por diversas vezes.
Por não ser candidato a mais nenhum cargo público, não é possível dizer que o título tem como intenção fazer com FHC se torne uma estrela política neste momento, mas é inegável que mostrar os altos e baixos de seu mandato devem atrair a simpatia de um público que esteja procurando por um norte político, alguém para seguir. Um dos grandes méritos do documentário é justamente mostrar que a famigerada "autocrítica" pode ser feita por um ex-presidente, que parece ponderar com cuidado seus feitos. Por outro lado, pelo fato de não ser mais candidato, julgar seus erros é algo muito mais fácil de ser feito.
No entanto, é inocente acreditar que "O Presidente Improvável" sairá dos círculos de seguidores do PSDB e de FHC e será assistido por um número grande de espectadores e eleitores. Portanto, além de Fernando Henrique Cardoso ter sido um presidente improvável, é igualmente improvável que o título afete minimamente as eleições deste ano.