'O Homem do Norte' mistura sangue, sexo e violência em conto viking
Se você já conhece o cinema de Robert Eggers por "A Bruxa" ou "O Farol", encontrará em "O Homem do Norte" um filme diametralmente distante dos dois anteriores, mas igualmente singular. Embora continue em sua exploração da psicologia humana, o diretor de 38 anos desta vez aposta em um drama mais clássico, que funciona ao mesmo tempo como um grande esforço na contracorrente dos blockbusters tradicionais.
'O Homem do Norte'
Lançamento: 2022 Duração: 137min Pais: Estados Unidos Status: Em cartaz Direção: Robert Eggers Roteiro: Sjón, Robert EggersVeredito
Violento, sanguinário e de proporções épicas, o novo filme do cineasta Robert Eggers segue na proposta narrativa de romper com o tradicional já explorada em "A Bruxa" e "O Farol". Desta vez, o diretor conta uma história clássica de vingança, e usa esta premissa tão hollywoodiana para mostrar o quanto o mercado está engessado em torno de histórias fáceis e palatáveis -- exatamente o que ele não quer trazer.
O filme é baseado no mesmo conto que inspirou o clássico "Hamlet", de Shakespeare, e gira em torno da saga de vingança do príncipe Amleth (Alexander Skarsgård). Quando criança, ele vê seu pai, o rei Aurvandil (Ethan Hawke), ser morto pelas mãos do próprio irmão, Fjölnir, o Sem-Irmão (Claes Bang), e isso molda completamente a sua personalidade.
Fugindo da própria morte enquanto vê a mãe (Nicole Kidman) ser sequestrada pelo próprio cunhado, ele promete vingar o pai, salvar a mãe e matar o novo rei. E é com esta fúria que ele cresce disposto a tudo para conquistar seu objetivo.
Enquanto "A Bruxa" e "O Farol", que catapultaram a reputação de Eggers, são filmes mais concisos, "O Homem do Norte" tem lugar para se expandir em todos os sentidos.
Afinal, trata-se de um épico. O filme tem um orçamento de US$ 90 milhões, e não mede esforços para mostrar a grandiosidade dos investimentos financeiros e da escala em que a trama opera. Entre fogos, explosões e lutas em escala épica, "O Homem do Norte" é capaz de fazer o espectador acreditar de verdade que chegará a Valhalla um dia, e que todos os destinos daqueles personagens estão previamente traçados.
Mesmo assim, "O Homem do Norte" soa como uma espécie de golpe no sistema tradicional de Hollywood nos tempos atuais. A trama está separada em capítulos, uns mais lentos que outros, e a vingança é puramente o que move Amleth para frente.
Enquanto o mercado audiovisual se divide entre filmes de streaming que são enterrados sem uma divulgação honesta e grandes blockbusters sem vida manufaturados depois de dezenas de testes de público, "O Homem do Norte" mostra que o espetáculo cinematográfico e visual continua em primeiro plano, e que para isso não é necessário sacrificar a história.
Dentro de uma trama tão clássica no sentido cinematográfico, que inclui lutas bárbaras, corpos sangrentos e uma jornada do herói construída como manda a cartilha, Robert Eggers consegue imprimir seus toques pessoais com uma brutalidade raramente vista nos cinemas em tempo atual. Ele vai contra tudo o que soaria comercial para uma história como essa, deixando de lado sentimentalismos e até mesmo a necessidade de escolhas dúbias e sacrifícios emocionais que fariam o espectador se conectar com o personagem principal.
A impressão que fica é que tudo isso é feito propositalmente para criar uma história endurecida, que entregue exatamente o que o filme promete, mas sem meias-palavras que suavizariam a dose. É como se "O Homem do Norte" quisesse burlar o sistema e mostrar que o clássico ainda é um clássico. Certamente, Eggers não facilita a sua digestão para o espectador, mas transforma o resultado final em um banquete saboroso que compensa, e muito.
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