Raissa em 'A Fazenda': por que Record pode estar brincando com fogo
De Splash, em São Paulo
15/10/2020 04h00
Raissa Barbosa voltou a chamar a atenção do público ao perder o controle com Carol Narizinho em "A Fazenda 12". Tem gente que acha que o jeito estourado é natural da modelo. Outros acreditam que ela faz tipo. E qualquer dessas possibilidades pode ser verdadeira.
Mas há um fator que precisa ser levado em conta no caso de Raissa:
ela já foi diagnosticada com transtorno borderline.
Eita!
Raissa e Carol começaram a discutir por algo aparentemente banal, mas a divergência de opiniões cresceu, e o barraco foi grande. A ponto de a modelo sair correndo, pulando de cama em cama, gritar, esmurrar a porta e chutar uma cadeira.
A Record sabe?
Splash conversou com Cacau Oliver, empresário e assessor de Raissa. Ele confirma que a peoa avisou a Record sobre o diagnóstico de borderline, mas não soube informar se ela está fazendo uso de medicamentos no reality. Procurada, a emissora não se manifestou.
O que para muitos pode parecer um descontrole ou uma fraqueza, na verdade é uma luta que Raissa tem contra seu maior oponente: ela mesma.
Cacau Oliver, agente
Do Miss Bumbum para 'A Fazenda'
Foi Oliver quem descobriu Raissa, no Miss Bumbum de 2017, e a indicou para "A Fazenda". A equipe dele decidiu falar publicamente sobre o borderline porque a peoa já havia se manifestado sobre o assunto antes de entrar no reality show.
O que é borderline?
É um transtorno de personalidade, que apresenta os seguintes sintomas:
- dificuldade nas relações interpessoais;
- instabilidade afetiva;
- impulsividade (comportamentos auto-destrutivos).
- raiva intensa, humor instável;
- variação na cognição;
- sentimento crônico de vazio.
É um jeito de ser no mundo que traz sofrimento tanto para a pessoa quanto com quem ela convive. Como é da personalidade, é bem diferente de uma depressão ou de uma ansiedade.
Cristina Saavedra, médica psiquiatra
Ataques de fúria
A treta com a ex-panicat aconteceu após outros momentos de grande estresse protagonizados por Raissa. Os principais foram:
- Jogou água na cara de Biel, após se decepcionar com os votos recebidos pelos homens,
- Jogou creme em Cartolouco, Biel e Juliano Ceglia.
Reality e borderline: uma combinação delicada
De acordo com a especialista Gabriella Nerici, o confinamento pode contribuir para uma piora no estado de saúde de alguém que tem borderline. Segundo ela, é um ambiente em que os participantes são submetidos a muita pressão.
A pessoa que sofre de borderline tem dificuldade para controlar seus impulsos, apresenta mudança de comportamento e humor. O ambiente do reality se torna propício para que ela tenha um surto e se desestabilize, mesmo medicada.
Gabriella Nerici, psicóloga Mestre pela Universidad La Serena (Chile)
Apoio dentro do reality
Geralmente, depois dos momentos de explosão, Raissa chora e é consolada pelas amigas. Até hoje ela não contou para os colegas de reality sobre o diagnóstico. Antes de entrar no programa, no entanto, disse que estava bem em quarentena.
A quarentena me deixou com oscilações de humor um pouco mais tranquilas, pois parece que o contato social me faz ter mais raiva e mudanças de humor repentinas. Depois começam as angústias, preocupações e medos. Achava que estava bem e do nada me sinto mal novamente.
Raissa Barbosa, modelo
A psiquiatra Cristiana Saavedra ressalta que em qualquer lugar de convívio social uma pessoa borderline está vulnerável:
"Uma hora está amando muito e na outra sente ódio. Em um confinamento, todos os sintomas de medo de abandono, rejeição, ficam mais intensos".
O que acontece sem o uso dos medicamentos?
O tratamento da modelo é com medicação, acompanhamento psicológico e exercícios. Não se sabe se a modelo está fazendo uso dos medicamentos dentro do reality show. Mas quais seriam os riscos de não usar a medicação indicada?
Os sintomas podem ficar mais acentuados. O sofrimento da pessoa aumenta. Cada paciente reage e sintomatiza o transtorno de forma pessoal. Mas a falta do medicamento pode gerar ideias suicidas, agressividade, depressão e perda da percepção da realidade, entre outros.
Gabriella Nerici, psicóloga
Sabe a Débora?
Raissa e todos os demais peões contam com auxílio de uma psicóloga (a Débora): isso é fundamental para a modelo.
"A medicação ajuda, mas o que desestabiliza mesmo é a falta da psicoterapia, que é intensa nesses casos por conta da instabilidade do humor", diz a psiquiatra.
Em paralelo, o trabalho com o psicólogo permitirá ao paciente compreender como ele mesmo funciona, para aprender a se relacionar de forma mais estável e satisfatória com ele mesmo e com o outro. Trabalhamos as questões que vão surgindo no dia a dia.
Gabriella Nerici, psicóloga
A pergunta que fica é: até que ponto pode ser considerado entretenimento assistir a crises nervosas de uma pessoa com diagnóstico de borderline?
É uma exposição desnecessária de uma fragilidade e de uma patologia. As pessoas sempre vão achar engraçado.
Cristina Saavedra, médica psiquiatra
Ao mesmo tempo...
Raissa tem o direito de participar do reality show como qualquer pessoa, mas deve ter acesso a cuidados específicos para o seu bem-estar e dos demais participantes. Cristina Saavedra observa:
Não sabemos como estão lidando com ela lá dentro. Se tiver apoio de psicoterapia, medicação, ela pode concorrer ao prêmio. Minha preocupação é arriscar que ela se agrida ou agrida alguém. Se estiver um apoio por trás ok, mas se não tiver nada a Record está brincando com fogo.
No podcast UOL Vê TV desta semana debatemos sobre a explosões de Raissa e os limites do entretenimento. Assista logo abaixo: