Como vai ser a volta aos cinemas na pandemia? Nós testamos
De Splash, em São Paulo
01/10/2020 04h00
O momento de voltar ao cinema chegou. São Paulo deve reabrir as suas salas na próxima semana, assim que a cidade passar para a fase 4 (verde) da quarentena. Não há uma data oficial ainda, mas as grandes redes já estão prontas após um hiato de quase sete meses.
O que muda na experiência de ver um filme na telona?
Para ajudar a responder, Splash visitou uma das salas da rede da Cinépolis. Também consultamos outras duas grandes redes de cinemas da cidade, Cinemark e UCI, sobre os novos protocolos. Pouca coisa muda entre uma rede e outra, então a repórter que vos fala botou a máscara e foi a campo.
Pausa para um recado importante
A pandemia AINDA NÃO ACABOU. Embora a maior parte das cidades brasileiras já tenha flexibilizado bastante a quarentena, a covid-19 ainda é uma realidade bem dolorida no nosso país e todo o cuidado é o MÍNIMO que temos que ter ao sair de casa. Isto posto, ao checklist:
O que levei (e sempre levo) na bolsa:
- máscaras extras (pelo menos 2)
- lenço de papel ou umedecido
- álcool gel (nunca é demais)
- saquinho (para guardar as máscaras limpas e a usada)
Chegando ao cinema
Você vai dar de cara com um totem enorme ou uma tela destacando os protocolos de reabertura. Não tem como não ver e não custa nada dar uma lida nas orientações. Afinal, do que adianta um monte de regra se ninguém cumprir direito? A palavra de ordem para uma experiência segura é COLABORAÇÃO.
Antes disso, sua temperatura já terá sido aferida. Se for em um cinema de shopping, os mais comuns em SP, isso terá acontecido na entrada do estabelecimento. Já os cinemas de rua vão medir a temperatura dos frequentadores na porta. Mais de 37,8ºC? Volte para casa (não deveria nem ter saído, né?).
Comprando o ingresso
O ideal é que você compre o ingresso online antes mesmo de ir para o cinema. As bilheterias físicas estarão liberadas, mas quanto menos contato, melhor. No Cinemark, só compra direto na bilheteria quem for usar dinheiro. Na hora de entrar, basta exibir o ingresso no papel ou no celular, à distância.
Autoatendimento
As máquinas de autoatendimento são outra opção. As da Cinépolis estarão funcionando com distanciamento. Uma ligada, outra não. Na bilheteria, mesmo esquema. Um caixa sim, outro não. Preferência por pagamento com cartão ou aproximação e tela de acrílico nos caixas ativos são uma proteção extra.
Pode sentar junto?
Sim! Mas vai rolar distanciamento entre um grupo e outro dentro da sala de cinema e o espaço estará limitado a 60% da lotação. Você só senta junto de quem está no mesmo grupo. Poltronas compradas, as que estão em volta são bloqueadas. Quer sentar junto? Compre com antecedência!
A pipoca tá liberada! Mas alimentos e bebidas só poderão ser consumidos quando você já estiver sentado dentro da sala e distante dos outros. Afinal, tem que tirar a máscara. A Cinépolis adotou uma embalagem fechada. Assim você carrega a pipoca pela alça e só abre mesmo quando já estiver acomodado.
Antes de o filme começar, mais um lembrete. O aviso de silêncio, segurança e para desligar o celular vem agora acompanhado também de um outro vídeo com as novas regrinhas de higiene. Máscara, álcool em gel, distanciamento e atenção redobrada aos avisos dos funcionários do cinema a cada sessão.
Banheiros com controle
Bateu aquela vontade de fazer xixi no meio da sessão? Não tem problema. Só não esquece da máscara, ela é obrigatória para circular pelo cinema. A entrada nos banheiros será controlada para não rolar filas ou aglomeração. E lá dentro algumas pias também estarão interditadas.
Lave as mãos!
