Gerson King Combo lutou contra o racismo e divulgou a arte da periferia
Do UOL, em São Paulo
23/09/2020 14h02
Hoje o Brasil ficou mais triste, branquelo e paradão na pista de dança. Gerson King Combo, rei dos bailes cariocas, morreu aos 76 anos no Rio. E é uma pena que muita gente só descobriu quem ele era depois de ser citado por Babu Santana em uma festa do último BBB. Pecado sem perdão, brother.
A importância de Gerson
Pioneiro do soul e funk no Brasil, ele é um dos grandes nomes da nossa música negra, ao lado de Tim Maia, Hyldon e Cassiano. Filho de um policial de Madureira, Gerson foi um dos maiores expoentes dos "Bailes da Pesada", que botaram a periferia para dançar nos anos 1960 e 1970.
Por influência dos lendários DJ's cariocas Big Boy e Ademir Lemos, esses bailes se destacavam por tocar hits do funk e soul americanos no Canecão e, depois, na zona norte do Rio. As festas, lendárias, lançaram MCs, cantores e aos poucos se espalharam pelo Brasil e viraram fenômeno cultural.
Ou seja, Gerson King Combo, ou o "James Brown brasileiro", astro dos bailes, ajudou uma música, uma arte e um estilo antes marginalizados a ganhar atenção da mídia e gravadoras. Um feito fenomenal.
Rei do underground
Vestido com chapéu, capa e com o punho em riste, Gerson era um monarca do funk que exultava a raça negra nas letras e falava de igual para igual com brothers e quem quisesse entrar na dança. Sua importância foi tão grande a ponto de influenciar Tony Tornado e o gênio Tim Maia.
Ele apareceu no final dos anos 60, após servir no Exército e desbundar com a Jovem Guarda. Gerson, por sinal, é irmão de Getúlio Côrtes, compositor de hits do gênero. Mas ele pirou mesmo foi com o estilo de James Brown, que inspirou seu primeiro álbum, "Brazilian Soul", lançado em 1970.
Mas ele só ficaria famoso mesmo depois de vários anos cantando em bailes e no underground. Principalmente depois de 1976, quando "Jornal do Brasil" publicou uma grande reportagem mostrando o que era o crescente e sacolejante movimento Black Rio.
Dali em diante, ele foi contratado pela Polydor e, produzido por Ronaldo Corrêa e acompanhado pela Banda União, lançou dois discos fundamentais da música black brasileira: "Gerson King Combo" (1977) e "Gerson King Combo - Volume II" (1978). Bíblias do nosso funk. Influentes do rap ao funk carioca.
Você sabia que, apesar de toda a influência de James Brown, o nome Gerson King Combo faz referência à banda norte-americana King Curtis Combo, do saxofonista de soul King Curtis (1934 - 2018)? Referência é tudo.
É motivo de muito orgulho ser respeitado pelos jovens de hoje. Hoje os jovens me cultuam, no hip hop. Também encontro o pessoal do Fundo de Quintal, do samba, e sou ovacionadíssimo. [O reconhecimento] É o maior presente
Gerson King Combo sobre sua influência
Ficou curioso sobre ele? Bem, boa parte da obra dele --lançou cinco discos e vários compactos-- está disponível a um clique no streaming. Então não perca tempo!
Aliás, nós, do Splash, recomendamos absolutamente TUDO que ele lançou. Aproveitando, separamos abaixo cinco músicas fundamentais para você curtir e entender melhor quem foi Gerson King Combo.
'Mandamentos Black' (uma aulinha do que foi o movimento Black Rio)
'Tenho um Vulcão Dentro de Mim' (uma espécie de 'melô' do sagitariano black)
'Melô do Hulk' (quando o geek e o funk se encontram)
'Jingle Black' (o Papai Noel antirracista que pedimos a Deus, brother)
'Funk Brother Soul' (classe, pura classe)
Viva o funk e viva Gerson King Combo, o rei que o Brasil merece!