Lisa Gomes quer ser a primeira jornalista trans na bancada de um telejornal
Repórter do "TV Fama", da Rede TV!, há sete anos, Lisa Gomes aproveitou o período de isolamento social para investir no seu canal do YouTube, "Lisa, Leve e Solta". Nela, ela aparece entrevistando muitos famosos, o que faz com que sonhe alto ao planejar seu crescimento profissional.
Quero ser a primeira jornalista transexual a sentar na bancada de um telejornal, e acho que isso seria muito importante para todos nós.
Lisa começou como repórter drag da Rede TV!. Lá, passou pelos programas de João Kléber e Sônia Abrão, até se fixar no "TV Fama". "Quando pedi oportunidade para algumas pessoas, não tive portas abertas em muitos lugares. Bati em todas as emissoras, e a única que me deu a oportunidade foi a Rede TV!."
Comecei como uma web drag e fui me desconstruindo. O diretor me chamou para conversar e falou que queria uma mulher trans para fazer matérias policiais, de saúde e entretenimento. Topei. Me desconstruir como drag queen foi muito difícil. Aos poucos, me adaptei ao programa e à nova imagem.
Pernambucana, Lisa vive em São Paulo há 18 anos, onde inicialmente tinha a intenção de investir no teatro. Fez cursos, mas entrou em conflito quando percebeu que não se identificava mais com personagens masculinos. Foi então que deu uma pausa e iniciou seu processo de transição.
"Sonho em atuar em uma novela. Comecei no teatro, quero que as pessoas me vejam como atriz. Iniciei como ator, mas não estava feliz naquele momento. Agora, sim, posso atuar da forma que sempre desejei. Como mulher será diferente a minha vida. Estou em outra época e muito bem resolvida."
Casamento e sonho de filhos
Lisa é casada com seu empresário, Paulo Roberto. Os dois se conheceram em um show do cantor Roberto Carlos e estão juntos há dois anos. A jornalista diz que sonha em ter filhos.
Ele já tem três filhos, quero ter uma filha. Adotar uma criança agora será complicado, mas meu maior sonho é ser mãe. Quero dar uma neta para meus pais e espero que eles se divirtam muito com isso.
'Fiquei muito retraída'
Na adolescência, Lisa passou por conflitos que atingem jovens em situação semelhante à sua. "Fiquei muito retraída porque via amigos gays, mas eram diferentes de mim. Eu queria ser mulher.
Veja fotos de Lisa Gomes
Ela conta que chegou a ficar com meninas, sendo pressionada pela família, antes de se descobrir transexual. "Nunca fiz sexo com nenhuma mulher, nunca senti prazer com mulheres. Lembro que fiquei com essa menina na adolescência, e falei: 'Não consigo, não quero'."
Fui muito pressionada a ficar com meninas para provar que eu era o machão da família, e isso para mim era terrível, me fazia muito mal. Sempre senti atração por meninos, nunca foi diferente.
Transição
Após se reconhecer transexual, Lisa fez a transição lentamente. "Depois de um bom tempo, minha mãe veio a São Paulo me visitar e começou a notar minha mudança. Ela voltou para Recife, mas ficou com aquilo na cabeça e só um tempo depois que veio conversar comigo."
"Minha mãe me ligou e falou que havia assistido a um documentário sobre crianças trans e que eram todas iguais a mim. Fiquei em choque, não esperava que ela fosse atrás dessas informações. Ela me pediu perdão porque sempre me tratou como gay."
Depressão
Em conversa com a mãe, ela falou que sempre foi mulher, só que nasceu no corpo errado. "Fiquei muito depressiva, mal. Ela quis me ajudar e acompanhar toda a minha transição. Minha mãe falou: 'A partir de hoje, eu tenho uma filha e vou ser sempre sua mãe, vou estar sempre ao seu lado'."
Pelo pai, a aceitação demorou um pouco mais, mas Lisa diz compreender o receio dele em ter um filho transexual em um mundo tão preconceituoso. "A discriminação é muito grande. Nós somos apedrejados todos os dias, no olhar torto, na forma de falar. Infelizmente, a realidade é essa."
Rótulos
Apesar de se dizer grata e de celebrar a representatividade na TV, Lisa quer ser reconhecida por sua profissão. "É muito ruim ser rotulada. Fujo disso. Quando falam que sou a repórter trans da Rede TV!, digo que sou Lisa Gomes, repórter, mulher e ponto. Isso é ruim para a classe LGBTQ+."
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