Eu sei, a maior insegurança das pessoas é ir a um ambiente fechado. A minha também. Embora a gente nunca tenha se ligado nisso, o sistema de ar condicionado dos cinemas é igual ao dos aviões. O ar entra por um duto, sai por outro, e se renova. Além disso, as redes potencializaram a higienização.
Funciona assim:
Não tem janela, mas tem silêncio. A troca de saliva (com exceção dos casais) é quase nula no cinema. Ou seja, se todo mundo colaborar você estará bem protegido das temidas gotículas que carregam o vírus. Lembra do lencinho que recomendei? Se precisar tossir ou espirrar, é educado usar um deles.
Fim de sessão. Certifique-se que está com a máscara no rosto e espere o comando de um funcionário do cinema. Eles vão orientar a saída fileira por fileira para evitar aglomeração. Cartazes e totens nos corredores também estão banidos. Tudo para evitar aquela galera se juntando para tirar fotos.
O intervalo entre as sessões também vai ser esticado. Será necessário entre 20 e 30 minutos para que os funcionários tenham tempo de higienizar todas as poltronas utilizadas, corrimões, mesas, porta copos e todas as superfícies de contato entre uma sessão e outra.
Vai ter lançamento?
Sim! Várias salas já reabriram em outras cidades, mas a abertura dos cinemas em São Paulo era muito aguardada pela indústria, já que é aqui o maior mercado do país. A volta deve esquentar o calendário de lançamentos que as distribuidoras estavam segurando para o momento propício.
É seguro ir ao cinema?
Essa é uma decisão muito pessoal. Ninguém vai te obrigar a sair de casa, mas confesso que eu me senti segura voltando ao cinema. Só me preocupa a colaboração do público, que é essencial para que funcione com segurança. Viu alguém desrespeitando as regras? Avise com educação.
Unidas no movimento Juntos Pelo Cinema, as redes consultaram especialistas e desenvolveram um protocolo que consideram seguro tanto para seus colaboradores quanto para os frequentadores. O Cinemark conta com o respaldo do Hospital Israelita Albert Einstein, que validou os protocolos de segurança.
Splash ainda ouviu a opinião de dois médicos infectologistas sobre o retorno aos cinemas neste momento. Veja o que eles disseram:
Evaldo Stanislau
Médico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e diretor da Sociedade Paulista de Infectologia
Há uma queda de casos, o que indiretamente significa menor circulação viral. Mas menor não significa zero. Ou seja, a depender do comportamento e exposição de vulneráveis os casos podem voltar a crescer de forma consistente. É possível que possamos avançar, MAS com algumas prerrogativas.
E ele prossegue:
Os sistemas de ar com exaustão em teoria são ok. Mas há fiscalização? Se, sim, ok. Se não, melhor adiar. Outra questão é comportamental. Se às claras as pessoas usam máscara incorretamente e se aglomeram, imagina às escuras? Portanto, em teoria, seria possível. Na prática, pode ser perigoso.
Entendido, Evaldo, qual a sua conclusão?
Pessoalmente, infelizmente, seguirei longe dos cinemas. Evaldo Stanislau, médico infectologista
Estêvão Urbano
Diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia e membro do comitê de enfrentamento ao covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte
O sistema de ar pode ser tratado e diminuir os riscos, mas não acaba com eles. Por ser um local fechado, se houver UMA pessoa infectada esse ar pode seguir um fluxo de contaminação. Não existem estudos que garantam isso, mas sabendo da forma de transmissão do vírus não há garantias de segurança.
A volta aos cinemas pode voltar a gerar aumento no número de casos?
O cinema é um dos setores que mais sofreu com a pandemia e precisa voltar, mas nós não podemos colocar vidas em risco. O contágio pode acontecer e gerar internações, e até óbitos, e ninguém vai ligar isso a uma ida ao cinema. Mas conhecendo a forma de transmissão do vírus, é certo isso pode ocorrer.
E o que o senhor acha da reabertura das salas de cinema?
Embora respeite opiniões contrárias, esse tipo de situação é das mais arriscadas e nós deveríamos aguardar a vacinação. Estêvão Urbano médico infectologista