Músico do Biquíni, sobre show do Van Halen: 'Fiquei surdo por uma semana'
Eddie Van Halen não pode ser comparado a outros guitarristas, pois é único.
Um músico revolucionário que criou técnicas fantásticas que só poderiam ser compreendidas se você o visse tocando, só de ouvir era impossível. Seu som de guitarra foi incrivelmente inovador, e calcado nele a sua banda se consolidou na história.
Preciso falar mais? Preciso.
Seu visual e presença de palco eram hipnotizantes. Mais? Sim, fez uma ponte inédita entre o rock e a black music com o solo de guitarra de "Beat It", de Michael Jackson, considerado o melhor do século. Acabou? Não, um dos riffs mais conhecidos de teclado foi ele que criou: "Jump!".
Em 1983, tive o prazer de vê-lo no Rio, numa época em que pouquíssimos artistas internacionais traziam suas turnês ao Brasil. Tudo era uma grande novidade, até o ingresso desbotado com a foto da banda. Fui de ônibus com vários amigos, todos nós na faixa dos 16 anos de idade. Andamos muito e chegamos num Maracanãzinho lotado, que não estava acostumado com grandes eventos, uma fila enorme para entrar, fila para ir ao banheiro e outra maior ainda para comprar cerveja quente. Mas nada importava. Iríamos assistir ao Van Halen.
As luzes se apagaram e vários baseados foram acesos. Tudo era emocionante e novo... a iluminação, o palco, tudo. Com suas roupas sempre muito coloridas, seu eterno sorriso e seus pulos, a energia que emanava de Eddie Van Halen e da banda era inacreditável, mas mais ainda era o volume do som. Enrolei minha camisa na cabeça para proteger os ouvidos e mesmo assim fiquei surdo por uma semana. Saí de lá impregnado por uma alegria que duraria dias. Inesquecível!
Pouco tempo depois, em 1985, o primeiro cantor da banda, o excelente showman David Lee Roth saiu do grupo. Uma das principais razões para terem conseguido sobreviver à saída dele foi ter Eddie Van Halen na guitarra. Não só sobreviveu, mas cresceu muito com a entrada de Sammy Hagar no vocal. O estilo mudou bastante e o Van Halen foi por anos a maior banda americana fazendo fantásticas apresentações em arenas lotadas.
O Van Halen não teve a mesma sorte depois da saída do segundo vocalista, em 1996, e acabou logo depois com apenas um álbum lançado com o terceiro cantor, Gary Cherone. Ainda houve turnês com David Lee Roth e um revival com Sammy Hagar, mas a banda não conseguiu ter o mesmo sucesso.
Em 2015, fui ao show da banda em Miami, numa das idas e vindas com David Lee Roth no vocal e com o filho de Eddie, Wolfgang Van Halen, no baixo. Pensei durante toda a apresentação em como seu filho estaria se sentindo ao lado do pai, um gênio absoluto. Qual o tamanho do orgulho dele podendo perceber, do palco, a importância do pai na vida de tantas pessoas?
Já li muito sobre ele, sua iniciação musical no piano aprendendo a tocar música clássica só olhando para a mão do professor. Construía e pintava suas próprias guitarras. O último CD que comprou foi em 1986 e que a única música que ouvia era a que estava fazendo no momento. Chegou a trocar de instrumentos com o irmão, que originalmente tocava guitarra mas estava sempre tocando a bateria que era dele. Um dia, cansado disso falou:
Ah, fica com a minha bateria e me dá essa guitarra
Simples assim.
Para mim, como guitarrista, ter estado vivo na mesma época em que ele e acompanhar suas criações foi uma experiência única. Hoje, ver suas fotos e todas as palavras que os maiores músicos e artistas estão escrevendo e falando sobre ele podemos perceber o tamanho do seu legado. Sua fama e reconhecimento, que já eram enormes, só aumentarão. Em conversas de guitarristas sempre foi colocado no mesmo patamar que Jimi Hendrix. Ele vivo já estava num patamar de idolatria que artistas só atingem depois de mortos.
Eddie Van Halen não morreu, agora viverá eternamente na forma da sua arte.
Obrigado pela sua existência e por nos ter dado tanto.
Carlos Coelho é guitarrista e compositor da banda Biquíni Cavadão e escreveu este texto especialmente para Splash.
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