O que foi a 'Rockonha' da letra de 'Faroeste Caboclo', da Legião Urbana?
Jeremias, maconheiro sem-vergonha organizou a ROCKONHA e fez todo mundo dançar
Trecho de "Faroeste Caboclo", escrita por Renato Russo, que morreu há exatos 24 anos
Você que cantou este "hino" escrito por Renato Russo já se perguntou que diabos é a tal "rockonha" citada na quilométrica letra? Tudo bem, muitos não fazem ideia, mas Splash te explica: Rockonha foi uma festa histórica regada a, claro, rock e maconha, que aconteceu há 40 anos no Distrito Federal.
Ela foi um acontecimento na época, reunindo filhos de funcionários públicos, profissionais liberais e até militares. Rolou em uma chácara em Sobradinho (DF) a 18 quilômetros ao norte da capital, Brasília, no dia 30 de agosto de 1980. Umas 500 pessoas apareceram para brisar e curtir numa boa.
Mas aí a polícia apareceu e acabou com a 'brincadeira'
Uma ação conjunta das polícias Federal e Militar do Distrito Federal com a Delegacia de Menores e Detran mal deixou a festa começar. Resultado: centenas de pessoas foram detidas em flagrante e levadas ao quartel da Polícia Militar em Sobradinho. Eram tempos de repressão.
A tocaia foi bem feita. Usaram fogos de artifício pra atrair convidados. Os que iam chegando já eram abordados pelos policiais, revistados e detidos. Foram por volta de 300 prisões, incluindo vários menores e muitas meninas, que foram humilhadas pelos policiais.
Perfil da banda Aborto Elétrico
Na hora da batida, houve quem tentasse escapar para o mato, em meio a plantações, e só sair no outro dia de manhã. Entre os que "dançaram", como diz a letra dúbia de "Faroeste Caboclo", estavam os futuros músicos famosos Renato Russo, Dado Villa-Lobos, Geraldo Ribeiro e Fê Lemos.
Como a polícia conseguiu rastrear a "festa da ilegalidade"? Fácil. Tinha convite
Celular? Não existia, né. A divulgação rolava pesadamente no boca a boca. No mesmo dia, a notícia da festa de arromba se espalhou por telefone e bares, onde os convites foram distribuídos. Um deles, o famoso bar Beirute, localizado na 109 Asa Sul, em Brasília.
Este aqui
Oficialmente, aconteceram duas edições da Rockonha (mas há relatos de três). A primeira foi pequena. A segunda, a que entrou para a História. Os convites, aliás, eram impressos em papel de seda, os mesmos usados para enrolar baseados, e contavam com um mapinha no verso indicando o local.
Local aproximado de onde rolou a Rockonha
Quem foi preso na ação policial —teve gente que foi humilhada e ficou sem roupa— acabou fichado pelo governo militar, que usava o currículo de candidatos para impedir contratação em cargos públicos. Teve isso! E durou até o fim da ditadura.
Esse fichamento generalizado me fez lembrar uma música
Um documento oficial da Inteligência do Exército descreveu a Rockonha como "um encontro de viciados e traficantes de tóxicos". E o "Fucking Sound" (som "fodido", ou seja, um "som muito bom") impresso nos convites foi "traduzido" pelos oficiais como "ato sexual com som".
Democracia e inglês não eram o forte dos militares.
Menores e filhos de militares eram separados. E todos foram encaminhados em ônibus fretados para o quartel. Alguns adultos foram liberados. Nós fomos transferidos para o juizado de menores e só saímos na companhia dos pais com o dia claro.
Diz um jovem que esteve na Rockonha
No fim da história, uma dúvida. Teria sido mesmo o Jereminas, "maconheiro sem-vergonha", que organizou a Rockonha? Não, ele era só um personagem. O organizador foi o filho de um médico ortopedista dono da chácara em Sobradinho. O jovem até depôs e disse desconhecer uso de drogas na propriedade.
Ele não ia dar bandeira, né? Aliás, dá pra ver um pouco da Rockonha no filme "Faroeste Cabloco" (2013).
É a festa em que o Jeremias (Felipe Abib) se altera e diz que a rockonha é dele. Lembra?
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