Paris Hilton revela traumas em doc: 'Quero que saibam que sou forte'
De Splash, em São Paulo
14/09/2020 04h00
Se você, assim como eu, cresceu nos anos 2000, você deve ter uma ideia bem definida de Paris Hilton na sua cabeça: a herdeira rica e baladeira que era alvo de todos os paparazzi, participou do reality "A Simple Life" e usava looks icônicos como esse aqui:
Hora de deixar isso para trás.
Você vai conhecer uma Paris totalmente diferente no documentário "This Is Paris", que estreia hoje no canal do YouTube da DJ e empresária. Dirigido por Alexandra Dean, o filme mostra uma Paris vulnerável, retraída, doce e sensível, que ainda lida com traumas da adolescência e resolve denunciar o abuso que sofreu em uma escola.
Não era exatamente o plano original, como conta a própria Paris a Splash:
O filme era para ser sobre a minha vida e meu trabalho como empresária, porque tenho muito orgulho do que conquistei e acho que muitas pessoas não conhecem a pessoa real que sou. Mas durante as filmagens eu simplesmente comecei a compartilhar coisas muito pessoais que aconteceram na minha vida.
Um parêntesis: se você não sabe, sim, Paris é uma baita empresária. Ela tem vários produtos licenciados, além de uma linha de beleza própria, e já tem uma fortuna estimada em mais de US$ 100 milhões. Aposentadoria? Só quando ela tiver US$ 1 bilhão, como diz no filme.
Abrindo o coração
Embora o filme mostre bastante o lado empresária de Paris, ele brilha mesmo quando ela se abre. Em um momento raro, ela fala sobre como foi pressionada pelo ex-namorado Rick Salomon a gravar um vídeo íntimo e como foi horrível vê-lo sendo compartilhado, anos mais tarde:
Foi como ser estuprada eletronicamente. Quando isso aconteceu, tirou tudo de mim.
Paris, no documentário "This Is Paris"
Mas é outro tema forte, sobre o qual Paris só agora começou a falar publicamente, que ganha mais espaço no doc: seu período traumático de 11 meses na Provo Canyon School, uma instituição para "adolescentes problemáticos" para a qual foi enviada por seus pais, que tentavam afastá-la das festas de Nova York.
Paris relata que ela e os outros alunos do local eram submetidos a agressões psicológicas e castigos físicos, incluindo confinamentos solitários —algo pelo qual ela mesma passou. Ela deixou a instituição com 18 anos e só agora, 20 anos depois, se sentiu à vontade para falar sobre o assunto, com o apoio de antigas colegas que reencontrou durante a produção do documentário.
A sensação de finalmente falar sobre isso é de libertação.
Foi um grande peso que tirei dos ombros. Eu estava segurando essas emoções há muito tempo, então finalmente poder soltá-las e falar sobre elas foi muito empoderador, assim como encontrar essas garotas e saber que eu não estou sozinha.
Paris, a Splash
A gente conversou com Paris antes da estreia do filme, na sexta, mas ela já vinha recebendo várias mensagens de pessoas que passaram pelo mesmo. "Fui abordada por muitos outros sobreviventes, que estão contando suas histórias, e por pais, que estão tirando suas crianças da Provo por causa do que viram no trailer", conta.
Estou feliz que estou fazendo a diferença e que isso vai salvar as vidas das crianças. Eu tenho chorado lendo os recados incríveis que recebi de pessoas do mundo todo. Sou muito grata por todo o apoio que tenho recebido.
O documentário também permitiu a Paris finalmente falar sobre o assunto com sua família, já que o contato com eles era limitado na escola e, depois, ela não se abriu com eles. "Ainda não assistimos o filme juntos. Vai ser difícil e emotivo, mas eu sei que vai nos unir ainda mais", diz.
À revista "People", a Provo Canyon School afirmou que não poderia se pronunciar sobre o caso de Paris, já que a escola trocou de donos no ano 2000, após a passagem da empresária por lá.
Relacionamentos abusivos
Além dos abusos em Provo, que a deixaram com ansiedade e ataques de pânico, Paris também desabafa no documentário sobre os relacionamentos abusivos que vivenciou depois. "Eu queria tanto ser amada, que aceitava ser estrangulada e empurrada", conta, em uma cena.
E ela tem um conselho importante para quem está em uma situação semelhante:
Saia daí. Você não merece isso. Muitos homens tentarão te manipular para fazer você sentir que não vale nada e que você nunca mais vai conseguir ninguém, e tentarão fazer você não se amar porque eles querem controlar você. Então meu conselho é: conte para alguém, chame a polícia, fale sobre isso e se imponha, porque ninguém merece ser tratado assim.
Falar sobre tudo isso para as câmeras não foi fácil, mesmo com a relação de confiança que Paris e a diretora Alexandra Dean construíram ao longo de um ano de filmagens.
Eu estava muito acostumada a interpretar um personagem na TV, na minha carreira inteira. Ser eu mesma, me abrir, e basicamente abrir minha alma e ler um diário com as coisas que aconteceram na minha vida foi muito difícil
Mas Paris está feliz com o resultado e espera que, agora, muitas outras pessoas possam conhecer a Paris de verdade.
Estou animada para que as pessoas possam ver que eu sou um ser humano, que tenho sentimentos, que sou gentil, esperta, forte e posso superar qualquer coisa.