'Primavera': filme inédito com Ana Paula Arósio traz retrato de família
Uma experiência sensorial e experimental como nunca antes vista. O filme "Primavera", que chega hoje aos cinemas, é um passeio por uma árvore genealógica como você provavelmente nunca viu. Por isso, prepare-se para uma viagem, e no melhor dos sentidos.
Primavera
Lançamento: 2022 Duração: 112min Pais: Brasil Direção: Carlos Porto de Andrade Jr. Roteiro: Carlos Porto de Andrade Jr.Pontos Positivos
- Estética que acrescenta à narrativa e repleta de simbolismos
- É um filme de fácil compreensão, mas que não subestima o espectador
- Direção afiada, poética e emotiva
Pontos Negativos
- O fato de ser um filme divagador pode causar dispersão
- Algumas vezes, alonga a história onde não precisa, e volta em pontos que já haviam sido esclarecidos sem necessidade
Veredito
"Primavera" é um filme com uma narrativa cíclica, que usa colagens e uma espécie de mosaico cinematográfico para contar a história da árvore genealógica de uma família, mostrando como os ancestrais se refletem em novas gerações e as lembranças são transmitidas de forma subjetiva.
Do diretor e roteirista Carlos Porto de Andrade Jr., "Primavera" é um projeto extremamente pessoal, construído como se fosse um mosaico cinematográfico. A história e a narrativa, embora lineares, são apresentadas como uma grande colagem, em que início, meio e fim se unem como em um círculo, em vez de uma linha reta.
O longa se inicia com o narrador, na voz de Caco Ciocler, contando sobre a morte de seu pai. Reflexões sobre a passagem do tempo e a subjetividade da nossa relação com ele são apresentadas logo de cara, sem ensaios ou sem que o filme subestime a capacidade de compreensão de quem o está assistindo. Isso faz com que o espectador não tenha dúvidas quanto ao fato de estar diante de uma obra recheada de divagações.
A partir de então, "Primavera" volta ao passado a fim de contar toda a história da família, do primeiro ancestral ao presente da obra. Neste momento, todas as memórias da árvore genealógica estão sendo passadas de pai para filho, e a narrativa é construída a partir dessas mesmas memórias.
O estilo de mosaico está presente tanto em termos de narrativa quanto em estética. Carlos Porto utiliza imagens históricas, pinturas clássicas e cenas guardadas, por exemplo, pelo Museu do Índio e pelo Acervo Humberto Mauro, para entregar um filme que conecta o passado ao presente com poesia e teatralidade.
Uma narrativa sobre "beijar de boca aberta", por exemplo, é ilustrada com a imagem de um crocodilo exibindo as presas. Fotos borradas e corroídas pelo tempo mostram o quanto a memória pública, na grande maioria das vezes, está ligada de forma intrínseca à memória afetiva e ao subjetivo de nossas lembranças. Seres vistos em um microscópio ilustram momentos em que o narrador fala sobre relações amorosas e laços entre pais e filhos, e histórias de família das mais pesadas ou turbulentas são retratadas com lirismo e passagens oníricas.
Ou seja, tudo na história e na construção dos sentidos é colocado de forma que o público sinta os significados antes de compreendê-los objetivamente. E isso cria uma experiência completamente diferente daquela à qual estamos habituados.
O resultado final concede uma atmosfera extremamente experimental ao filme, que foi rodado em 2005 e conta com perfomances inéditas de Ana Paula Arósio e de Ruth de Souza, que morreu em 2019. E, ainda que esta aura filosófica e dada a devaneios do filme possa parecer "intelectual demais", o resultado final é uma obra artística sobre famílias que conversa com todos os públicos.
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