Fernanda Montenegro se confinou com filha, bode e galinha. E fez uma série
De Splash, em São Paulo
08/09/2020 09h38
Fernanda Montenegro subiu a serra com a filha Fernanda Torres e lá ficou por quatro meses, mais tempo do que um "BBB" inteiro. Como todo reality show que se preze, este também contou com câmeras. Mas foi diferente. A arte acabou atropelando a vida real, dando origem a um dos episódios de "Amor e Sorte", a nova série da Globo que estreia hoje.
Uma hora aceitamos aquele lugar como nosso. Quando veio a filmagem, foi uma espécie de coroação. Sabe tirar uma foto em uma homenagem a um momento da sua vida? Mas não foi numa foto, e sim um episódio de 40 minutos. Nossa família inteira está representada naquele lugar que nos salvou
Fernanda Torres, atriz, apresentadora e escritora
O refúgio se tornou um grande encontro em família, pois a equipe de filmagem era formada por quem se conhece muito bem. O marido de Fernanda Torres, por exemplo, foi o diretor artístico e conduziu as gravações com os filhos. Estava em casa!
Dois personagens em especial acabaram roubando a cena: um bode e uma galinha, que fazem parte da história. Fernanda Torres passou por maus bocados com os animais e admite ter horror à ave, que não é nada fofa como aquela adorada pelas crianças.
Acho um bicho horrível. A mão afunda na pena, que é meio oleosa. Foi uma cena tensa
Teremos uma concorrente à altura da galinha mais famosa do nosso cinema?
Mas do que fala o episódio?
A história de Gilda e Lúcia gira em torno de uma filha que, de volta ao Brasil, isola a mãe em um sítio para evitar a contaminação de covid-19. A filha é executiva, vegetariana e eleitora de direita. Já a mãe é uma carnívora de esquerda, que passa a história querendo comer um lombinho.
É tipo confinar um petista com um bolsonarista da mesma família.
A natureza será como uma ponte entre esses dois mundos. Foi lá na serra que Fernanda Montenegro se viu sensível a outros temas.
Dá para sobreviver sem aquela ansiedade de produtividade. Isso bateu em mim.
A Fernanda mãe está a uma década de completar um século de vida. E põe vida nisso... Como testemunha de capítulos inteiros dos livros de história, ela se preocupa com o momento atual do Brasil
Precisamos ter muito cuidado com o que está vindo aí. A última experiência de uma epidemia deu nisso. Chegamos a guerra de 1939. Em volta, está muito ruim em matéria de politica, de atendimento social, de tudo.
A atriz foi tomada de ansiedade no primeiro mês de quarentena, mas depois veio a paz de espírito. Hoje, Fernanda passa o tempo debaixo do sol, lendo, bordando e apreciando a natureza. Do lado de fora de seu auto isolamento, aglomerações em praias e bares.
Praia de Ipanema no último domingo, véspera do feriado de 7 de setembro
Esquecem que podem pegar o vírus porque já não dá mais para ficar fechado em quatro paredes. A consciência dos meus 90 me veio muito forte. Já que me aprisionaram, passei a pensar na minha própria grade.
Enquanto não vem a vacina para a covid-19, ela mantém a esperança. Mesmo cansada e receosa com o que está por vir.
É exaustivo. Imagina com a minha idade, seria tão bom se essa vacina aparecesse em setembro. Seria uma esperança, uma nova vida. Que ela venha até o Natal como um presente. Porque eu não tenho muito tempo. Os que estão vivos na minha idade estão apreensivos.