Barbie, olha isso aqui: por que esse adolescente ama se transformar no Ken?
O brasileiro Filipe Máximo (conhecido como Felipe Adam), de 17 anos, já virou notícia por querer fazer mais de 40 plásticas para virar o boneco Ken, namorado da Barbie. Calma! Ele sossegou e não vai fazer cirurgia tão cedo, mas ainda se maquia por horas para ficar parecido com o personagem.
Splash teve autorização da mãe do garoto, Edna Brito de Oliveira, para conversar com ele e publicar esta reportagem; consciente das preocupações dela, Felipe tem repensado o sonho de fazer as cirurgias.
Eu uso alguns truques, como o queixo marcado. A maquiagem me deu a chance de expressar o que tinha dentro de mim. Sou apaixonado por intervenções cirúrgicas, mas sou muito novo. Pretendo ter acompanhamento de um psicólogo e me analisar para ver se realmente quero fazer todas essas cirurgias.
Life in plastic, it's fantastic?
"A vida em plástico é fantástica", diz a música "Barbie Girl" da banda Aqua, mas a verdade é que sonhos inusitados como o de Felipe podem oferecer alguns riscos à saúde física e mental.
Afinal, o que leva alguém a querer ser o Ken?
Depende.
De acordo com o psiquiatra Eduardo Perin, casos como esse podem ou não ter a ver com o transtorno dismórfico corporal, que faz a pessoa enxergar defeitos inexistentes no próprio corpo. Mas, a Splash, Felipe afirmou que se sente bem com seu rosto e realmente só gosta muito do Ken.
A Barbie também gosta!
Michael Jackson queria se transformar em Diana Ross, mas isso não faz tanto parte do transtorno de dismorfofobia. Quando a gente tem um ídolo, muitas vezes quer ter características dele, como cabelo ou roupa. Algumas pessoas levam isso ao extremo.
- Eduardo Perin, psiquiatra
O bullying na infância pode ser um fator importante. A procura por um símbolo como o Ken (ou um ídolo humano) é uma busca pela própria identidade.
Desde pequeno, quando eu assistia aos desenhos da Barbie, eu ficava encantado com tanta perfeição. No começo da adolescência, no colégio, eu sofri bastante bullying e comecei a ter ainda mais curiosidade sobre o boneco Ken.
- Felipe
Todo "Ken humano" é julgado pela sociedade, mas Felipe faz questão de dizer que é um adolescente batalhador: já trabalhou como faxineiro, jardineiro, garçom, pintor e ajudante de pedreiro, entre outros.
Esse é Felipe sem a maquiagem de Ken:
A vida do boneco Ken não é fácil. Sempre levo alguma bolsa para carregar meus looks favoritos e maquiagem para retoques durante o dia. Se tenho algum compromisso às 7h, acordar quatro horas antes não é fácil.
- Felipe
Ainda tenho vontade de fazer as cirurgias, mas levo muito em consideração a saúde! O que me fez repensar foi a família e os amigos que me amam. Quero procurar um psicólogo para digerir essa responsabilidade, me enxergar com outros olhos e procurar cada vez mais me sentir melhor apenas com maquiagem.
O adolescente sabe que receber acompanhamento psicológico é uma boa —não só para ele, mas para todas as pessoas deste mundão—, mas a sua vontade de se maquiar como o Ken não é, por si só, um transtorno psiquiátrico. Nem todo hobby atípico é uma doença, e cada caso é um caso.
A diferença entre o que é transtorno psiquiátrico ou não: essa característica interfere na rotina, na profissão, nos estudos e nas relações sociais? Se ele tiver um prejuízo decorrente dessa mudança, a gente falaria de algo mais obsessivo, algo mais no caminho de um perfeccionismo.
- Eduardo Perin
A mãe de Felipe Adam, Edna Brito de Oliveira, já ficou muito preocupada com a vontade que o filho tinha de passar por cirurgias estéticas, mas o medo dela o convenceu a relaxar nesse sentido. Porém, ela não vê problema no hobby de maquiagem do filho e até o ajuda a comprar os produtos.
Ele tem meu total apoio [com as maquiagens], eu sempre o ajudo a comprar alguns cosméticos. Eu sempre estou do lado do meu filho e desejo que ele seja feliz... O que me preocupa é a quantidade de intervenções cirúrgicas que ele pretende fazer e os riscos das cirurgias.
- Edna, mãe do jovem "Ken"
E se eu quiser fazer trocentas cirurgias e virar a Barbie?
Nessa hora, o aconselhamento médico precisa entrar em cena. O cirurgião plástico Wendell Uguetto, do Hospital Albert Einstein, diz que é preciso impor limites ao paciente. Ainda mais quando ele é muito jovem ou tem um objetivo inalcançável.
Essa perfeição buscada não existe. Procedimentos podem ter sequelas, como necrose de pele, e riscos emocionais. Ficar parecido com um boneco é inatingível: nunca vai ficar. Junta problemas físicos e psíquicos. Eu falo muito 'não', mando colocar a cabeça em ordem.
- Wendell Uguetto, cirurgião plástico
Aliás, existem Barbies humanas?
A casa delas é o Instagram. Wendell acha até que as Barbies são maioria em comparação aos Kens, mas os homens chamam mais a atenção pela raridade. A pressão para parecer perfeito atinge todos, mas a Barbie é gente boa e com certeza quer que a gente se ame, tá?
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