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Primeira dupla sertaneja queer estreia domingo no Fivela Fest

A dupla Mel e Kaleb Divulgação

Colaboração para Splash, em São Paulo

16/10/2020 12h00

Depois da invasão do feminejo, agora é a vez das vozes LGBTQIA+ buscarem seu espaço na maior indústria da música brasileira.

Queernejo é o movimento que reúne artistas que trazem vivências e sonoridades caipiras e sertanejas, mas com identidades e temas que fogem do padrão "balada hetero top".

Neste domingo (18), a partir das 15h, começa o Fivela Fest, 1º festival queernejo do Brasil. Serão 7h de shows e debates no YouTube com Gabeu, Gali Galó, Alice Marconi, Bemti, Reddy Allor, Zerzil e uma atração que Splash revela com exclusividade: a primeira dupla sertaneja LGBTQIA+, Mel & Kaleb.

A banda que acompanha Mel e Kaleb Imagem: Divulgação

Eles s foram convocados por Naíra Debértolis, da banda Mulamba, para dar voz às canções que começou a compor no início deste ano. Além de autora das músicas, Naíra é empresária da dupla e toca violão na banda que os acompanha: Érica Silva, guitarrista da Mulamba no baixo, e da baterista Nicolly.

O sangue sertanejo está em mim: é um estilo que amo. A invisibilidade da identidade de gênero e da orientação sexual, nas composições e no conceito estético, me fizeram chegar a este projeto. Escolhi a Mel e o Kaleb pela versatilidade musical e pela militância no movimento LGBTQIA+. Naíra

Caminhoneiras e caubóis v1ad0s

A estreia de Mel & Kaleb é a cereja de um bolo que vem sendo preparado há tempos. Anunciado em 2019, durante a SIM-SP, o Fivela Fest planejava uma festança presencial, que a pandemia acabou adiando e transformando no encontro virtual.

Mais do que similaridades na música que produzem, o que une os artistas do queernejo é uma narrativa comum de falta de identificação e pertencimento. São jovens que sempre se viram deslocados por desviarem dos padrões estéticos nos bailões do interior desse Brasil e começaram a se reconhecer.

Fiquei anos na música indie, que era onde tinha espaço para música LGBTQIA+. Mas quando descobri que o que queria mesmo era cantar sertanejo e conheci o Gabeu, pensei: 'Nossa, tem mais uma pessoa aqui fazendo uma coisa parecida com o que quero fazer! Gali Galó, uma das idealizadoras do Fivela Fest

Gabeu é filho de Solimões (da clássica dupla com Rionegro). Os singles do "príncipe do pocnejo" reverenciam a tradição da música caipira, mas miram em horizontes pop, mais exuberantes e provocativos. Seu perfil no Instagram se tornou um lugar de acolhimento e amplificação de outras vozes LGBTQIA+.

Por mais que eu tenha todo o apoio do meu pai, e tenho muito a agradecer por isso, também estou muito conectado com o cenário musical independente. Então, me sinto responsável por fazer das minhas redes esse espaço. Não faz muito sentido querer trilhar isso sozinho. Gabeu

Talvez você a conheça como jurada de "Born to Fashion", do E!. Alice Marcone é cantora, atriz, roteirista e a primeira mulher trans a se lançar na música sertaneja. Em seu primeiro vídeo, "Noite Quente", ela faz par romântico com um lobisomem interpretado pelo ator Thomas Aquino, de Bacurau.

Além de apresentar sua música, ela também participa das conversas que integram a programação. Os papos acontecem entre os shows e discutem o espaço de mulheres, masculinidades, transgeneridade e negritude no sertanejo.

Alice, inclusive, tem uma playlist ótima para quem quer conhecer o legado caipira negro.

Quando conheci a Reddy, nem tinha lançado minha primeira música ainda. A gente pode dizer que ela lançou a primeira música de queernejo da história. Logo depois, lancei 'Amor Rural', conheci a Alice, ela me falou dos projetos dela; aí veio a Gali e começamos a pensar o festival. Gabeu

Reddy Allor é a veterana do grupo. Aos 12 anos, estreou em dupla com o irmão mais novo, com quem gravou um EP como Guilherme e Gabriel. Nos últimos anos, decidiu se aventurar como a primeira drag queen cantando sertanejo universitário. Sua estreia solo, "Tira o Olho", saiu no início de 2019.

O Gabeu já conhecia a Reddy, trouxe a Alice. Eu trouxe o Bemti, que já tinha me procurado para falar sobre viola caipira. A Naíra comentou da vontade dela de participar também... Foi um processo muito louco de enquanto a gente conhecia uns aos outros, a gente também se reconhecia. Gali Galó

Bemti é mineiro, da Serra da Saudade, e baseia seu pop confessional na viola caipira e nas doces harmonias sonoras de sua terra natal. Com temáticas abertamente gays, as canções de seu disco de estreia, "era dois", oscilam entre a delicadeza e o drama e fazem juz ao apelido "queer folk".

E até "Old Town Road", o sucesso de Lil Nas X que liderou e confundiu a parada country norte-americana ano passado, entrou na festa queerneja! "Garanhão do Vale", versão gay e brasileira do hit, já rendeu mais de 140 mil plays para Zerzil.

Fivela Fest

Quando - Domingo, 18 de outubro, das 15h às 22h
Onde - YouTube do Fivela Fest
Quanto - Gratuito

Shows

  • Zerzil
  • Reddy Allor
  • Bemti
  • Mel & Kaleb
  • Gali Galó
  • Alice Marcone
  • Gabeu

Mesas

  • Masculinidade no Sertanejo
  • Mulheres nos Bastidores do Sertanejo
  • Transgeneridades no Sertanejo
  • Negritudes no Sertanejo

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